Pedro Lamy: "Não esperava tantos anos a correr nem tantos títulos"
Com cinco anos, ergueu o primeiro troféu - de campeão nacional de minimotociclismo. Quatro decénios depois, continua a vencer. Ao lado de Paul Dalla Lana e Mathias Lauda, Pedro Lamy (Aston Martin V8 Vantage GTE) sagrou-se, há uma semana, campeão mundial de resistência, na categoria LM GTE Am: mais um título para uma longa carreira, da qual só guarda a mágoa de não ter podido chegar mais longe, com uma equipa mais competitiva, na Fórmula 1.
Ao fim de tanto ano de carreira e de tantos títulos, ainda não perdeu a conta aos troféus conquistados [19 campeonatos, nacionais e internacionais, segundo a contabilidade do seu site oficial]?
Não... Já são alguns mas sabem sempre a pouco. A vontade é sempre ganhar todas as corridas e todos os campeonatos. Agora consegui mais um: foi muito bom.
Era um título que perseguia há algum tempo. Este foi, finalmente, o ano.
Já estávamos há vários anos a ter bons resultados, a ser uma das equipas mais fortes da competição - com o mesmo carro e mais ou menos a mesma equipa de pilotos - , mas ainda não tínhamos conseguido ser campeões. Finalmente, neste ano, conseguimos.
Qual foi a fórmula deste sucesso?
No fundo, foi ter um carro competitivo, para tentar pontuar o máximo possível em todas provas. [As 24 Horas de] Le Mans tem um carácter especial: pontua a dobrar e é um bocado decisivo. Nos últimos dois anos, não vencemos o campeonato, em parte devido a termos desistido em Le Mans. Neste ano, não ganhámos, mas pelo menos terminámos a prova e conseguimos somar alguns pontos importantíssimos.
Quais foram as maiores dificuldades por que passaram ao longo da época?
Sempre que chovia tínhamos dificuldades, pois o carro não tinha pneus bons para esse piso - eram um bocadinho inferiores aos da concorrência. Nas outras provas, sem chover, estivemos sempre competitivos e próximos de vitórias.
E quais foram os momentos que lhe deram mais gozo ao longo da temporada?
É difícil escolher. Acho que foi o final do campeonato, porque nós não tínhamos uma grande vantagem para os outros adversários e as duas últimas corridas foram muito importantes. Em Xangai o carro estava bom, estivemos competitivos e vencemos. Na altura da corrida, no Bahrein, o carro já não era assim tão mais rápido do que outros, mas com o equilíbrio dos pilotos conseguimos vencer a corrida e ser campeões.
Para si, não foi uma sensação nova. Já vão quase 40 anos a conquistar títulos. Alguma vez pensou que podia ter uma carreira tão longa e bem-sucedida?
Não. Comecei ainda muito pequenino a competir nas motas. Depois, passei e fui vencendo nos karts e nas fórmulas todas, até que cheguei à Fórmula 1. Mas nunca olhei a longo prazo. Não esperava estar tantos anos a correr e ter a possibilidade de conquistar tantos títulos. Não posso dizer que tenha passado momentos difíceis no automobilismo, porque tenho conseguido muitas vitórias.
Apesar desses sucessos, acaba por ser mais reconhecido por ter sido o primeiro português a pontuar na Fórmula 1. Foi um dos pontos altos da sua carreira?
Para qualquer piloto, chegar à Fórmula 1 é a realização de um sonho. De qualquer forma, não foi muito positivo para mim, porque não estava numa equipa competitiva, a lutar pelos primeiros lugares e pelas vitórias. Não tive uma passagem muito feliz. Ter lá chegado foi uma marca importante, lá isso foi, mas, se olhar para os pontos altos da minha carreira, penso mais na passagem pela Peugeot [entre 2007 e 2011]. Entrar numa equipa tão grande e tão profissional, num projeto tão ambicioso, foi o reconhecimento dos meus bons resultados até então. Voltei há cinco anos para a Aston Martin, onde já tinha corrido antes da Peugeot, e também tem sido bastante gratificante.
Ainda sente mágoa por não ter tido oportunidade de correr por uma equipa superior na Fórmula 1?
Realmente, o sonho era estar numa equipa competitiva e lutar pelos primeiros lugares. Só que isso nunca aconteceu. Já passou... não dá para voltar atrás.
Agora, que sonhos tem por cumprir?
A minha vida tem sido sempre a competir e, se Deus quiser, vou continuar a correr mais algum tempo - não sei é quanto, porque já estou há muito tempo no desporto automóvel e a idade limita as possibilidades. Mas olho a curto prazo. O mais importante para mim é sempre a próxima prova. O sonho é tentar ser competitivo nas próximas corridas e, se possível, vencê-las.
Que projetos terá no próximo ano?
Em princípio, devo continuar no mesmo campeonato - que vai ter algumas alterações, começando a meio do próximo ano e acabando a meio da outra época, com início e final em Le Mans. Espero também fazer algumas provas fora do campeonato, nos EUA, como nos últimos anos.
Embora diga que não deverá correr muitos mais anos, tem algum prazo fixado?
Tenho consciência de que não serão muitos anos. Espero que [a minha carreira] se prolongue o máximo possível, mas há que olhar um pouco de corrida em corrida, de ano a ano, e logo se vê.
Ou seja, enquanto lhe der prazer e continuarem a surgir propostas, vamos ter Pedro Lamy aí para as curvas.
É isso. Vamos tentar, pelo menos, mais uns anos...