Paulo Nozolino: fazemos o que podemos com aquilo que temos
"Podes começar [o texto] assim: "Como é que ela caiu da bancada é que eu fico admirado." Grande frase. Não é? A gente tem de aproveitar os acasos todos da vida." A frase que Paulo Nozolino repetiu disse-a o senhor do café logo ao lado da galeria Quadrado Azul, em Lisboa. Passou a falar pela mesa no preciso momento em que a entrevista estava para começar.
"Make Do significa fazer o que se pode com aquilo que se tem", diria o fotógrafo já na rua, enquanto partia o filtro a mais um cigarro, como sempre faz antes de os acender. É o título da exposição que, ontem, se inaugurou naquela galeria, então a alguns passos. Dentro da sala há vinte provas de contacto feitas a partir de negativos que datam de 1974 a 2013. Nozolino esteve três meses à procura de "fotografias de mulheres, nus, e fotografias intimistas que tinha feito ao longo dos anos". Ficaram 20 provas, sempre 24 por 36 mm de gelatina de prata, emolduradas. Em cada uma, uma mulher. A letra que - com a cidade e o ano em que a foto foi tirada - faz o título das obras é a inicial do nome de cada uma das mulheres. Às vezes, repetem-se: por exemplo, a partir de 2008 é sempre a "A".
"Isto no fundo é um voltar à matriz da fotografia", nota Nozolino. Referia-se ao facto de se tratar de provas. Todavia, é também a outra matriz que regressa. Tornou-se fotógrafo porque um dia, tinha 17 anos, a namorada acabou com ele e Nozolino correu para casa à procura da Kodak com que lhe haveria de tirar a primeira e última fotografia. "Essa não está incluída porque o negativo era quadrado", responde.