Pedras no sapato e um agente 007 nas Finanças

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Na Alemanha, a inflação atingiu um novo máximo de quatro décadas na passada quarta-feira. O índice de preços no consumidor deverá ter escalado até aos 7,3% em março, uma meta não alcançada desde o longínquo ano de 1981. No mesmo dia em que foi conhecida esta subida, em Portugal tomava posse o XXIII Governo Constitucional, liderado por António Costa. A inflação é uma das pedras que já entrou no sapato do primeiro-ministro e restantes governantes. Esta semana ficámos a saber que em Portugal, segundo o Instituto Nacional de Estatística, a mesma taxa chegou a 5,3% em março último, o valor mais alto desde junho de 1994. A tendência crescente vai dificultar, e muito, uma recuperação da economia, já de si travada pelos fortes impactos da pandemia de covid-19 e agora pela guerra na Ucrânia, sem fim à vista.

A escalada da inflação vai obrigar o governo a olhar de novo para as pensões e o salário mínimo nacional. Mas não só. O salário médio em Portugal tem vindo a aproximar-se perigosamente do mínimo. É preciso discutir com os parceiros sociais e não deixar que a inflação faça desaparecer (ainda mais) o poder de compra dos portugueses. Os empresários reconhecem este problema e se desta vez se confirmar que há o tal consenso nacional para um aumento gradual dos salários, então este é o momento.

Se a tudo isto se juntar a subida prevista das taxas de juro, com efeitos prejudiciais nas contas das famílias através da habitação, mas também com efeitos perversos no investimento, não valerá a pena tapar o sol com a peneira, há que enfrentar o astro-rei de frente e com coragem.

Há mais pedras no sapato a incomodar o novo Executivo. Uma delas passa por ter as Finanças em ordem quando o país ainda não se desligou totalmente do ventilador. Com o Pacto de Estabilidade a ser reativado por Bruxelas lá para meio da legislatura, a ginástica contorcionista que será exigida vai ser mais difícil de praticar. Caberá a Costa, mas também a Fernando Medina, o novo ministro das Finanças, começar já a treinar esses movimentos dignos de ginastas de competição. Medina chega às Finanças com o défice abaixo de 3% e com um trabalho de casa tecnicamente bem feito e arrumado por João Leão. A fasquia e exigência para com as Finanças é alta. E, como disse o próprio primeiro-ministro, desta vez "não há álibis" para fazer o que é preciso. Marcelo Rebelo de Sousa usou a mesma expressão, "álibis", para acentuar a necessidade de cumprir uma missão que se avizinha difícil, mas não impossível. Desta vez não é preciso um Ronaldo nas Finanças, mas um agente 007.

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