Partidos fazem "confissões de inutilidade", alerta deputado do PS

Dirigente socialista, deputado, ex-líder da JS, Sérgio Sousa Pinto foi o convidado desta noite na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide
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Ao adotarem formas de seleção de dirigentes dos partidos como as eleições diretas ou as eleições primárias (um método aberto a não militantes), os partidos estão a fazer uma "confissão da sua inutilidade", algo que em absoluto deve ser rejeitado.

A consideração foi feita esta noite pelo deputado e dirigente do PS Sérgio Sousa Pinto, num jantar-conferência na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide. Os partidos - disse - "não podem sacrificar tudo ao basismo externo, como diretas e primárias".

O que há a fazer com os partidos - disse - é "defendê-los", "melhorá-los", "proteger os melhores", "criar massa crítica de excelência", "não pactuar com a demagogia e se necessário pagar por isso" - porque "a demagogia gera demagogia, numa espiral em direção ao fundo".

Dizendo que cada vez que vê uma "sala cheia de jovens com paixão pela política" a única coisa que sente é "esperança", o também ex-líder da JS concentrou-se a defender a existência dos partidos como instrumento essencial da democracia e aconselhou combate aos que acham que a militância é "uma tara" apenas justificável por "razões torpes e inconfessáveis". A política "é a mais nobre entre todas as atividades nobres" e "uma pessoa que milita num partido fá-lo para ampliar as suas possibilidades cívicas" de intervenção na sociedade.

"O ataque aos partidos é um ataque à democracia e não há democracia sem partidos", a "única democracia é a representativa", "ao nível do subconsciente coletivo continua a haver [em Portugal] uma resistência aos partidos" formatado por cinco décadas de ditadura, afirmou. Em suma: "Uma democracia sem partidos é uma ditadura."

Nessa medida, defendeu também, vigorosamente, a existência de organizações partidárias de juventude, cuja necessidade de autonomia face aos respetivos partidos 'séniores' sublinhou ("são uma voz própria, não uma reserva etária"). E o discurso que apresenta as juventudes partidárias como "madrassas de formação de vícios" é "um discurso contra a democracia porque é um discurso camuflado para atingir os partidos".

Sousa Pinto advogou ainda à plateia que o ouvia outra causa prioritária: "Um dos adversários da liberdade é o PC. E quando digo PC não digo o Partido Comunista, digo o Politicamente Correto". No seu entende, este "PC" está-se a revelar "um temível adversário da liberdade" porque "policia as palavras, as expressões e os conceitos - e assim está também a policiar o pensamento", exerce "objetivamente uma censura" e cria um "ambiente de intimidação". "Têm de se bater contra a intimidação e pela liberdade. Na dúvida, sempre pela liberdade", isso "deve ser uma causa da vossa geração", afirmou.

Apresentado pelo "reitor" da Universidade de Verão do PSD, o eurodeputado Carlos Coelho, como um "socialista ilustre, deputado brilhante e amigo de longa data", Sousa Pinto iniciou a sua intervenção - que intitulou de "discurso aos jovens políticos" - pedindo que "resistissem à tentação" de retirar das suas palavras "críticas mais ou menos subliminares" ao seu partido e muito menos ao partido anfitrião, o que seria "uma grosseria".

No final, questionado por um dos alunos porque é que não milita no PSD - pergunta merecedora de gargalhadas e de aplauso -, o dirigente e deputado socialista começou por dizer ter "o maior respeito democrático" pelo partido. Mas na altura em que aderiu ao PS tinha "um enorme desejo de transformação social" e tanto assim que entrou no partido "pela esquerda", achando que o então governo do Bloco Central (uma coligação PS+PSD liderada por Mário Soares) era muito "conservador".

Antes tinha dito que aquilo que o levou à política foi aquilo que o fez ser de esquerda: a constatação de que "os fortes, se puderem, comem vivos os fracos" e a visão de intervenção cívica que o seu filósofo favorito, Karl Popper, lhe deu: "Temos de nos preocupar com 'os menos afortunados, os menos dotados e os menos implacáveis'".

Também questionado a partir da plateia, teorizou sobre a "questão interessante" da disciplina de votos a que estão sujeitos os deputados: "Acho indispensável" porque "se não existir os partidos decompõem-se": "Os partidos estão tão feridos que pôr em causa a disciplina de votos seria muito grave".

Seja como for, "não tem de ser em todas as condições", implica "diálogo" das direções parlamentares com os seus deputados - até porque "um deputado é um homem livre, livre até dos seus eleitores, não é uma correia de transmissao, um veio, é um centro de decisão livre".

No final, deixou "um apelo": "Nunca se esqueçam que os vossos adversários não são vossos inimigos. E nunca percam a ocasião para discutirem com um socialista."

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