Partida, largada... PS. Os sete pretendentes ao trono de Costa

Dois estão na linha da frente: Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro. Ana Catarina Mendes, se avançar, será "um problema" para os "homens do partido" candidatos. Mariana Vieira da Silva está a "perder fulgor". Fernando Medina "não tem carisma". José Luís Carneiro poderá ser a "surpresa". Seguro não tem pressa até 2026.
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Um já se explicou e, diz a oposição, baralhou e mentiu nas explicações sobre a TAP - Marcelo até falou dos "ramos mortos" -, o outro vai hoje explicar-se, depois de na semana passada, na Comissão de Economia, se ter gabado de ser único: "Não há mais nenhum ministro que, nos últimos 50 anos, se possa gabar de ter deixado as suas funções com a TAP e a CP a dar lucro."

Um nasceu em 1977, o outro, em 1979; um nasceu em S. João da Madeira, o outro, em Lisboa; ambos são licenciados em Economia pelo ISEG; um foi líder da JS entre 2004 e 2008, o outro, de 2008 a 2010; um foi eleito deputado na X Legislatura com Sócrates, o outro na seguinte, a XI, e também com Sócrates; um foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares entre 2015 e 2019, o outro de 2019 a 2022; um foi presidente da Federação de Aveiro, o outro é presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL).

Um foi ministro de 2019 a 2023, o outro é ministro desde 2022; um foi responsável pela coordenação da geringonça, o outro foi diretor de campanha da candidatura presidencial de Alegre, diretor da campanha nas Autárquicas de Lisboa em 2013, nas Legislativas de 2015 e de 2022; um foi vereador em S. João da Madeira, o outro, vice-presidente da Câmara de Lisboa; e ambos foram muito "ativos" em eleger o "indispensável" António Costa nas Primárias Socialistas, em setembro de 2014, um ano depois de ter sido eleito presidente da Câmara de Lisboa, contra "a incerteza e o desencanto" que viam em António José Seguro.

De todos os 11 ex-líderes da JS só dois não assinaram o manifesto dessa altura: Jamila Madeira e, naturalmente, o próprio Seguro. Houve ainda um que estava como tendo assinado, mas que deixou de estar. João Torres, nessa altura, líder dos jotas socialistas, hoje secretário-geral Adjunto do PS, argumentou que ficava de fora porque "a JS tem de estar acima das divisões, porque é fundamental que a JS esteja unida e mobilizada após as Primárias" de 28 de setembro de 2014.

É dessa altura, também, a "teoria do pisca-pisca", uma política de alianças à esquerda que António Costa recusava e que levaram Alfredo Barroso, um dos 25 fundadores do PS que subscreveram um manifesto de apoio a Costa, a afastar-se desse grupo, "em bicos de pés para não perturbar o sono das hostes", por causa da "fanfarronice" do atual primeiro-ministro que não tinha "a coragem de explicar se vai ou não fazer um esforço para negociar uma plataforma de entendimento com os partidos da Esquerda".

"Será a "teoria do gato asseado", que tapa com areia as suas necessidades? Ou a "teoria da vassoura", que empurra para baixo do tapete tudo o que é desagradável?", perguntava Alfredo Barroso. Ou "nada de essencial", diria ainda, "é para discutir porque não é oportuno"?

A resposta surgiria a 4 de outubro de 2015. Bastaram 371 dias para o "pisca-pisca" piscar e ganhar outro nome: "Geringonça".

E da geringonça - "se o objetivo é tão-só criar condições para o PS voltar ao poder, custe o que custar, e distribuir cargos e privilégios pelos "barões", então já cá não está quem, como eu, andou, afinal, a falar para o boneco", como dizia recear Alfredo Barroso - surge a nomeação de Pedro Nuno Santos para secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. Duarte Cordeiro, eleito vereador em 2013 na Câmara de Lisboa e reeleito em 2017, sai da autarquia em 2019 para ir para o governo, depois das Legislativas de outubro.

Dos "jovens turcos", como na altura, em 2014, se dizia do "vereador Duarte Cordeiro e dos deputados João Galamba, Pedro Nuno Santos e Pedro Delgado Alves", que até uma selfie tiraram para comemorar a vitória de Costa e a derrota de Seguro nas Primárias do PS, três chegaram a ministros, mas a um [João Galamba] "ninguém o vê como líder" por não ter tido "nunca apoios na estrutura do partido" e por já ter estado "vai, não vai, para ficar de fora das listas a deputados". E Pedro Delgado Alves? "Está bem onde está", diz um dirigente socialista.

