Patrícia Gilvaz: "Há esse olhar de uma certa descredibilização por causa da idade"

24 anos, advogada e deputada da Iniciativa Liberal. A eleição mudou-lhe a vida. Saiu de casa dos pais, no Porto, e enfrenta agora uma rotina completamente diferente. Patrícia Gilvaz tem uma missão: "trazer os problemas dos jovens para o Parlamento" que os "mais velhos" não os sentem na pele.
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O que é que mudou na sua vida desde que foi eleita?

Em primeiro, foi ter de vir do Porto para Lisboa, sair de casa dos meus pais e toda aquela rotina diária de estar sozinha e ter de fazer tudo por mim. Estava habituada a uma rotina muito parecida todos os dias, mas aqui todos os dias são diferentes, o que para mim é ótimo porque não gosto de coisas monótonas.

Como é o seu ritmo agora?

É casa-gabinete e gabinete-casa, é sempre a mesma rotina de ter de andar nos corredores do gabinete parlamentar lá de baixo, onde estão a maior parte dos deputados e assessores.

Sentiu a idade, o facto de ter 24 anos?

Tento não ligar muito a isso, mas , às vezes, há esse olhar de uma certa descredibilização por causa da minha idade. Mas com as várias intervenções que vou fazendo, com os temas que vou trazendo, vai ser gradual e natural ir ocupando o meu espaço. Senti isso mais no início, mas abstraio-me muito disso. Estou cá com uma missão muito específica que é a de trazer os problemas dos jovens para o Parlamento e é nisso que estou concentrada.

Que objetivos são esses?

Os jovens estão muito pouco representados no Parlamento e a Iniciativa Liberal teve um papel fundamental nisto porque colocou dois jovens no seu grupo parlamentar de oito. Embora os deputados mais velhos possam compreender os problemas, não os sentem na pele e por isso é importante que haja representação jovem.

E como é que isso se faz?

Tentando ter uma voz e estando sempre ativos, mas também depende muito da disponibilidade que o outro lado tem para nos ouvir e perceber.

E quais são as questões?

Gostaria muito que esta questão do desemprego jovem e o facto de os jovens não terem emprego no nosso país por estar estagnado há demasiado tempo [fosse discutida], também gostava de trazer a questão da saúde mental porque acho que é também uma pandemia que está a assolar a nossa sociedade. E a habitação jovem porque é um flagelo na nossa faixa etária, os jovens não conseguem adquirir casa.

Quais são os dados que tem para falar sobre a saúde mental e achar que é uma preocupação?

Quando estava na faculdade, gostava de falar com pessoas responsáveis pelos gabinetes de apoio aos alunos e recordo que me disseram que dois em cada três jovens na Universidade do Porto tinham problemas de saúde mental. A questão da pandemia veio agora agravar estes dados e não é só no meio académico.

Porque é que é liberal?

É curioso, porque sempre fui um espírito livre, sempre tive uma opinião liberal e uma visão da sociedade livre na vertente económica. Mas não percebia que o era, ou seja, até aparecer a Iniciativa Liberal, não me sentia identificada com nenhum partido. Quando apareceu a Iniciativa Liberal, comecei a pesquisar os seus princípios, a liberdade individual, a autonomia do indivíduo, a questão de descentralizar para estar mais próximo dos cidadãos. Identifico-me muito com esse tipo de valores. Acho que foi aí que percebi que era a tal liberal que não sabia que era.

O que é que a separa do PSD?

O espírito reformista de querer mudar tudo. Acho que o PSD tem estado numa fase em que quer algumas reformas, mas não tem a coragem para avançar com elas.

E quando olha para o Governo e para o Partido Socialista?

Estão lá há demasiado tempo. Se olharmos para o panorama político dos últimos 20 anos, 18 foram governados pelo Partido Socialista ou pela força da ala esquerda. Se olharmos para isto e virmos que há mais de 20 anos que somos um país que está estagnado, sem crescimento, estamos num panorama em que os jovens têm cada vez menos oportunidades, percebemos que o problema só pode vir da esquerda.

Aquilo que vê na ala esquerda também vê no PSD ou via no CDS?

Menos. O que aponto mais ao PSD é o serem mais contidos nas reformas e sua incapacidade de lutar por elas e de as levar avante.

E o que é que tem de inovador o seu partido?

A energia, as pessoas que dão tudo de si para conseguirem reunir ideias e pesquisar como podem fazer mais e melhor. Nós temos a energia e a vontade, é muito difícil de explicar, porque são coisas que não se descrevem, sentem-se.

Como é que reagiram os seus pais e amigos quando descobriram que tinha sido eleita deputada?

Ficaram muito felizes, mas sempre com o coração nas mãos por ser a primeira vez que saía do Porto para morar sozinha. Os meus amigos também ficaram contentes. A minha mãe não gosta muito de política, mas o meu pai tem uma visão também mais à direita, embora não seja tanto a visão da Iniciativa Liberal. É mais conservador talvez, entre o PSD e o CDS. Aliás, foi até o meu pai que me chamou à atenção para a criação da Iniciativa Liberal, foi ele que me incentivou a pesquisar sobre eles. O meu pai conhece-me bem e percebeu logo que me ia identificar.

E o Direito e a advocacia, ficam para outras núpcias?

Neste momento, estão suspensos. É mais uma vertente minha de querer ajudar os outros, mas neste momento está suspenso e ficará suspenso até acabar esta fase e depois retomarei.

Gostaria de fazer um segundo mandato?

Acho que sim, mas ainda é um bocado cedo para dizer. Mas acho que nunca conseguimos fazer tudo de uma só vez e os desafios vão sendo sempre diferentes. Agora tenho 24 anos, mas no fim da legislatura terei 28 anos e vou olhar para a vida de outra forma.

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