Pedro Rodrigues, o empresário inovador que gere o pavilhão de Portugal na Expo Dubai
Voltamos ao El Bulo 15 dias depois de ali nos termos conhecido. Desta vez não há vinhos e petiscos portugueses a circular entre "oh" e "ah" e "hmm" de quem os vê e prova na reinterpretação do chef Chakall, argentino que há muito ganhou coração português e que venceu, com o amigo de muitos anos Pedro Rodrigues, o concurso público para o restaurante Al-Lusitano, que leva os nossos sabores ao Pavilhão de Portugal na Expo Dubai. Mas há café, boa companhia e aquele sentimento de acolhimento que nos deixa quentinhos por dentro quando empatizamos com alguém em menos de nada. E o Pedro é uma dessas pessoas que nos contagia com o seu entusiasmo e nos faz próximos com a alegria e a abertura com que vai contando como a vida o levou aos Emirados - e daí a protagonista do nosso pavilhão na mais importante mostra mundial.
Chegado do Dubai, onde a pandemia o pôs a viver - lá iremos - há dois dias, mal nos sentámos à mesa e já se ri com a embrulhada em que o seu permanente frenesi tornou a viagem para Portugal, entre certificados de vacinação e testes perdidos (mas dos quais na verdade não precisava), malas feitas em minutos e telefonemas tardios a avisar a família da sua chegada (igualmente desnecessários porque o filho já se encarregara disso em tempo útil). "Eu sou muito metódico, mas faço sempre muitas coisas ao mesmo tempo e às vezes desoriento-me", ri-se. E logo começa a explicar como se viu baseado nos Emirados Árabes Unidos (EAU) três anos antes do que projetara poder vir a acontecer. Nada que impressionasse ou desanimasse Pedro Rodrigues, habituado que está a ver mais longe e muito mais cedo e por natureza curioso e disposto a arregaçar as mangas perante qualquer desafio - heranças que lhe correm nas veias, como há de justificar adiante.
"Comecei a olhar para essa região porque é um excelente hub de negócios, mas também cultural", explica, detalhando que a localização o põe a sete horas de viagem da Europa, da China e de qualquer país africano e justificando o outro lado da ideia que tanto lhe agrada com o facto de a filha de 4 anos que vive com ele e a mulher, Joana, no Dubai celebra as festas de todas as religiões, tem colegas de todas as nacionalidades e culturas e está a crescer com a cabeça aberta para o mundo global. Mas se já andava de olho nas Arábias, era na China que tinha montado casa, contratado ama para a filha, então com 2 anos, a mulher tinha emprego à espera na Universidade de Macau e ele próprio tinha posto a esfriar uma garrafa de champanhe para brindar à nova vida. Tinha inaugurado a sede da PLM em Shenzhen em janeiro de 2020 e, ato contínuo, mandado os cerca de 40 empregados diretos e indiretos para casa por causa da pandemia, mas tinha a vida orientada e as soluções preparadas para ali se instalar com a família: se não poderia a partir dali tocar outros mercados, faria caminho no mercado chinês, que é de excelente volume e grandes possibilidades, sobretudo na sequência de uma guerra comercial com os Estados Unidos que "provocou rejeição natural nos chineses a tudo quanto viesse de fora, valorizando o produto local".
Mas então os bloqueios de fronteiras começaram a cair de hora a hora, fazendo-o embarcar numa missão impossível de encontrar uma rota que o levasse do Dubai a Shenzhen. Uma semana depois rendeu-se à evidência de que não conseguiria mais do que cancelar os planos, e se tinha de ficar pelos Emirados, então iria tirar disso o melhor partido possível. Em seis meses, arrancou uma nova operação, lançou uma nova marca, a Prevention by PLM - solução tecnológica para ajudar as empresas a tornar os negócios mais seguros em contexto de pandemia, uma espécie de pórtico que fornece dados claros sobre a entrada e a saída de pessoas com base no registo, pagamento, temperatura, vacinação, etc.; e deu vida ao primeiro evento pós-pandemia no Burj Khalifa - "as soluções já existiam no nosso desenvolvimento, não as inventámos nesse tempo, mas acelerámos os processos e conseguimos lançar em agosto", concretiza. E já que ali estava, atirou-se, para vencer, ao concurso para a gestão do pavilhão de Portugal na Expo Dubai, que arrancou ontem com a vertente cultural, um programa empresarial e uma concept store com dezenas de produtos de empresas nacionais e a vertente gastronómica aportada pelo Al-Lusitano, tudo sob o lema "Portugal, um Mundo num País".