Sobram dois. Um foi desautorizado em público por Costa (o caso do despacho com a solução de dois aeroportos); o outro foi elogiado por Costa na noite da maioria absoluta. De um, dizem, que é "ambicioso, às vezes pouco discreto, um político de grande qualidade"; do outro, dizem, que "no partido e no país, terá o peso que quiser, é de uma versatilidade muito rara em política ".

Pedro Nuno Santos, o "desautorizado", que diziam em 2014 ser "o mais político", e que em 2011 se estava "marimbando" [ideia semelhante tinha Galamba] para "os bancos alemães que nos emprestaram dinheiro nas condições em que nos emprestaram. Estou-me marimbando que nos chamem irresponsáveis. Nós temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida", caiu de ministro das Infraestruturas e da Habitação, após o episódio do despacho dos aeroportos e da desautorização de Costa. Mas está de regresso e com elogios socialistas, até de quem discordou da geringonça, como Sérgio Sousa Pinto ou Francisco Assis, que já viu em palavras de Pedro Nuno Santos um "nível do apparatchik estalinista de segunda categoria".

Mas isso já lá vai. Ou parece ir. Assis considera agora que o ex-ministro "vai ser uma figura do futuro do PS", como referiu numa entrevista ao Público, e até lhe vê "autonomia de pensamento", de pessoas que "existem por si próprias e não são meras emanações de um líder momentâneo".

Ou, como diz Ana Gomes, "é daqueles políticos que não tem problemas em assumir os erros". O regresso, diz, "deu esperança aos verdadeiros socialistas".

Uma esperança que para Marques Mendes tem um destino: "Continuo a achar que Pedro Nuno Santos será o próximo líder do PS; tenho é sérias dúvidas de que consiga chegar a primeiro-ministro." Lendo, na SIC, o que vai no pensamento do PSD conclui que "antes um PS mais à esquerda, liderado por Pedro Nuno Santos, que um PS mais ao centro, dirigido por António Costa".

E se teve uma "enorme dignidade e humildade (...) assumindo uma responsabilidade política que é notável" ao sair do governo, como dele disse Alexandra Leitão, agora, no regresso, "mostrou firmeza e sentido", disse ao DN fonte socialista no Parlamento.

Sucessor de Costa? "Basta querer", diz um deputado. Outro relembra calendários eleitorais internos: as eleições nas federações e nas Concelhias em 2024 e em 2026 que "vão medir o pulso às bases do partido. Quem dominar tem metade do caminho feito". E há quem cite uma frase numa notícia do DN para explicar que "vai ser a doer a luta interna". "E, entretanto, vai remoendo culpas, desilusões, ódios e vinganças, sendo esse o combustível da sua sobrevivência: não entregar a taça a quem o quer ver abatido".

Duarte Cordeiro, o "elogiado" por António Costa na noite eleitoral da maioria absoluta - "Não levem a mal, mas de todos os militantes do PS, há um a quem quero agradecer de forma muito especial: o nosso diretor de campanha" -, "mais discreto e sem casos", e que agrada a Manuel Alegre, que dele disse ser uma "pessoa fina, muito contida e sensata", já foi também elogiado por dois dos seus "adversários" à sucessão: Mariana Vieira da Silva, que o considera "generoso e de uma versatilidade muito rara em política", e por Fernando Medina, que vê no atual ministro do Ambiente um homem "leal, frontal, empenhado, muito empático".

E o que diz de si o próprio? A frase é de fevereiro de 2022: "Não tenho de ser igual aos outros, o que não quer dizer falta de ambição. Relativamente a aspiração individual, vamos ver com o tempo e com a vida. (...) Sou pessoa disponível para os outros e confiável. Um rapaz que consegue introduzir alguma mobilização."

"Qualquer um dos dois tem capacidade para lá chegar. O Duarte é menos explosivo, ao contrário do Pedro Nuno. E isso é uma vantagem. Os portugueses querem sensatez", diz um deputado socialista. Quem se lembra dele da JS sublinha o "estar sempre atento a tudo. Não deixar nada para trás". Diz um autarca, recordando as Legislativas, que "deve viver de telemóvel na mão [risos] sempre a resolver o que é para resolver". "Tem essa qualidade tremenda de nunca nos deixar pendurados", sublinha outro autarca socialista". Manuel Alegre, no ano passado, dizia que "Duarte é um dos políticos mais sabedores. Por conhecer os problemas, por reagir aos problemas e pela capacidade de estar atento aos novos problemas".

