Património Cultural quer instalar máquinas automáticas de venda de bilhetes
Paula Silva, diretora-geral do Património Cultural, reitera, em declarações ao DN que serão realizados inquéritos no Convento de Cristo. Um para investigar os danos provocados pela passagem da equipa de rodagem do filme do realizador britânico Terry Gilliam e outro para averiguar a veracidade das suspeitas de roubo na bilheteira do monumento, património mundial da Humanidade, segundo a Unesco.
Os inquéritos surgem na sequência das denúncias tornadas públicas numa reportagem do programa Sexta às Nove, da RTP. "Face à situação levantada abrimos um processo de averiguação", afirma a diretora-geral do Património Cultural, Paula Silva, ao DN. "Já estamos a trabalhar nisso".
As suspeitas de roubos nas bilheteiras são um dos aspetos referidos na peça da RTP. Funcionários e ex-funcionários do Convento de Cristo alegam que a bilheteira é o lugar mais apetecível e que só está acessível a algumas pessoas. Paula Silva afirma que existe na Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) "uma unidade de auditoria que vai fazendo verificação aos sítios". Mas, acrescenta, "nunca tivemos qualquer chamada de atenção, mesmo anónima", relacionada com este monumento.
"É um assunto que pode ser resolvido com máquinas automáticas de venda de bilhetes", considera Paula Silva, recusando comentar as normas de segurança envolvidas. "Vamos ter de fazer averiguação, não partimos do princípio que as pessoas roubam", acrescenta.
"Nunca houve nenhuma denúncia sobre possíveis desvios. Até fazer a averiguação, não sabemos, mas é uma coisa que às vezes acontece. Sei de casos e não são da DGPC", sublinha.
E no seio da DGPC já existiram casos de desvio de fundos, anteriores à tomada de posse de Paula Silva. Em 2013, foram notícia desvios de dinheiro nas bilheteiras do Mosteiro dos Jerónimos e na Torre de Belém.
Danos colaterais provocados pela fogueira
A DGPC quer fazer um levantamento dos danos provocados pela passagem das filmagens de O Homem que Matou D. Quixote, apesar de já ter confirmado que sofreram danos quatro fragmentos pétreos e seis telhas. Outro aspeto que entra nestas averiguações prende-se com a fogueira de 20 metros de altura que foi feita no claustro da hospedaria do Convento de Tomar, que foi autorizada no âmbito das rodagens e do contrato de aluguer de espaços.
"A diretora-geral não sabia da fogueira. [O aluguer] Foi tratado diretamente com a diretora do Convento de Cristo", responde Paula Silva, referindo-se a Andreia Galvão e remetendo para o inquérito. "Não sabia nem tem de saber", considera. Os diretores dos monumentos e museus são responsáveis pelos espaços e pelos seus usos".
Realizador Terry Gilliam reage e a produtora assume responsabilidades
O realizador Terry Gilliam considera de uma "ignorância sem sentido" as acusações de estragos ao Convento de Cristo, em Tomar. Através da rede social Facebook, anunciou o final da rodagem do filme - um projeto que tinha em mãos há 17 anos - e sublinhou que nunca desrespeitou a arquitetura do Convento de Cristo, "um dos mais gloriosos edifícios" que disse ter visto.
A produtora de O homem que matou D. Quixote, Ukbar Filmes, garante que foram cumpridas "todas as condições estipuladas" e que a rodagem teve "sempre acompanhamento técnico" dos profissionais do monumento.
Em resposta a um pedido de esclarecimento, os produtores Pablo Iraola e Pandora da Cunha Telles reconheceram que se verificaram alguns danos na rodagem: seis telhas convencionais partidas e "quatro fragmentos pétreos de dimensões reduzidas".
Os danos "foram devidamente contabilizados pela equipa de peritagem associada ao convento, que tão bem conhece o espaço e fez a sua avaliação antes e depois da rodagem", afirmam os produtores associados desta produção internacional.
Sobre a recuperação dos danos, a Ukbar Filmes refere que "irão ser aplicadas as mesmas técnicas que se aplicam habitualmente para este tipo de construção e que o convento utiliza ano após ano para tratar a deterioração habitual do mesmo".
"Desde o primeiro momento, tivemos consciência da responsabilidade de estar a utilizar um espaço histórico, que para além de monumento nacional é património mundial, e nunca nos passaria pela cabeça desvirtuar", sustentam os produtores.
Segundo a Ukbar Filmes, o corte de árvores foi autorizado pelos serviços do convento, por não serem "espécimes autóctones" e que "deveriam ser substituídos", e o fogo foi ateado com a supervisão do comandante do Corpo dos Bombeiros Municipais de Tomar e de elementos da Proteção Civil.
"Este filme trouxe a Portugal capital genuíno e criou trabalho para técnicos, atores e empresas portuguesas. Veio demonstrar também que Portugal tem talento e capacidade para estar a par de países com muito mais avultados recursos económicos", sublinharam os produtores.
Inquéritos não são para se arrastar
Funcionários e ex-funcionários do Convento, que não dão a cara na reportagem, referem ainda que trabalhadores da instituição foram chamados a trabalhar em casa da diretora, durante o horário de trabalho.
Para a realização dos inquéritos será nomeada uma comissão e será estabelecido um prazo para a sua conclusão. "Não é uma coisa para se arrastar".
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