Essa capacidade de reação e a determinação vêm-lhe da vivência em várias geografias - lembra-se de falar em QR Codes "quando ninguém queria saber daquilo - até me irritava que achassem que eu estava a dar demasiada importância... eu sou muito intenso nas relações e em tudo o que faço, sou apaixonado por tudo em que me meto e isso é um privilégio, porque estou sempre entusiasmado".
É com igual entusiasmo que recua aos tempos de miúdo, quando ia com a avó para a praça de Aveiro às 04h00 e acordava do sono numa cesta de fruta com o rebuliço das freguesas. Lembra-se de sair de casa de motoreta entre as pernas com o pai, segurando a merenda preparada pela mãe e encolhendo-se à passagem da polícia para evitar as multas, a caminho da fábrica onde "nasceu". "O meu pai era torneiro mecânico de alta precisão e da minha mãe, que era vendedora, herdei a parte comercial, eram um binómio encantador de técnica e desenvoltura", diz. Filho único e sendo os pais "clientes assíduos do IPO", viveu os primeiros anos muito com a avó, que hoje tem 103 anos, e "várias mães" por quem guarda imenso carinho.
A herança genética de empreendedorismo, trabalho, força, dedicação e uma energia notável herdou-a dessa família que se fez empresária quando o pai criou um móvel com tanto talento que acabou por ser convencido a trocar o torno por uma fábrica sua e do irmão (que antes reparava sonares em navios). Era a génese da PLM, em que Pedro esteve envolvido desde o primeiro dia, acompanhando os trabalhos de perto, aprendendo com o que via e o que se metia a fazer, com os desenhos em que o pai traduzia as ideias ditadas pela mãe. Ambos lhe deram outra ferramenta fundamental: a sede de independência que o levou a espetar alfinetes em sabonetes para criar pequenos cestos que vendia para ter o seu dinheiro. "Nunca tive mesada. Ainda não tinha 10 anos e já me aviava na mercearia do Sr. Ramiro, mas tinha de prestar contas ao fim do mês e isso ensinou-me a gerir as finanças."
Já adolescente, ia de férias pelo país à boleia e com as poupanças acumuladas em empreendimentos em que se foi metendo a par dos estudos e do que fazia na fábrica. Estava no 12.º ano, em Economia - depois de uma passagem pelo Design - quando foi para a tropa, porque não via utilidade em adiar esse serviço, mas nos 366 dias passados entre a recruta em Tancos e o Estado-Maior da Força Aérea nunca deixou de trabalhar no negócio da família. Usava as noites e os fins de semana para fazer registos, analítica de dados e orçamentação.
Já não voltaria aos estudos. O regresso à vida civil coincidiu com a crise dos anos 1980 e entregou-se em pleno aos negócios. "Os meus primeiros atos de gestão foram duros, com muita mão-de-obra e quase nenhum trabalho..." mas Pedro nunca foi de baixar os braços e rapidamente se lançou às Páginas Amarelas para procurar clientes empresariais a quem bater à porta para oferecer os serviços da PLM. Foi o princípio da empresa que existe hoje. Juntou o desenho técnico à equação, informatizou tudo, reorganizou a companhia, integrou soluções tecnológicas e ganhou o primeiro grande cliente no autocarro a caminho de um avião para a Madeira, em 2008. "Um responsável da Samsung ia ao telefone a dizer que não tinha quem lhe produzisse o equipamento de que precisava e eu ofereci-me para o fazer." Daí nasceu a mais antiga relação com uma multinacional mas também, graças à qualidade oferecida e ao boca-a-boca, uma série de contratos com as telecom, em plena pujança, com a banca que se reinventava, construiu balcões e criou conceitos inovadores e cresceu como nunca.
Tendo por princípio "não correr na mesma faixa do que os outros", Pedro Rodrigues sempre esteve de olhos abertos a novas soluções, quer as criasse à medida das necessidades das empresas que o procuravam quer as visse e adaptasse das feiras internacionais de mobiliário de escritório, que adorava visitar. E foi isso que o pôs na liderança: "Quando começaram a pedir-me ecrãs LED eu já os tinha em todos os formatos e géneros; quando se despertou para os QR Codes, já nós os implementávamos." E muito disso lhe chegou através da experiência asiática, onde encontrou e começou a produzir "stands brutais".
