Paul Ryan: a dois ataques cardíacos da Casa Branca
Para muitos, o speaker (presidente) da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos é o homem que aparece nas fotografias do discurso do Estado da União atrás do presidente, sentado ao lado do vice-presidente. Mas a verdade ao ser eleito, Paul Ryan passou a ocupar o segundo lugar na linha de sucessão ao presidente. Ou, como gostam de lembrar alguns analistas, o congressista do Wisconsin, depois de ter tentado ficar a apenas um ataque cardíaco da Casa Branca, quando em 2012 foi candidato a vice-presidente com Mitt Romney, consegue agora ficar a dois ataques cardíacos da presidência.
Aos 45 anos, o mais jovem speaker desde 1869 pegou pela primeira vez no martelo empenhado em deixar marca no Congresso. E começou por mudar... o próprio nome. Em documentos oficiais, passa a ser identificado como Paul D. Ryan. Pouco habituado a um papel institucional, que passa tanto por abrir as portas da Câmara dos Representantes, como por definir os objetivos legislativos do seu partido ao mesmo tempo que tem de cooperar com a oposição, Ryan traçou como prioridades a redução do défice orçamental e a reforma fiscal.
Eleito sem qualquer voto democrata e com a aprovação de 236 dos 247 republicanos na Câmara, Ryan tem como primeira tarefa unir uma maioria republicana em que as divisões entre a ala mais radical e os mais moderados levaram à demissão o seu antecessor, John Boehner. "Não estamos a resolver os problemas. Estamos a contribuir para eles", garantiu Ryan no primeiro discurso como speaker da Câmara.
Na cerimónia de posse, todos os olhares se viraram para a reação do grupo da ala dura dos republicanos. No final, todos se levantaram para aplaudir Ryan. Resta saber como será a sua relação depois desta trégua. E qual vai ser a resposta do speaker às exigências de um grupo que defende mais poder para os congressistas individualmente. "Ele quer mudar as coisas, Por isso estamos cautelosamente otimistas que ele vá mudar a forma como se fazem as coisas por aqui. Vamos dar-lhe uma hipótese". E a verdade é que Ryan já prometeu dar mais poder às Comissões e aos membros individuais da Câmara. Quem conhece um assunto, deve escrever sobre ele", explicou.
Enquanto Boehner, que se despediu do Congresso com um discurso emotivo e uma caixa de lenços de papel para secar as lágrimas, chegou a speaker em 2011 com a fama de moderado e ao longo dos anos se empenhou em acalmar a ala mais radical dos republicanos, liderada pelo Tea Party, Paul Ryan pertence a uma nova geração.
Vinte anos mais novo que o antecessor, o congressista do Wisconsin levou os três filhos - de 10, 12 e 13 anos - à cerimónia de posse. Tal como a mulher, Janna, uma advogada especializada em direito fiscal e conhecida lobbbyista. Foi na festa de anos dela que um amigo comum a apresentou a Ryan, com quem casou em 2000, tendo-se tornado mãe a tempo inteiro. Ao lado dos Ryan estava Mitt Romney, o ex-governador do Massachusetts, que em 2012 escolheu Paul Ryan para vice na corrida à Casa Branca.
Católico e desportista
Filho e neto de advogados do Wisconsin, Paul Ryan nasceu em Janesville, onde ainda passa os fins de semana com a família. Descendente de irlandeses, estudou em escolas católicas, tendo sido acólito na igreja. Desportista de talento, praticou basquetebol, mas também esqui, futebol e atletismo. Formado em Economia no Ohio, foi aí que conheceu o professor Richard Hart, um libertário, que o introduziria na política ao conseguir-lhe um estágio no gabinete do senador do Wisconsin Bob Kasten, em Washington.
Eleito para o Congresso em 1998, aos 28 anos, Paul destacou-se pelas suas propostas para privatizar o Medicare, a assistência social para os idosos, cortar nos impostos para os mais ricos e aumentar os gastos com a defesa. Mas em 2008, o chamado "Orçamento Ryan", só teve oito apoiantes e não passou da comissão para o plenário da Câmara.
Apesar das suas posições pouco consensuais, foi Ryan quem negociou em nome dos republicanos o acordo com os democratas que pôs fim à paralisação (shutdown) do governo durante 15 dias em 2013. Passados dois anos, o acordo sobre o orçamento assinado esta semana - com apoio de Ryan - dá ao novo speaker alguma margem para tentar resolver os detalhes práticos de funcionamento da Câmara que têm dividido a maioria republicana.
As grandes reformas fiscais terão de esperar. Até porque, como escreveu a Forbes, é pouco provável que Ryan tente introduzir mudanças de fundo antes das presidenciais de 2016 que redefinem também toda a Câmara dos Representantes (e um terço do Senado). "Ele sabe que tem de jogar o jogo da espera. E tem todo o tempo do mundo", afirma Kelly Phillips Erb na revista.