Sucessor de Costa? A resposta é praticamente igual à de Pedro Nuno Santos. "Se ele quiser, sim. Tem é que dizê-lo antes do Pedro Nuno. Não acredito que se enfrentem pela liderança do partido", considera um deputado que se diz "próximo" dos dois.

Mais velho e apesar do estatuto de ministro das Finanças, Fernando Medina, nascido em 1973, e também economista, não parece estar "no goto nem do partido, nem dos eleitores". Tem como diz, um dirigente socialista, "zero de carisma" e depois há que "não esquecer que se nem Lisboa conseguiu ganhar, como vai ganhar o país? Ele, depois de suceder ao Costa [em 2015 na Câmara de Lisboa], perde logo a maioria em 2017. E nas últimas [Autárquicas de 2021] perdeu a câmara".

O portuense de 50 anos chegou ao PS em 1995, na altura dos Estados-Gerais para uma Nova Maioria de António Guterres. "O mais que conseguiu foi ser consultor pela mão do Marçal Grilo e depois assessor do Guterres. É só com Sócrates que vai para secretário de Estado do Vieira da Silva. Depois só deputado. É Costa que o vai buscar para as Autárquicas de 2013, para as listas. Aí ficou claro que estava a romper com o Tozé [António José Seguro, na altura líder do PS] e com o Zorrinho [que era líder da bancada parlamentar]. Com os problemas que foi juntando, aquilo de dar aos russos informações, a história da TAP e agora o Tutti Frutti, não são bom cartão de visita para um candidato", considera um dirigente socialista.

"E também não é bom seguro de vida ter o Costa a segurar um ministro. Não caem à primeira, mas já sabem que o caminho está traçado. Aconteceu a todos", diz um deputado. Diz outro que "o mais certo é ir para Bruxelas nas [Eleições] Europeias, já aconteceu a muitos".

De Mariana Vieira da Silva, 45 anos, lisboeta, socióloga, foi-se dizendo que após o reforço de poderes no governo que António Costa dava sinais de quem queria "que lhe sucedesse". Aliado a isso o facto de ser encarada como "uma das conselheiras(os) do primeiro-ministro", o ter sido coordenadora da moção de estratégia de 2018 e "próxima do próximo do Costa, o Medina" que a colocou nas listas do PS para a Câmara em Lisboa num lugar em que dificilmente seria eleita, mas que lhe permitia entrar assim que Costa saísse. Costa saiu, mas nem Mariana Vieira da Silva, nem Nélson Souza entraram na vereação - foram para o governo de António Costa.

A subida "fulgurante da assessora de Maria de Lurdes Rodrigues, adjunta do secretário de Estado-Adjunto de Sócrates, Almeida Ribeiro, a secretária de Estado-Adjunta de Costa, ministra da Presidência e da Modernização Administrativa [substituindo Maria Manuel Leitão Marques que foi para Bruxelas], levou-a a chegar a ministra da Presidência com poderes reforçados".

Fernando Medina chegou a dizer, em 2018, que Mariana Vieira da Silva "se realiza na concretização das políticas e não na vaidade das luzes", que a "vocação dela é das políticas públicas e não dos holofotes". As luzes que Medina não lhe via, foram-lhe dadas por António Costa quando a elevou a número dois do governo.

Tudo parecia correr de feição para a antiga nadadora de alta competição do Sporting [uma especialista em mariposa]. Era até cultivada a ideia de "até atender o primeiro-ministro debaixo de água", de "gerir as crises", de definir a "estratégia diária", de ser "reservada", "focada" e "organizada".

Com o GalambaGate [o caso do há parecer ou não há parecer que sustenta a demissão da presidente-executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, e do presidente, Manuel Beja?] o verniz fraturou-se. Mariana Vieira da Silva e Ana Catarina Mendes são arrastadas para a polémica. Numa primeira fase recusa entregar o parecer à CPI porque a "sua divulgação pode prejudicar a posição do Estado nesse processo". Nem 48 horas depois, Fernando Medina diz que o parecer não existe. A partir daqui entra em campo a argumentação da "semântica".

