PCP. Uma oposição disposta a negociar com o governo
Jerónimo de Sousa abriu o XXI Congresso do PCP a afirmar o partido como "força de oposição" e fechou-o a avisar que não há alternativa política à esquerda sem os comunistas. Uma frase que, não sendo original no discurso do partido, ganha novo peso depois de o Orçamento do Estado para 2021 ter passado graças à abstenção da bancada comunista. Neste XXI Congresso, o PCP foi a Loures repetir ponto por ponto as conquistas que reclama para si no documento, deixando em aberto que este caminho possa prosseguir. Mas com a fasquia alta. A lista de exigências está em cima da mesa e contempla questões como o aumento do salário mínimo ou a legislação laboral.
"O PCP e a sua força contam para que os problemas nacionais tenham solução", disse o líder parlamentar do partido, João Oliveira. No imediato, o PCP não se cansará de repetir os ganhos no OE 2021, até por contraponto aos que "desistiram" - referência de Jerónimo Sousa com destinatário no Bloco de Esquerda. Jorge Pires, da Comissão Política do partido, diria mais tarde que o caminho alternativo de esquerda é "um processo longo e complexo" que tem de ser feito "sem impaciência" e "sem fadiga".
Como era esperado, Jerónimo de Sousa sai do XXI Congresso novamente como secretário-geral do partido, eleito pela quinta vez, mas com a novidade de um voto contra de um dos membros do Comité Central. Nunca tinha acontecido. Quando foi eleito pela primeira vez, em 2004, sucedendo então a Carlos Carvalhas, Jerónimo contou com quatro abstenções. Mas desde então foi sempre eleito com a totalidade dos votos do Comité Central (com a exceção do próprio, que não vota), uma unanimidade que agora se quebrou.
Jerónimo parte para o quinto mandato de quatro anos com o aviso de que não está a prazo. Disse-o no discurso final - "não estamos aqui a prazo datado nem em período experimental" -, numa frase improvisada que não constava do discurso escrito, contrariando assim a ideia de que não levará até ao fim o mandato de quatro anos. Outra teoria que vinha sendo aventada, de recuperação da figura de um secretário-geral adjunto, não se confirmou neste congresso.
Já a resolução política do partido, que define a estratégia política para os próximos quatro anos, foi aprovada por unanimidade.
Mas, no que aos órgãos do partido diz respeito, o congresso deu sinais para o futuro, com a entrada do eurodeputado e candidato presidencial João Ferreira - que foi também um dos nomes mais aplaudidos pelos congressistas - na Comissão Política do partido, a direção executiva do PCP que, a par do Secretariado, constituem os órgãos de cúpula do partido.
Depois deste congresso há cinco nomes que somam a presença na Comissão Política e no Secretariado: Jerónimo de Sousa, Francisco Lopes, Jorge Cordeiro e José Capucho, que integravam a composição anterior, e agora também Paulo Raimundo.
Mas se houve tema que atravessou os três dias de congresso foi... o próprio congresso, com os comunistas a responderem às muitas críticas que se fizeram a ouvir, sobretudo à direita, à realização do encontro. Uma "ofensiva antidemocrática" e "anticomunista", resultado de um "ódio fascizante" contra o PCP, vindo, nas palavras de Francisco Lopes, de "carrascos da democracia" que "vomitam ódio" contra o PCP.
Com 600 delegados reunidos no Pavilhão Paz e Amizade , em Loures, os dirigentes do PCP insistiram no argumento de que a realização do encontro mais não fez do que acompanhar a vida dos trabalhadores portugueses. Disse-o Jerónimo logo na abertura, afirmando que o PCP "não se dá ao privilégio e ao egoísmo de se resguardar enquanto centenas de milhares de trabalhadores continuam nos seus locais de trabalho", a "resistir à intensificação da exploração" feita a pretexto da pandemia, e repetiram muitos dos oradores do conclave. E voltou a resumi-lo no encerramento, com críticas às restrições impostas em nome da pandemia: "Se há algum ensinamento a extrair deste congresso é que não existe nenhuma dificuldade intransponível para garantir a segurança sanitária e o exercício dos direitos e liberdades".