Pedimos desculpa pelo incómodo causado. A cimeira que não foi para todos
"O tempo de espera pode ser superior ao normal. Pedimos desculpa pelo incómodo causado", ecoa pelos corredores das estações do metropolitano de Lisboa. O incómodo é noutra linha, naquela traduz-se numa espera de cinco minutos. São 14.00, quinta-feira, mas o normal no metro tem sido isto, desde há demasiado tempo. Os utilizadores deste transporte público vivem-no todos os dias, os estrangeiros que nos visitam por estes dias para a Web Summit nem notam.
Como por exemplo Massimo Tucci que se passeia pelo Chiado. Esteve enfiado desde segunda-feira no Parque das Nações, na outra ponta da cidade, e só na quarta-feira à noite se deslocou até ao centro de Lisboa, para jantar, e na tarde de ontem, para aproveitar as últimas horas antes de regressar a Itália. "Vimos pouco da cidade", diz, acompanhado de Luca Pelini e Gabriele Roccasalvo. Do que viram gostaram: "A cidade é muito mais limpa, os táxis não são caros, a comida é boa, o clima também", completam-se num inglês gesticulado. E o metro? "Remember, nós viemos de Roma!" - e riem-se.
Quem não tem grandes motivos para sorrir são Sandra Sousa e Carlos Borges, com os seus tuk-tuk parados junto à Rua Augusta. Veem-se poucos turistas, menos ainda com crachás, aqueles que identificam quem está na Web Summit. Não há quem queira um city tour. "Foi a pior semana do ano", sentencia Sandra. E Carlos concorda. Só houve um cruzeiro a aportar na segunda-feira. Os participantes na cimeira tecnológica (que decorreu até ontem) "vieram para trabalhar", não procuraram serviços como este. "Eles são uber", aponta Sandra.
A condutora de tuk-tuk refere-se ao uso que estes participantes fazem dos serviços de transporte de empresas como a Uber ou a Cabify. A primeira não disponibilizou dados ao DN, a segunda explicou, através de fonte oficial, que "registou um incremento em 30% no número de viagens realizadas (comparativamente a uma semana "normal")", com um "crescimento exponencial" de "utilizadores provenientes de outros países".
Os bares e restaurantes sentiram mais movimento à noite, mas a AHRESP, a associação da restauração, ainda espera dados para avaliar o impacto e fará um inquérito aos seus empresários. De dia, nem por isso, testemunha Fernando Montoya, funcionário do Quiosque de Lisboa, na Praça Luís de Camões. "Não senti grande diferença durante o dia", reconhece ao DN. Ali ao lado, no restaurante A Velha Gruta, Marta Alberto nota que sentiu mais movimento em 2016. E quem procurou a restauração fê-lo em grupos, com reservas. Ali não passaram crachás do Web Summit, admite. Onde sentiu diferença foi a ir até ao emprego: "O metro não tem capacidade para tanta gente, um inferno."
Na tabacaria de A Brasileira, Ilda Cardoso da Silva desfia histórias de 54 anos de casa - "comecei ali a trabalhar, a vender café a peso" - mas notou pouco as visitas de tantos estrangeiros. "É mais no verão", compara. Abaixo, na Rua Garrett, na livraria mais antiga do mundo em funcionamento, a Bertrand, as visitas também não foram muito notadas. "Pensei que se notasse mais", confessa Ricardo, funcionário.
Desce-se o Chiado, sem mil tranças nem muitos crachás para ver, desce-se ao Terreiro do Paço e pelo caminho entra-se num hotel ao calhas. Na receção do My Story, na Rua do Ouro, Gustavo Cotrim e Rita Cunha notam que este ano diminuiu a procura de gente da Web Summit. Com pouco tempo para ver a cidade, prometem voltar, contam.
Quem não voltará tão depressa é Ellie Kim, Jeong e Seungsoo Han. Vêm da Coreia da Sul, aproveitam o cenário das letras que estão plantadas na praça para a fotografia, depois de terem aproveitado a cimeira para apresentar o seu pitch, o Planty Square. Para eles não houve incómodo.