Desde esse dia 6 de março em que Galamba e Medina anunciam as demissões de Christine Ourmières-Widener e Manuel Beja aludindo a uma decisão "juridicamente blindada" que a "organizada" ministra - que no Parlamento afirmou que "estando em causa um parecer jurídico, julgamos que a defesa do interesse público e dos interesses do Estado nesta matéria beneficiam de poder não tornar público um conjunto de informação nesta matéria -, deixou de estar nas "luzes".

O "sossego" acabou. E, seja por ser assim ou por estratégia interna, a verdade é que começaram a soltar-se frases e comentários em off: alguns de ministros [como referido no Público], dizendo que afinal há coisas que "não correm bem" [no governo e no Conselho de Ministros] por culpa de "atrasos" de Mariana Vieira da Silva.

Depois soma-se o "esquecimento" a que foi votada, na noite de 26 de Abril, quando pela ausência de António Costa do país era primeira-ministra em exercício. Nem na primeira conferência de imprensa, nem da ida à Comissão de Inquérito, João Galamba refere esse contacto.

Da primeira vez, disse que ligou ao "Primeiro-Ministro, que estava a conduzir e não atendeu, liguei ao secretário de Estado-Adjunto do Primeiro-Ministro e disse que eu devia falar com o Ministério da Justiça, coisa que fiz, e disseram-me que o meu gabinete devia comunicar esses factos àquelas duas entidades [SIS e PJ]."

Da segunda vez, na Comissão de Inquérito acrescentou que a primeira pessoa a quem ligou foi ao ministro da Administração Interna, a quem pediu para falar "com muita urgência com a PSP" por causa das "agressões" e do "roubo de um computador".

A 19 de maio, Mariana Vieira da Silva disse na CNN Portugal ter falado "com o ministro das Infraestruturas nessa noite, depois do conjunto de factos. Eu soube que algum evento atípico havia acontecido nesse dia e conversei com o ministro já mais tarde, mas ainda na noite de 26".

A 12 de maio tinha dito ao Expresso que "o gabinete do ministro das Infraestruturas deu o alerta às autoridades, e as autoridades agiram em conformidade (...) A ministra da Presidência tomou conhecimento dos factos a posteriori, não tendo dado qualquer orientação ao SIS ou a qualquer outra entidade".

"Ora", diz um dirigente socialista", "isto não é coisa de uma primeira-ministra em exercício que deveria ter tomado para si o controlo da situação".

E "pouco importa", diz outra fonte parlamentar, que, "como diz Isabel Moreira, o Galamba parecesse um helicóptero a envolver nomes, espalhar problemas ou a espetar ganchos. Pior é ficar no esquecimento, não existir. É sintomático".

Só Vitalino Canas, antigo deputado socialista, advogado, professor universitário, que foi secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros entre 1995 e 2002, verbaliza, ao Observador, o desalento: "Diria que alguns episódios que têm existido têm mostrado que a número dois do governo não tem peso político suficiente, e não é suficientemente reconhecida pelos seus pares, como verdadeiramente número dois. O número dois é alguém perfeitamente capaz de substituir o primeiro-ministro e tem a sua confiança - e a ministra da Presidência tem-na certamente -, mas aparentemente não é reconhecida internamente. Isso é algo que o primeiro-ministro terá um dia seguramente de pensar. Ele tem responsabilidades internacionais."

Na lista de "sucessores" surgem ainda dois nomes: Ana Catarina Mendes, advogada, nascida em 1973, e José Luís Carneiro, professor universitário, nascido em 1971, dois "nomes fortes do aparelho".

A ministra-Adjunta e dos Assuntos Parlamentares que já percorreu o "caminho das bases", e que "poderia ter ganho Setúbal ao PCP nas Autárquicas [de 2021] se fosse candidata", já foi deputada municipal em Almada, deputada no Parlamento desde 1995, líder da Concelhia de Almada, presidente da Federação Distrital de Setúbal, secretária-geral-Adjunta durante a geringonça [seria substituída por José Luís Carneiro] e líder parlamentar - a primeira mulher a exercer esse cargo no PS.

"Discreta publicamente", mas já teve de "engolir sapos como aquele de ir ao Congresso do Chega" ou gerir o "desconforto de ver a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, dar publicamente "opinião pessoal" dizendo que "apesar de poder haver alterações de aprimoramento na parte legislativa, [o crime de violação de adultos] deve depender de queixa" quando "ela defende o contrário e esteve calada na praça pública". Mais ainda porque "também a Ana Catarina tem tutela dessa área", refere fonte parlamentar.

