Paulo Varela Gomes. História da Arquitetura perde pioneiro
O crítico, historiador de arquitetura e professor universitário Paulo Varela Gomes morreu ontem, quatro anos depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro. Desde essa primavera de 2012 em que acordou "com um inchaço do tamanho de uma amêndoa no lado esquerdo do pescoço", como relatou num texto que escreveu em abril de 2015 para a revista Granta, testemunho da experiência com a doença, até ao desfecho ontem ditado por esse inchaço, Paulo Varela Gomes dedicou-se à escrita, publicando cinco livros.
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"Um extraordinário historiador de arte, pioneiro da história da arquitetura, uma área em que mudou os modos de ver, em que renovou toda a metodologia", afirmou o historiador de arte Vítor Serrão, seu amigo há mais de 40 anos. "Desde as lutas académicas, desde os tempos da UEC", refere, remetendo para o envolvimento na atividade política de Paulo Varela Gomes, na União dos Estudantes Comunistas (UEC), o braço estudantil do PCP, na altura dirigido por Zita Seabra.
"Era um ativista, um anti-fascista, um homem cheio de coragem", refere o também professor da Universidade de Lisboa, remetendo para "o lastro familiar do pai", o coronel Varela Gomes, militar que esteve ligado ao golpe de Beja (1961).
Nascido em Lisboa a 28 de outubro de 1952, Paulo Varela Gomes licenciou-se em História pela Universidade Clássica de Lisboa em 1978. Dez anos depois, quando completa o mestrado em História da Arte, já se afastara do PCP e, juntamente com Miguel Portas foi um dos fundadores do movimento Política XXI, um dos três grupos na génese do Bloco de Esquerda.
"Mas depois afastou-se da política. E ainda bem porque se ganhou um extraordinário historiador de arte", refere Vítor Serrão. Foi já na Universidade de Coimbra que fez o doutoramento em História e Teoria da Arquitetura. Na instituição, onde foi professor de 1991 até dezembro de 2012, deu a sua última aula sob o título "Do sublime em arquitetura".
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Professor do departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra, Walter Rossa também destaca a importância de Paulo Varela Gomes para a história de arte: "Foi muito importante e mesmo muito relevante a ação dele como crítico de arquitetura, depois como historiador de arquitetura, onde tem uma obra notável".
Acima de tudo, Walter Rossa destacou a sua capacidade "extraordinária" de "mobilização das pessoas que o rodeavam, designadamente os alunos, onde deixou marcas em várias gerações", pela energia e pelo "brilhante" raciocínio. Um aspeto igualmente salientado por Vítor Serrão: "Tinha um dom, era um ótimo comunicador, formou uma escola de novos historiadores de arte, na linha do que fazia". Uma característica que o levou a protagonizar duas séries documentais para a RTP: O Mundo de Cá, sobre as civilizações que os portugueses encontraram quando chegaram à Índia e a Ceilão, e Malta Portuguesa, sobre as relações ocultas entre Portugal e Malta.
"A projeção que a Fundação Oriente adquiriu na Índia deve-a ao Paulo Varela Gomes", defende Walter Rossa, referindo as suas duas passagens por Goa (1996/1998 e 2007/2009), como representante da Fundação Oriente na Índia. Entre os cinco livros que escreveu desde 2012, destaque para Hotel, que venceu o prémio PEN Narrativa em 2015. O funeral realiza-se hoje, depois de uma missa de corpo presente, às 15.30, na capela de Podentes, no cemitério local.