Pedro Mendes,um jogador invisível
Ainteligência rara de Pedro Mendes foi agora notada em dois jogos pela selecção (para os quais foi seleccionado depois das intempéries no meio-campo: lesão de Tiago e castigo de Pepe). Toda a gente sabe que Pedro Mendes é campeão europeu. E campeão nacional. E se não sabe, se não sabia, fica então a saber: foi "naquele" FC Porto de José Mourinho, o de 2003/04, única época em que jogou nos dragões. Naquela equipa, não era titular, nem era suplente. Era precioso: se era preciso esticar a equipa, entrava Pedro Mendes; se era preciso encurtá-la, entrava Pedro Mendes. Porque Pedro Mendes não joga, põe a jogar, encontra caminhos para os outros trilharem. E, depois, a glória foge-lhe para os ombros dos "Maniches" e dos "Tiagos" desses relvados.
Porque os outros têm o golo ocasional, e Pedro Mendes só tem aquele segredo inconfessável do futebol que só os treinadores (talvez só os melhores) percebem e aproveitam. É o centro de controlo emocional de qualquer equipa: não falha um passe (porque não arrisca muito, atira-se: sim, porque sabe a importância de manter a bola e a que ritmo, e em que zonas), não perde a noção colectiva de um jogo colectivo, é um jogador invisível. Pedro Mendes é o jogador invisível de que o futebol nunca pôde prescindir, até que o futebol conseguiu dar-se ao luxo a prescindir de futebol - o marketing, o resultadismo histérico.
Há vários episódios da carreira de Pedro Mendes que ilustram esta invisibilidade. Logo que se consagrou campeão europeu, foi para Londres como moeda de troca com Hélder Postiga: ou melhor, "abateu" três milhões de euros aos 7,5 em que ficou cotado o regresso de Postiga ao FC Porto, em 2004 (esse Postiga que agora, perante a lesão de Hugo Almeida e sendo parceiro de Liedson no Sporting, não consegue ultrapassar Edinho nas escolhas de Carlos Queiroz). No Tottenham, começou por ser o cérebro, acabou por se perder numa equipa que continua à procura de se encontrar (sucedem-se treinadores, continuam longe os melhores resultados). E foi para o Portsmouth, onde nunca se escondendo, revelava apenas as melhores qualidades do conjunto. Mas para voltar à Liga dos Campeões teve de se assumir como jogador periférico: transferiu-se para a Escócia (ainda que para o Rangers, um dos monopolizadores do futebol local).
Mais uma vez, parecia esconder-se: em Inglaterra, já lhe chamavam jogador periférico, por não ser espectacular, por não ser jogador de selecção, por não marcar golos. Ou melhor, mesmo quando marca, este torna-se espectacularmente invisível (aquele que marcou ao Manchester United, com a bola dentro da baliza meio metro como toda a gente viu menos o árbitro). Agora, e depois de ser ignorado por Scolari, Queiroz deixou de o ignorar, chamando-o à última hora para compor o grupo. Acabou por ser titular frente à Hungria e o melhor da selecção nos dois jogos decisivos. Desta vez, isso foi visível para todos.