Pedro Filipe Soares anuncia adeus a São Bento em nome da renovação

Atual líder parlamentar bloquista é um dos primeiros deputados desta legislatura a excluir-se das próximas legislativas. Durante 14 anos o matemático diz ter ajudado "a construir esquerda".
Publicado a
Atualizado a

Tinha apenas 33 anos, e três de experiência enquanto deputado, quando se tornou líder parlamentar do Bloco de Esquerda, em 2012, mas desde então Pedro Filipe Soares cimentou estatuto na Assembleia da República como a voz serena e de diálogo à frente de uma bancada que aumentou e diminuiu de contingente ao longo dos anos. E que aspira voltar a multiplicar o atual quinteto de eleitos nas eleições de 10 de março de 2024, mas já sem o próprio Soares, que anunciou ontem a sua indisponibilidade para continuar a ser deputado, a bem da renovação.

"Decidi que não serei candidato nas listas às próximas eleições legislativas. Cumpri uma das maiores honras da minha vida, dei tudo o que podia e sabia, ajudei a construr esquerda. Penso ser tempo de renovar, cumprir o preceito republicano de que a representação pública tem um tempo limitado e dar o lugar a outros. Tomei esta decisão com a certeza de que hoje o Bloco de Esquerda está mais forte, a crescer na opinião pública, e que terá um papel determinante no ciclo político que se avizinha. E que esta renovação o tornará ainda mais forte", escreveu Pedro Filipe Soares no artigo "Obrigado, foi um enorme prazer", publicado na edição desta segunda-feira do "Público".

O anúncio da saída de cena do atual líder parlamentar, depois de a antiga coordenadora Catarina Martins ter renunciado ao mandato de deputada, acentua a ideia de que o partido agora liderado por Mariana Mortágua enfrentará uma renovação de rostos, conjugada com a provável recuperação eleitoral indiciada pelas últimas sondagens. Nas legislativas de 2022 o Bloco de Esquerda teve o pior resultado em duas décadas, com apenas 4,4% dos votos, que se traduziram em cinco mandatos - nas duas legislaturas anteriores Soares liderou grupos parlamentares com 19 deputados.

Pedro Filipe Soares terminou o artigo "Obrigado, foi um enorme prazer" com a garantia de que o adeus a São Bento "não é uma despedida da política". "Direi presente a todas as lutas que temos pela frente, fiel aos valores da esquerda, pelos direitos no trabalho, o teto para uma vida digna, a resposta à crise climática, a cultura da solidariedade e a promoção da igualdade como fundamentais para sermos livres", escreveu, acrescentando que "não faltarei a nenhuma chamada, sabem que podem contar comigo para tudo". O DN procurou saber se isso significa disponibilidade para ser candidato ao Parlamento Europeu, nas eleições que também se realizam em 2024, mas não foi possível contactá-lo até ao fecho desta edição.

Poucos dias antes de anunciar a saída, o matemático de 44 anos, primeiro deputado que o seu partido elegeu pelo círculo de Aveiro, foi um dos oradores no comício "Levar o país a sério", realizado no Teatro Capitólio. Falando no mesmo evento que Mariana Mortágua, Joana Mortágua e Bruno Maia, Pedro Filipe Soares centrou a sua intervenção nos problemas da habitação, "agradecendo" ao PS o aumento da especulação imobiliária, e garantiu que a direita "está com medo de nós", pois "será a força do Bloco de Esquerda a ditar o futuro político do país".

Figura destacada nas negociações da "geringonça" em 2015, Pedro Filipe Soares reafirmou no seu artigo de opinião o orgulho em ajudar "a construir uma esquerda socialista de valores e convicções". "Passámos por momento bons e outros difíceis, por vitórias e derrotas, mas nunca baixámos os braços", escreveu quem entrou na politica como ativista em Aveiro, distrito "que era (e ainda é) muito conservador, mas em que as lutas pelo trabalho têm raízes fortes".

Bloco quer voltar a ter caras novas no Parlamento

Depois de ter sido penalizado eleitoralmente pelo chumbo do Orçamento do Estado de 2022 que levou à dissolução da Assembleia da República, encolhendo de 19 para cinco deputados, o Bloco de Esquerda conta aproveitar outras eleições antecipadas para não só reforçar o grupo parlamentar como para proceder a uma renovação que rejuvenesça o partido .

Na última reunião da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, a 19 de novembro, foi anunciado que na seguinte, neste mês de dezembro, seriam anunciados os primeiros candidatos do partido às legislativas de 10 de março de 2024. E entre os nomes que se perfilam poderão estar alguns regressos, como o dos ex-deputados Moisés Ferreira (atual funcionário do grupo parlamentar) e Luís Monteiro, que se afastou quando foi acusado de agressão por uma ex-namorada, tendo a acusação sido entretanto retirada. Ou Fabian Figueiredo, que foi deputado em regime de substituição na legislatura anterior.

Também é provável que se lhes juntem nas listas de candidatos a deputados membros da Mesa Nacional como Leonor Rosas e Bruno Maia. A ativista feminista (filha do fundador do Bloco de Esquerda e ex-deputado Fernando Rosas) e o candidato derrotado a bastonário da Ordem dos Médicos estiveram na calha para se tornarem deputados já na presente legislatura, pois Maia era o terceiro da lista por Lisboa e Rosas estava em quinto lugar, mas a enorme perda de votos nas legislativas de 2022 levou a que apenas Mariana Mortágua e Pedro Filipe Soares fossem os únicos eleitos pelo principal círculo eleitoral.

Entre os membros da Comissão Política que poderão surgir nas listas também se destacam as jovens ativistas Aliyah Bhikha e Andreia Galvão , enquanto na Mesa Nacional se encontra o mediático enfermeiro Mário André Macedo. Certo é que o partido liderado por Mariana Mortágua garante estar "pronto para afirmar uma alternativa ao mau governo e apresentar soluções para os grandes problemas que atingem a maioria população".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt