Páscoa, Ramadão e Pessach

Publicado a
Atualizado a

A cada 33 anos os três calendários abraâmicos coincidem nas páscoas católica e judaica e Ramadão. O jejum islâmico dura entre 29 e 31 dias, sendo que a Sociedade Astronómica da Tunísia, já vaticinou a possibilidade de o Eid, a Festa do fim desse mês (Ramadão é nome de mês) de privações diurnas, acontecer no próximo dia 30 de abril. No entanto, só se saberá na véspera, com a visualização da Lua Nova, sinal do início do mês seguinte, de nome Shawwal.

É hábito o "alto e baixo clero islâmico", acima dos fiéis, certamente com mais pecados e necessitado de dar o exemplo ao rebanho, festejarem o fim do jejum no dia indicado, mas no dia seguinte prolongam-no por mais uma semana, já que a Lei Islâmica diz que quem cumprir esta semana extra, fica isento de pecados, ainda antes de os cometer, para o ano novo islâmico que se avizinha. Ou seja, o cumprimento do jejum "normal" apaga os pecados já cometidos e o da primeira semana de Shawwal funciona como um crédito para o que ainda estará por vir. Independentemente das religiões, a criatura quer apresentar-se limpa perante o Criador quando a sua hora chegar.

Os muçulmanos esclarecidos antecipam-se desta forma, da mesma maneira que se explica a existência dos enormes turbantes brancos que dão um ar de imaculado algodão-doce às gentes do deserto, estando a pensar sobretudo na indumentária dos sudaneses. Ou seja, este turbante não existe para os proteger das areias levantadas pelo vento, mas antes para a hora da morte. Estando o muçulmano permanentemente preparado para a morte, carrega na cabeça a mortalha que o embrulhará e o enterrará ali mesmo, na localidade da morte (não existe a regra das 24h, por exemplo). A mortalha obedece a medidas específicas que podemos arredondar para um pano de 7m por 7m e por isso mesmo vai ganhando forma de um soufflé na cabeça.

Sobre os "calendários abraâmicos" há que ter em conta as seguintes características. O nosso, o gregoriano é o mais prático para o comércio, já que a fixação dos dias e das festas permite certa previsibilidade futura, eliminando muitas dúvidas comparativamente às dúvidas do dia-a-dia com que me deparei no Mundo Islâmico. A demarcação do ano civil estabelece limites, perspectiva o passado e prospectiva o futuro com menor incidência no "oxalá", no "se Deus quiser"!

O calendário islâmico é lunar. Ou seja, segue os ciclos da lua para a demarcação dos meses e do ano. Por isso mesmo, o calendário islâmico tem sempre entre menos nove a treze dias que o calendário gregoriano. Desta forma, este calendário é motivo de muitos mal-entendidos em países não islâmicos mas com forte presença muçulmana, sobretudo na desigualdade entre datas fixas (Natal e Páscoa, por exemplo) e datas não fixas como a celebração do fim do Ramadão, ou da Grande Peregrinação a Meca. Os feriados não podem ser marcados de véspera, o que cria engulhos para as lideranças islâmicas e para as lideranças políticas, que muitas vezes preferem decretar dois ou três dias de tolerância de ponto, nos dias prováveis para estas festas. Vi-o acontecer no Moçambique de Chissano, cuja fuga possível foi decretar o dia de Natal enquanto Dia da Família e não enquanto festa religiosa!

O calendário judaico trata-se de um híbrido interessante que se classifica como "Calendário lunissolar". Os meses são baseados nos ciclos da lua e o ano é adaptado consoante o ciclo solar. Ou seja, alternadamente este calendário tem anos com 12 meses e outros com 13 e um máximo de 385 dias no "ano maior". Já agora, hoje é dia 15 de Nisan do ano 5782, por estas "latitudes"!


Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt
Escreve de acordo com a antiga ortografia

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt