Pesos-pesados em jogo

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Nas últimas semanas consumou-se o que parecia impensável: todos os principais rostos da informação televisiva em Portugal, todos mesmo, repartem hoje o seu tempo entre os noticiários em canal aberto e os noticiários ou programas especiais nos canais de cabo.

A TVI foi a primeira a fazê-lo. José Alberto Carvalho e Judite Sousa, que já apareciam regularmente na TVI24, dão agora a cara, a par de Pedro Pinto, pela 21.ª Hora num modelo híbrido, mas aparentemente eficaz, em que o conteúdo (e o pivô) começam de um lado, o da TV aberta, e migram depois para o cabo.

A RTP veio a seguir. Com o relançamento do canal de notícias, José Rodrigues dos Santos e João Adelino Faria também passaram a alternar no 360 que é na essência um espaço de debate na RTP3.

Na última semana foi a vez da SIC que, na verdade, foi sempre a mais resistente. Rodrigo Guedes de Carvalho conduziu o Jornal das 9 com a marca que só os seniores lhe dão e que é visível, por exemplo, na exemplar moderação dos frente-a-frente.

Mas, esta originalidade portuguesa - mais uma - é boa ou má? Antes de mais pode revelar a velha e muitas vezes tacanha tendência do "aproveitamento dos recursos". Se esse for o único, ou mesmo o principal critério, é um erro. Mesmo em tempo de fragmentação de públicos o apresentador do principal noticiário do canal - que fala todos os dias para mais de um milhão de pessoas - é uma vedeta televisiva ou, para ser mais rigoroso, uma figura de primeira linha que devia ser preservada e não desgastada a fazer produtos iguais no canal de cabo. Programas especiais sim, noticiários não.

É certo que a colocação das peças principais no tabuleiro ocorre num momento de forte concorrência entre os canais no cabo e as direções entendem que devem usar os seus melhores recursos. Usá-los, com certeza, banalizá-los não.

Um outro elemento de reflexão prende-se com a importância que a informação como género continua a ter em sinal aberto - ou seja para o grande público.

Com três milhões e meio de pessoas, em média, a consumirem informação no pico do horário nobre - mais do aquele que vê novelas - é importante que os canais sejam capazes de criar, para lá do formato convencional dos telejornais, produtos complementares que captem espectadores e receitas. Havendo menos dinheiro para produzir ficção e entretenimento, a informação será sempre uma arma e nesse sentido é fundamental que os melhores estejam no palco principal sem se desgastarem tanto no cabo.

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