Peritos definem tratamentos que têm de escapar aos cortes

Novas orientações europeias estiveram em debate no congresso de cardiologia. A sua adaptação para o País, em dificuldades económicas, aguarda parecer da Ordem dos Médicos.
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A Sociedade Portuguesa de Cardiologia e a coordenação nacional para as doenças cardiovasculares estão a definir as prioridades no tratamento dos problemas de saúde, responsáveis pelo maior número de mortes em Portugal. O objectivo é criar consensos e garantir que "tratamentos essenciais em cardiologia nunca sejam afectados por cortes de verbas na saúde", explica ao DN Rui Cruz Ferreira, coordenador nacional para as doenças cardiovasculares.

Rui Ferreira alerta que os orçamentos dos hospitais já estão esticados e que qualquer novo corte nas despesas vai afectar a prestação de cuidados e a sua qualidade. Por isso, a adaptação para Portugal das últimas cinco recomendações de tratamento da Sociedade Europeia de Cardiologia vem na altura certa. "Estamos a definir quais os tratamentos core da cardiologia e que aconteça o que acontecer têm de ser feitos. Nestas cinco áreas tem de haver consenso. A haver cortes, não pode haver hospitais a cortar num lado e outros noutro."

O documento - que irá ser aprovado pela coordenação em Maio - define prioridades em áreas como a fibrilhação auricular, doenças valvulares ou na insuficiência cardíaca. Mas Rui Ferreira considera "que este trabalho será feito nas restantes áreas, com contributos do Infarmed e Direcção-Geral da Saúde.

O cirurgião Manuel Antunes, presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, diz que o grupo de trabalho definiu "o que é e não é imperioso" no tratamento. "Há casos em que as populações são diferentes e não faz sentido transpor as orientações na íntegra. Por outro lado, temos de ter em conta alguns aspectos económicos e quais os critérios a adoptar".

Exemplos práticos deste trabalho são os novos dispositivos implantáveis no tratamento da insuficiência cardíaca, como alguns cardiodesfibrilhadores, que custam 30 a 40 mil euros. Outro exemplo "são os das doenças valvulares, também com custos de 25 mil euros". Alguns procedimentos menos invasivos, que pensámos serem mais indicados, são hoje reconhecidamente mais caros e têm menos ganhos do que as cirurgias de coração aberto. E nós aprendemos isso com a experiência".

Numa altura em que o controlo das despesas é mais apertado do que nunca, "temos de começar a pensar que nem sempre se justifica usar estas tecnologias", diz. "Se eles beneficiam 2% a 3% da população e são responsáveis por uma fatia bem superior das despesas, temos também de garantir apoio aos restantes 98% da população". Estas são recomendações, "não leis", diz. Mas se os hospitais não as cumprirem têm de se responsabilizar pelas decisões".

Rui Ferreira cita um estudo nos EUA, que calcula que até 2020 haja mais 40% de gastos devido a novos tratamentos. "É um problema em análise num país que não tem os nossos problemas económicos. Se a despesa crescer assim em Portugal temos de pensar no que vamos fazer e é por essa razão que temos de definir prioridades", remata.

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