Passado prometedor...

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Algo de estranho se passa neste país. Ou algo de estranho se passa comigo. Aceito qualquer das hipóteses. Ambas servem para abordar o tema de hoje, relativo às comemorações do Dia da Raça.

O Presidente da República, numa frase, sintetizou tudo o que penso sobre a minha pátria, ao afirmar: " Portugal será essencialmente o que dele fizermos. Ninguém o fará por nós." Foi simples e lapidar.

Há alguns anos, um jovem economista, virando-se para mim, disse: "Você pertence a uma geração de passado prometedor." Referiu, em seguida, uma lista de pessoas de quem muito se havia esperado e que pouco haviam produzido. Abstenho-me, por pudor, de enunciar os nomes dessas pessoas, ainda vivas, ainda activas e ainda, infelizmente, a pensar exclusivamente no seu umbigo e no seu património? Na altura, respondi que o poder quase sempre corrompe o que há de melhor em nós, e que ele esperasse para ver o que é que os "jovens turcos" da sua geração iriam fazer. Os anos passaram sobre mim e sobre esse meu colega do Banco de Portugal. Ele, como muitos da sua época, exerceu funções de grande responsabilidade nesta terra. E também eles ficaram sem presente ou futuro à altura daquilo que dos mesmos se esperava. Azares da vida? Acidentes de percurso? Falta de saúde? Dramas familiares? Nada disso. Apenas acomodação ao "bem bom" dos cargos a que haviam chegado e de que não pretendiam abdicar?

Ao ler os excertos do discurso do prof. Cavaco Silva e os do João Bénard da Costa, lembrei-me do meu colega e de como é difícil, a um português, a percepção da "sua" crise, quando o País pára dez dias com um concerto, ou um mês com o Mundial. Entre nós, apesar de todas as dificuldades económicas, há sempre dinheiro para a "música" e para o "futebol". E feriados ou horários a condizer, claro? Não foi assim que a Alemanha, onde até parece que se joga a "nossa sorte", saiu, há uns anos, da crise profunda em que esteve mergulhada. Nem a Espanha, a Irlanda ou os nórdicos. Só nós?

O João Bénard é que tem razão quando, sarcasticamente, diz que a crise pouca força terá na fatia de população que ainda tem um pedaço de pão e manteiga. Ou, por outras palavras, que tem um naco de "passado prometedor", que pesa pouco mas rende imenso! C

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