Peça sobre mulheres vítimas de genocídio no Ruanda em estreia nacional no Porto

A peça "Unwanted", de Dorothée Munyaneza, que aborda as histórias reais de mulheres vítimas do genocídio do Ruanda, em 1994, vai ser apresentada na sexta-feira no Teatro do Campo Alegre, no Porto, em estreia nacional.
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"Para escrever esta história, Dorothée Munyaneza foi ao encontro de mães rejeitadas, mulheres feridas pelas circunstâncias de uma vida que não planearam, e a quem lhes foi feita sempre a mesma pergunta, como início de conversa: 'Depois do que lhe aconteceu, o que fez para se aceitar como é?'", pode ler-se na apresentação do espetáculo.

Concebido por Munyaneza, que integra o elenco ao lado de Holland Andrews e Alain Mahe, "Unwanted" tem música do trio de intérpretes e ainda o trabalho do artista plástico Bruce Clarke, numa obra que mistura as linhas entre música, teatro e dança.

Parte de relatos de histórias reais "de mulheres que se viram violentadas na sua intimidade" e tem como pano de fundo o massacre entre abril e julho de 1994, em que morreram entre 500 mil a um milhão de pessoas, dois milhões foram deslocados e entre 100 mil a 250 mil mulheres foram violadas ou agredidas.

Entre o 'spoken word', os cânticos e a música instrumental, além do recurso à dança e outras expressões físicas, há um esforço de representação do trauma e dificuldades causadas pela violação às mãos de militares e milícias no Ruanda, mas também noutros países, como o Chade, a Síria, ou a antiga Jugoslávia.

No Ruanda, o processo de entrevistas contou com o apoio de Godeliève Mukarasi, fundadora da instituição Sevota, dedicada a apoiar mulheres tutsi agredidas durante aquele período.

"Pensei que ia encontrar mulheres despedaçadas, mas longe disso: os seus testemunhos foram além da generosidade, beleza e dignidade", explicou a criadora, citada em comunicado.

Em entrevista ao Público, em 18 de março de 2018, Munyaneza refere-se ao tema da peça como "uma história universal", destacando a violência "imposta aos corpos das mulheres" durante períodos de conflito como uma "arma de destruição maciça, destinada a anular todo um corpo social, emocional".

Há um ano, em março de 2018, Munyaneza já tinha estado no Porto, apresentando no Teatro do Campo Alegre a peça "Samedi Détente", em que olhava para o genocídio do ponto de vista dos 20 anos em que viveu fora do seu país.

A crítica do New York Times à apresentação do espetáculo no Centro de Arte Baryshnikov destacava um teatro "sofisticado e muitas vezes eloquente de forma bela", com "níveis múltiplos que são uma adição importante ao entendimento de como a arte pode relacionar-se com o que nenhum de nós anseia saber".

Na quinta-feira, a norte-americana Holland Andrews, parte do elenco, orienta uma oficina paralela, intitulada "A voz alternativa incorporada", pelas 18:00, no Campo Alegre.

O objetivo é a exploração "da personificação vocal e da composição, usando instrumentos alternativos para criar paisagens sonoras", e os participantes são convidados a trazer "objetos de uso doméstico ou instrumentos musicais".

"Unwanted" é apresentado em estreia nacional pelas 19:00 de sexta-feira, no Teatro do Campo Alegre, numa récita única que terá uma conversa após o espetáculo com a dramaturga e encenadora Raquel S.

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