Paul Biya festeja 40 anos no poder nos Camarões e falar de sucessão é um tema tabu
Quando Paul Biya chegou ao poder nos Camarões, Ronald Reagan estava no seu segundo ano como presidente dos EUA, Madonna ainda não tinha chegado aos tops e a União Soviética estava a uma década de ruir. Biya, de 89 anos, vai festejar amanhã os seus 40 anos à frente dos destinos deste país que conquistou a independência da França em 1960. É um dos líderes há mais tempo no poder em África (só é batido por Teodoro Obiang que governa há 43 anos a Guiné-Equatorial), um feito conquistado com mão de ferro e o apoio de pessoas leais em posições chave.
A Reunião Democrática do Povo de Camarões (RDPC), que Biya fundou em 1985, vai realizar uma "grande festa" em todo o país para assinalar o aniversário. Os festejos vão celebrar a "estabilidade política e paz - os maiores sucessos destas últimas quatro décadas", disse à AFP um dos membros do comité central do partido, Hervé Emmanuel Nkom. O grande evento será um "megacomício regional" frente à câmara de Iaundé, a capital, mas ainda não se sabe se o próprio Biya estará ou não presente.
A festa procura desviar a atenção da "questão crucial", disse o professor e investigador de Ciência Política Stéphane Akoa. "Não é se os Camarões estão bem ou podiam estar melhor, mas como está o presidente", indicou à AFP. Após a queda de Robert Mugabe, líder do Zimbabwe até 2017, tornou-se no mais velho presidente africano e o segundo há mais tempo no poder após Obiang. As suas aparições em público, cada vez mais raras, estão limitadas a discursos gravados, o que levanta especulações sobre a sua saúde.
Após sete anos como primeiro-ministro, Biya entrou no palácio presidencial a 6 de novembro de 1982, tornando-se no segundo chefe de Estado após a independência. O facto de estar há 40 anos no poder é um tributo às suas habilidades de equilibrista num país que enfrenta problemas sociais, políticos e de segurança e luta contra a desigualdade económica.
Em outubro de 2018 ganhou o sétimo mandato consecutivo, após eleições marcadas pelas alegações de fraude, baixa participação e violência separatistas nas regiões anglófonas do país. Foi declarado o vencedor com 71,28% dos votos. Nos últimos anos tem reprimido a oposição, política e armada, o que lhe valeu raras críticas das Nações Unidas e do Ocidente.
Qualquer discussão oficial sobre a sucessão de Biya é tabu e nenhuma das figuras mais visíveis em torno do presidente expressou qualquer desejo em dar o passo em frente. "Ministros caíram em desgraça só por pensarem numa saída teórica do presidente", disse um especialista em Defesa e Segurança dos Camarões, Aimé Raoul Sumo Tayo. "Biya pôs a regra do "dividir para conquistar" em prática. As forças que o poderiam ter desafiado foram incapazes de se organizar e, ainda menos, unir-se", disse Akoa.
Ainda assim, surgem nomes. Entre eles o do filho do presidente, Franck Biya, que já tem um grupo de seguidores - os "Franckistas". Também de fala do ministro das Finanças, Louis-Paul Motazé, ou do chefe de gabinete e braço direito de Biya, Ferdinand Ngoh Ngoh. Este último terá o apoio da influente mulher do presidente, Chantal Biya, sendo o líder de facto graças aos poderes executivos.