O partido racista liderado por Eugene Terre'Blanche, fazendeiro sul-africano branco que foi assassinado no sábado por dois dos seus empregados negros, recuou ontem no apelo à vingança dos seus militantes. E retractou-se também pelo teor de algumas declarações dirigidas às selecções que vão marcar presença no Mundial de futebol, avisadas que daqui por dois meses estariam a competir "numa terra de assassínios". ."A nossa liderança está muito, muito chocada, zangada e horrorizada. No calor do momento foram feitas algumas declarações e gostaríamos de nos retractar. É a filosofia do Movimento de Resistência Africânder que nenhum membro se envolva em qualquer forma de violência, intimidação ou agressão racial", disse Pieter Steyn, porta-voz do AWB, citado pelo Guardian. Admitiu, porém, que por vezes "é difícil conter os militantes". .No domingo, outro membro do partido, André Visagie, dissera que a morte do líder constituía "uma declaração de guerra. Vamos avisar essas nações [que vão estar no Mundial de 2010] que estão a mandar as suas selecções para uma terra de assassínios. Não o façam se não tiverem protecção suficiente para elas. Decidiremos que acções tomar para vingar a morte de Terre'Blanche". O AWB atribui o crime a uma canção do tempo da luta contra o apartheid que diz "morte ao boer". O tema tem sido promovido ultimamente por Julius Malema, líder da liga da juventude do Congresso Nacional Africano (ANC). .Malema, citado pela AFP, disse ontem, no Zimbabwe, que "é irresponsável tentar estabelecer uma relação entre esta canção e a morte de Terre'Blanche. Uma coisa não tem nada a ver com a outra". O próprio ANC emitiu um comunicado a esclarecer que "toda a acusação de que os negros pensam fazer mal a outros grupos raciais, em particular aos compatriotas brancos, é falsa e sem fundamento". .Contactado pelo DN, o porta- -voz do Ministério da Polícia, Zweli Mnisi, lembrou que "a ameaça feita antes foi retirada". E que "a África do Sul está preparada para o Mundial desde que soube que o ia organizar". O ministro que representa, Nathi Mthethwa, dissera que "os planos de combate ao crime postos em prática estão a dar resultados". Mas admitiu temer pela imagem do país. .A Nação Arco-Íris, outrora defendida por Nelson Mandela, líder histórico da luta contra o regime racista do apartheid, tem, de tempos a tempos, picos de tensão entre brancos e negros e, até mesmo, entre negros. Mas há que dar a devida importância ao AWB. "Nunca foi um partido de grande dimensão. Já falei com família e amigos lá e não estão preocupados. Eu vou ao Mundial. Os meus amigos também", disse ao DN Joe Berardo, empresário madeirense que viveu muitos anos na África do Sul. "Não há confusão nenhuma. Há mais especulação mediática aí, do que aqui", garantiu ao DN Varela Afonso, director d'O Século de Joanesburgo. Quanto aos turistas, "até agora não há indicação de desistências ou pedidos de informação", disse ao DN Paulo Brehm, da Associação Portuguesa de Agências de Viagem e Turismo.