Pequena Era Glaciar na Europa desencadeada pela Peste Negra

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A Pequena Era Glaciar (PEG) que atingiu o hemisfério Norte a partir de meados do século XIV, e durante 300 anos fez cair a temperatura no Velho Continente, é ainda hoje um mistério. Várias explicações têm sido adiantadas, como a diminuição da actividade solar ou uma alteração na circulação oceânica, mas não há certezas sobre o que causou essa mini-era glaciar. Um estudo holandês vem agora reforçar uma das explicações possíveis: a Peste Negra.

Não se sabe exactamente quando terá começado essa Pequena Era Glaciar. Convencionou-se 1350. Depois, ao longo dos três séculos que se seguiram, houve vários períodos mais severos do que outros, que influenciaram a vida no Velho Continente. Há relatos do Tamisa gelado em Londres, bem como dos canais holandeses transformados em pistas de gelo. Esse rigor de neve e gelo foi mote para vários pintores flamengos da época, alguns famosos como os Brueghel, pai e filho.

É justamente um grupo de investigadores holandeses da Universidade de Utreque, liderados por Thomas van Hoof, que vem agora juntar mais uma peça ao quadro.

De acordo com o estudo publicado na revista científica Paleogeography, Paleoclimatology, Paleoecology, o surto de Peste Negra que dizimou um terço da população europeia na primeira metade do século XIV terá sido o acontecimento-chave que desencadeou a miniera glaciar que se seguiu.

A equipa holandesa baseia a sua tese no estudo que fez de sedimentos da época, recolhidos no Sudeste do país, como restos de pólen e de folhas recolhidos em antigos leitos de lagos. De acordo com a investigação, após a Peste Negra, vastas áreas agrícolas ficaram abandonadas por todo o continente europeu. Isso terá provocado uma reflorestação por milhões de novas árvores e estas, por sua vez, absorveram grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2, o principal gás com efeito de estufa) da atmosfera. E isso teria estado na origem do arrefecimento climático então registado.

A equipa estudou a evolução da produção cerealífera entre os anos 1000 e 1500 d.C. e verificou um aumento, a partir de 1200, e depois uma quebra súbita, por volta de 1347, ligada à crise causada pela peste. Os cientistas avaliaram ainda a concentração de CO2 na atmosfera, analisando folhas de carvalhos para o mesmo período, e detectaram a partir de 1300 uma diminuição dessa concentração.

Estes resultados acabam por reforçar também a ideia de que as actividades humanas podem interferir com o clima da Terra e que isso até nem é de agora, como se pensa, em relação ao aquecimento global em curso. "Parece que o impacto humano a este nível sobre o ambiente começou muito antes da revolução industrial", disse van Hoof, a propósito, à BBCNews online.

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