Pedro Nuno Santos: "Diálogo à direita e ao centro é fundamental"
Uma no cravo, outra na ferradura. Pedro Nuno Santos abriu esta terça-feira um diálogo "à direita e ao centro" em caso de um governo de maioria relativa do PS e disse mesmo que "há matérias onde o entendimento com o PSD é desejável e importante", mas voltou a afirmar que um eventual governo de PSD e Iniciativa Liberal seria mais radical do que o governo da coligação PSD/CDS do tempo da troika e salientou que Luís Montenegro nunca criticou o acordo entre PSD e Chega nos Açores.
Reforçando que "a memória da geringonça é boa", o candidato à liderança do PS não respondeu se estava disponível para viabilizar um governo minoritário do PSD, pois diz não ter "muito jeito em trabalhar em cenários de derrota" e que o "PS vai trabalhar para ganhar".
O ex-ministro das Infraestruturas desconfia de uma aliança entre PSD e Chega e diz que os eventuais parceiros de esquerda do PS não se equivalem ao partido de André Ventura. "O PSD tem acordo com o Chega nos Açores e líder do PSD nunca criticou. Não há equivalência entre o Bloco de Esquerda, o PCP e o Chega. O problema que o PSD tem não tem paralelo com a realidade à esquerda", afirmou, em entrevista à CNN Portugal.
Confrontado com uma declaração que havia proferido em 2011, na qual sugeriu não pagar a dívida pública, Pedro Nuno Santos reconheceu que essa "declaração não foi feliz", mas explicou que foi proferida "num jantar partidário, num determinado tempo" e que depois disso já esteve num Governo que diminuiu a dívida pública.
"A dívida pública baixou nos anos de geringonça, não está nada em risco nessa matéria. Diminuir dívida é consensual à esquerda e à direita", vincou.
Sobre a disputa interna com José Luís Carneiro, deixou elogios ao adversário. "Não sei a força da candidatura de José Luís Carneiro. É um militante muito válido, um grande ministro e tenho uma grande consideração por ele. É alguém de quem os militantes gostam e respeitam. Claro que não é um passeio do parque. Cada ato eleitoral é decidido no momento das eleições. Se vou a eleições, todos os cenários são possíveis, mas vamos com a convicção de que temos o melhor programa para o PS e para o país", afirmou, assegurando que ele e o atual ministro da Administração Interna estarão do mesmo lado após as eleições do PS.
Pedro Nuno Santos admitiu ainda que já falou com António Costa depois de ter anunciado a candidatura e que a relação entre os dois "está ótima, ao contrário do que muita gente pensa". "Devo-lhe a oportunidade de ter feito parte do Governo", acrescentou, admitindo, porém, que "é natural" que o ainda primeiro-ministro e José Luís Carneiro "tenham uma boa relação".
Questionado sobre temas importantes para o país, como a localização do novo aeroporto de Lisboa, Pedro Nuno Santos não manifestou qualquer preferência e remeteu uma posição para depois da publicação do relatório da Comissão Técnica Independente.
"Houve acordo entre PS e PSD para metodologia a seguir. Haverá uma decisão, com ou sem acordo do PSD. O processo não vai ser posto em causa por mim. Haverá um relatório que vai apontar pontos positivos e negativos de cada uma e certamente haverá um debate. Não podemos é ficar paralisados mais uma vez, estamos a perder muito dinheiro por não haver decisão", vincou.
Em relação à privatização da TAP, considerou que "é importante" conseguir uma ligação entre a transportadora aérea nacional e um grupo de aviação, mas vincou que "não há a pressa". "A TAP está saudável dos pontos de vista financeiro e operacional. Todos os possíveis investidores têm de saber que o Estado português não está desesperado. Quando vendemos uma casa não queremos denunciar a necessidade da venda e temos de fazer o mesmo com a TAP", afirmou, salientando que "é importante que o Estado se mantenha na TAP".
Questionado sobre se o facto de existirem dois primeiros-ministros do PS com problemas com a Justiça poderiam prejudicar o partido, Pedro Nuno Santos disse que "neste processo [Operação Influencer] estamos muito longe de tirar conclusões" e explicou que "o PS não tem um problema estrutural e crónico com problemas com a Justiça". "Isso não é assim", vincou.
Preocupado com o "processo em curso", mas sem tecer grandes comentários porque a "separação de poderes é um princípio basilar, não é um refúgio para o PS", defendeu as escolhas do ainda primeiro-ministro.
"António Costa escolheu com quem se rodeia pelo seu trabalho, não por esconder dinheiro vivo no gabinete. Foi uma traição para ele", atirou.