Patxi López quer ser uma terceira via e reconstruir o PSOE
Um socialista basco. É assim que Patxi López se define na sua página do Twitter. Presidente do Congresso dos Deputados entre janeiro e julho, no rescaldo das legislativas que deram origem aos dez meses de impasse político em Espanha, assume-se agora como uma terceira via entre Pedro Sánchez e Susana Díaz ao apresentar o projeto com o qual quer "reconstruir" o PSOE pois é "hora de sarar as feridas e buscar a força da unidade".
Num texto publicado no El País intitulado "Novo projeto para um novo século", o antigo presidente do governo do País Basco, de 57 anos, sublinha que o PSOE "continua a ser um grande partido", mas deixou um alerta: "Não podemos convertermo-nos nos nossos próprios inimigos. Está na hora de reconstruir o partido, de sarar as feridas e buscar a força da unidade, mas também de renovar o nosso projeto. O mundo mudou, os problemas são diferentes e as nossas velhas respostas ficaram antiquadas".
Patxi López defende que o seu projeto tem como objetivo superar o "espetáculo" protagonizado pelo PSOE e pede aos socialistas uma reflexão sobre quatro temas - quem defende o partido, a reforma da Administração Pública, a necessidade de participar na economia e definir um modelo de Estado moderno.
"Há um caminho diferente, mais solidário, de progresso coletivo. Mas temos de demonstrá-lo, socializá-lo e procurar a cumplicidade dos cidadãos. Comecemos já", termina assim o texto de Patxi López.
Este artigo foi recebido com uma aparente frieza dentro do PSOE, dirigido por uma comissão gestora desde a reunião do comité federal de 1 de outubro que culminou na demissão de Pedro Sánchez do cargo de secretário-geral.
Para os apoiantes de Susana Díaz, escrevia ontem o ABC, o passo dado por Patxi López é visto como "previsível" desde que Mikel Torres, um elemento da comissão executiva do PSE, a federação basca dos socialistas, afirmou que este era "a melhor opção" para liderar o PSOE. Mas acham que o basco se "precipitou", pois ainda não há data marcada para o congresso que escolherá o novo líder do partido.
Do outro lado da barricada estão os apoiantes de Pedro Sánchez, que consideram Patxi López está a trair o ex-líder dos socialistas. "O pedrismo está com o Pedro", disse ao ABC um fiel seguidor de Sánchez.
O alinhamento político entre Patxi e Sánchez durou toda a liderança do ex-secretário-geral. Fez parte da comissão executiva desde o início, votou ao lado do líder no comité federal de 1 de outubro a favor de um congresso extraordinário imediato e na reunião seguinte, já após a demissão de Sánchez, fez parte dos 41% dos que se mostraram contra a abstenção à investidura de Mariano Rajoy. O caminho de ambos só se apartou quando Sánchez renunciou ao seu mandato de deputado para não quebrar a disciplina de voto e Patxi López acabou por se abster.
Uma alternativa saudável
Resta saber qual será o real apoio a uma possível liderança de Patxi López. A maior crítica feita pelas federações socialistas que defenderam a abstenção ao governo de Mariano Rajoy - e que portanto não são apoiantes de Pedro Sánchez - é o menosprezo de Patxi López pela nação espanhola.
Talvez por saber isso, no seu projeto para o novo PSOE, o basco tenta agradar às federações menos nacionalistas, como a Catalunha, Baleares, Galiza e a Comunidade Valenciana. "A nação como conceito de sociedade coesa por uma identidade comum já não existe", escreveu no seu artigo do El País.
Há ainda que ter em conta outros sectores do PSOE que veem este avanço de López como uma alternativa saudável à tóxica disputa entre Sánchez e Díaz.
[artigo:5480632]