Percalços e surpresas na primeira noite das marchas

Seis bairros exibiram-se nesta sexta-feira perante o júri no Meo Arena. Restantes apresentam-se na noite deste sábado e amanhã.
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Quando, pelas 22.00 desta sexta-feira, a Marcha Infantil "A Voz do Operário" começou a desfilar, extra concurso, no Meo Arena, já as claques dos seis bairros que mais tarde se exibiriam pela primeira vez perante o júri tinham cantado por várias vezes ao despique.

Munidas de pompons, balões ou cachecóis personalizados, as centenas de pessoas que na última noite compuseram as bancadas do antigo Pavilhão Atlântico foram incansáveis no apoio aos seus vizinhos, familiares e amigos... e às crianças que todos acreditam ser o futuro de uma tradição nascida em 1932.

"Avança agora", indicava aos mais pequenos o responsável pelo conjunto infantil, Vítor Agostinho. Sempre sob o olhar atento dos adultos que garantiam que ninguém se esqueceria da coreografia, os marchantes com idades entre os seis e os 12 anos apresentaram-se em tons de azul claro, amarelo, vermelho e verde para celebrar o 40.º aniversário do 25 de Abril.

Nos arcos transportados pelas crianças mais velhas, os cravos de papel simbolizavam o momento e pouco tempo bastou para que a flor que se tornou histórica passasse também de mão em mão, coroando uma exibição em que a alegria dos pequenos foi visível.

A descontração contrastava com o nervosismo que se notava no rosto de muitos dos membros de São Vicente que aguardavam para entrar na arena e inaugurar as exibições a concurso. As cores do vestuário - sobretudo vermelho e branco - combinavam com as das mesas que em breve completariam os arcos do conjunto que recriou a Feira da Ladra.

A apresentação ficaria, no entanto, marcada pela saída em grande da sua madrinha - a atriz Melânia Gomes -, que, do topo de uma saia gigante e com uma boa disposição contagiante, fez esquecer os momentos iniciais, quando um dos arcos não se manteve na vertical e alguns marchantes aparentaram ter esquecido os passos.

Igualmente surpreendente foi a apresentação de Santa Engrácia, fruto da utilização de um enorme coreto dourado e rosa, transportado com alguma dificuldade pelos aguadeiros enquanto as atenções se centravam nos passos dos marchantes. Na exibição não faltou também o manjerico, não fosse este o tema do conjunto que se atreveu a dançar, aqui e ali, uma versão estilizada do Vira.

Mais sóbria foi a exibição da Ajuda, que, ainda assim e caso estes existissem, ganharia os troféus de porta-estandarte e mascote mais entusiasmados. "Mais alto", repetiu incessantemente o mais novo na direção da claque do bairro, enquanto "Tó Marinheiro" estava já praticamente sem voz ainda durante a primeira metade da apresentação, marcada pelos tons de preto e vermelho e pelos arcos em forma de sapato e guitarra, numa aliança entre o Fado e o Tango. Os ânimos arrefeceram perto do final, quando a figura de Santo António que deveria manter-se no topo do trono caiu, causando apreensão entre os responsáveis.

Seria, ainda assim, a Marcha da Bela Flor - que regressou ao concurso após dois anos de ausência - a conquistar o indesejado prémio de grupo mais azarado da noite. Numa exibição que deveria ser uma "Viagem ao Reino das Maravilhas", o conjunto que se apresentou em laranja e verde terminou a sua apresentação com um arco incompleto, depois de os marchantes se terem atrapalhado no momento de trocar as caravelas por flores. Poucos minutos antes, outra fora já obrigada a desfazer-se dos sapatos, por se ter partido o salto.

O problema afetaria também várias representantes do Bairro Alto, sem que os passos importados do outro lado do Oceano Atlântico deixassem de animar as bancadas do Meo Arena. Por essa altura, já o avião de onde tinham saído os "comandantes" vestidos de azul-turquesa se tinha transformado no bar ideal para as "meninas da rádio" dançarem, personalizando o tema que os arcos revelavam. Um cenário vintage a que sucedeu, graças a Marvila, a antiga ruralidade de Lisboa.

Com o pavilhão em êxtase, o conjunto revelou os seus trunfos em traje domingueiro branco e rosa e com arcos que aparentavam ser um prolongamento dos ombros dos marchantes. Em forma de poço ou de ferradura, os adereços indiciavam os vários segmentos que marcariam a exibição - ferradores a atuar ao vivo, um jogo do galo humano transformado em arraial e um piquenique em que os homens teatralmente se embebedaram.

Este sábado, o despique continua, com a exibição do Lumiar, da Mouraria, de Campolide, de Benfica, de Alcântara, da Bica e de Alfama, atual campeã. A abertura da noite cabe, porém, à Marcha dos Mercados, que desfila extra concurso. As restantes sete apresentam-se domingo. É às 21.30, no Meo Arena, e a entrada custa seis euros.

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