Quando se estreou na China, para visitar a maior feira chinesa, a Canton Fair, em Guangzhou, em 2012, entendeu de imediato o potencial do país. E apontou a uma oportunidade de negócio concreta: "No intervalo entre duas feiras, fiquei escandalizado, porque os clientes tinham duas horas para tirar tudo o que era valioso dos stands e depois entrava um bulldozer e esmagava tudo." Seis meses depois, voltava com um telemóvel chinês, um monte de cartões-de-visita para distribuir e a ideia de fazer stands de qualidade, reaproveitáveis e sustentáveis - que também tinham a vantagem de abrir a porta dos salões principais da Europa aos produtos chineses, normalmente remetidos para palcos secundários. O telefone não parou de tocar nem a PLM de trabalhar. "Hoje, têm das melhores políticas, das mais sustentáveis, com stands em que pelo menos 70% dos materiais têm de ser reutilizáveis", conta. E ainda começou a fazer a ponte entre empresas portuguesas e chinesas, aconselhando para produção mais barata mas de qualidade - o controlo feito a cada passo da linha. Quando veio o boom da China, Pedro estava na primeira linha.
É todo este percurso que leva à nova viagem que Pedro Rodrigues está há meses a preparar e que se concretizou desde ontem, com o palco português da Expo Dubai a depender dele em toda a linha. "Eu já estava na região e não ia deixar passar a oportunidade. Deu-me imenso trabalho, foi um esforço enorme, mas posicionámo-nos, lutámos, levámos as nossas competências a um outro nível e conseguimos vencer o concurso público para gerir o pavilhão de Portugal na mostra mundial. Da realização da estrutura idealizada pelo arquiteto Miguel Saraiva à gestão operacional do pavilhão - que passa pelas instalações e pelas limpezas, pela loja em que se mostra Portugal e pela gestão de eventos, entre muitas outras facetas -, é à PLM que cabe guiar o barco rumo ao sucesso.
E se a tarefa não é pequena, para Pedro seria muito mais interessante dar-lhe o picante de uma aventura ainda mais desafiante, o que o levou a desafiar o chef Chakall a juntarem-se e a concorrerem também para o espaço de restauração. "Eu já o andava a namorar para fazermos alguma coisa por ali e consegui entusiasmá-lo a avançar." Porque nenhum dos dois são homens de ficar a ver os outros trabalhar, foram procurar fornecedores ao mercado do peixe, visitaram fábricas em busca do melhor mobiliário de cozinha, meteram mãos à obra e montaram o Al-Lusitano em tempo relâmpago.
No meio da azáfama, vai gerindo as suas paixões - "adoro ver o pôr do Sol e quase todos os dias saio do escritório a tempo de ter esse momento de prazer, mesmo que leve o computador comigo", garante, uma fórmula que aconselha aos que com ele trabalham, ainda que nunca desligue verdadeiramente. Vida pessoal e profissional são uma só, de tal maneira que diz ter quatro filhos: "O Pedro Júnior, de 22 anos (a estudar em Lisboa), a Bruna, de 19 (a estudar na Dinamarca), a Maria, de 4 e a PLM." E se pelos filhos de carne e osso faz tudo, tem uma visão comum para o futuro destes e da empresa que lidera: "Que saiam do ninho preparados para fazer os seus próprios voos." Para a companhia, isso significa encontrar quem lhe dê continuidade e assegurar uma transição como a que viu e elogia a Belmiro de Azevedo, mas que só passe pelos filhos se eles tiverem vontade e talento para levar a PLM mais longe. "Se o futuro passar por eles, será por valor, não pelo apelido que têm." Seja como for, essa transição já está a ser trabalhada. "Em 44 anos de existência desde Aveiro, a PLM tem 32 de mim e não se entrega a chave, simplesmente, é preciso trabalho, cuidado, preparação." Mas sente-se cada vez mais tranquilo em relação a esse amanhã, confiante de que a empresa continuará para além dele e em expansão. "No Dubai estou totalmente ao leme, mas no resto dos negócios já me sinto mais chairman do que CEO", garante. O objetivo aos 50 anos é conseguir desligar-se para poder dar asas à criatividade sem as amarras da gestão corrente. E num momento em que junta uma nova conquista ao seu percurso, a Expo Dubai, tudo se encaminha nesse sentido. "Sou uma pessoa genuinamente feliz."