Sucessora de Costa? Das fontes ouvidas pelo DN nenhuma acredita que Ana Catarina Mendes, 50 anos, tenha essa vontade ou "se a tem, não a manifesta claramente". Porém, se "um dia avançar, será uma dor de cabeça para os homens do partido. É que terá todas as mulheres socialistas do lado dela e entusiasmadas", diz uma deputada.

José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna, "que ainda tem sotaque do Baião", é o ministro "sem casos" numa pasta "difícil", que vai ser "posto à prova neste Verão" e que conhece "por dentro e por fora, como poucos" o partido.

"Tem a experiência do terreno, foi presidente de Câmara [de Baião] com grandes vitórias, conhece os autarcas socialistas [foi presidente da Associação Nacional dos Autarcas Socialistas], tem essas ligações das bases, e foi um secretário-geral-adjunto incansável [entre outubro de 2019 e março de 2022]. O PS deve-lhe muito do trabalho nas Autárquicas e nas Legislativas", diz um autarca do PS.

Líder da Federação Distrital do Porto de 2012 a 2016, José Luís Carneiro, para além de deputado eleito em 2005, foi secretário de Estado das Comunidades Portuguesas no primeiro governo de António Costa e assessor no gabinete de Carlos Zorrinho que foi secretário de Estado-Adjunto do ministro da Administração Interna Nuno Severiano Teixeira.

"Não se dá por ele, mas o Zé-Luís é mais "formiguinha" que a Mariana [Vieira da Silva]. É novo, tem 52 ou vai fazer 52 anos, e não parece ter pressa. Pode ser uma surpresa", sublinha um dirigente do partido.

Chegados a 2014, a conclusão era óbvia: já se enfrentavam há anos e anos, mas naquele ano a guerra foi declarada e sem tréguas. O "poucochinho", como lhe chamou Costa, [das Eleições Europeias que o PS liderado por Seguro ganhou depois de também ter ganho as Autárquicas] estalou o verniz e o "golpe palaciano", como nessa altura lhe chamou Manuel Machado, "o algo nunca antes visto no PS, em que transformaram vitórias em derrotas", levou a uma profunda divisão do PS.

"Deslealdade", "traição", "alguns confundem a política com a arte do engano", "o jogo das ambições pessoais", foram palavras e expressões que incendiaram as hostes socialistas. Ficou célebre o frente-a-frente na TVI onde durante minuto e meio António Costa ouviu, incomodado e em silêncio, as palavras duras de António José Seguro.

"Considero que António Costa foi desleal e traiu uma cultura que existe há 40 anos no PS. Foi desleal para com o líder do PS, porque assinou um acordo comigo no ano passado, teve duas oportunidades para se candidatar à liderança e, desta vez, na sequência de uma vitória do partido, rasgou esse acordo e não aproveitou essas duas oportunidades para disputar a liderança do PS. Em 40 anos, todos os líderes do PS tiveram a oportunidade de disputar as Eleições Legislativas, mas, desta vez, essa cultura é interrompida depois de o PS ter obtido duas vitórias, nas Autárquicas e nas Europeias. A crise que o António Costa provocou ao PS é uma enorme irresponsabilidade. Isto não se faz, é um sinal negativo que se dá aos portugueses, em particular aos portugueses que esperam da política não um jogo das cadeiras e das ambições ", disse o então líder socialista.

No PS, há agora quem tenha "esperança" no regresso do líder que "estava sempre presente" principalmente depois de a 10 de maio ter dito que está "fora da vida pública e da vida política, mas, naturalmente, quando olho para o país, fico perplexo com o que vejo. Acho que os portugueses merecem melhor".

E tenciona regressar à vida política? A resposta deixou a porta aberta, pela primeira vez, desde que perdeu as Primárias para António Costa em 2014. "Não tenho no horizonte qualquer regresso. Mas não serei hipócrita ao ponto de dizer nunca, jamais, em tempo algum", afirmou António José Seguro.

Estas palavras partilhadas entre grupos de WhatsApp reacenderam a "esperança" de um "ajuste de contas" com a "deslealdade".

Mas é aqui que se fazem contas. Seguro, dizem, "não tem pressa alguma" até porque há dois tempos em campo: o do PS em "degradação" e o do PSD em "afirmação". É do resultado desta equação, "até 2026, nunca antes", que essa "possibilidade" se pode concretizar. Numa frase: um regresso pelo seguro.

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