Park nas mãos de deputados. Ban Ki-moon possível sucessor
Milhares de pessoas nas ruas, a oposição unida contra ela e até alguns deputados do seu partido, o Saenuri, a pedirem-lhe para se demitir de forma "honrada" antes de ser destituída. Perante tantas pressões, quando se soube ontem que Park Geun-hye ia fazer um discurso à nação, muitos acharam que iria anunciar a demissão. Suspeita de corrupção, a primeira mulher eleita presidente da Coreia do Sul preferiu deixar o futuro nas mãos dos deputados, mostrando-se disposta a deixar o cargo mal seja encontrada uma solução que "evite um vazio de poder". E, com as eleições já previstas para 2017, um dos nomes de que mais se fala para a chefia do Estado sul-coreano é o do atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que deixa o cargo a 1 de janeiro.
O voto no Parlamento deverá ter lugar na sexta-feira. Apesar de o Saenuri ter pedido a maioria nas eleições de abril, a oposição e os independentes (que têm 171 dos 300 deputados) precisam dos votos favoráveis de alguns eleitos do partido de Park para chegar aos dois terços necessários para aprovar o processo de destituição. Uma eventual destituição terá de ser validada pelo Tribunal Constitucional, mas, nos seis meses que a instância judicial pode demorar a pronunciar-se, Park ficaria afastada, com a presidência interina a ser assegurada pelo primeiro-ministro, Hwang Kyo-ahn.
Filha de Park Ghung-he, que governou a Coreia do Sul de forma ditatorial durante 18 anos, até ser assassinado em 1979, mas também foi responsável pelo milagre económico do país, Park viu recentemente a popularidade cair para os 4% devido às suspeitas de ter ajudado a velha amiga e confidente Choi Soon-sil. Esta foi detida por extorquir milhões a várias empresas, aproveitando-se da relação com a presidente.
Enquanto para alguns analistas, citados pela AFP, o discurso de Park foi uma tentativa de negociar a saída a troco do abandono das acusações, evitando a infâmia da destituição, para a oposição não passa de um "truque". "O que as pessoas querem é a demissão imediata e não que arraste a situação e empurre a decisão para a o Parlamento", disse Youn Kwan-suk, porta-voz do Partido Democrático, à agência noticiosa sul-coreana Yonhap.
A partir do momento em que Park, cujo mandato termina em fevereiro de 2018, se demita ou o Parlamento vote pela destituição, a lei prevê eleições no espaço de 60 dias.
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O timing para eleições antecipadas pode ser perfeito para o favorito à sucessão de Park: Ban Ki-moon. O secretário-geral da ONU deixa o cargo a 1 de janeiro, dando lugar ao português António Guterres. Numa sondagem de maio no JoongAng Ilbo, 28,4% dos inquiridos apontavam o antigo chefe da diplomacia sul-coreana (de 2004 a 2006) como a figura que mais gostariam de ver como presidente da Coreia do Sul. Ban, que durante a campanha para secretário-geral da ONU disse que gostaria de se encontrar com o líder norte-coreano, poderia marcar uma aproximação entre os dois países, tecnicamente ainda em guerra.
Mas há outros potenciais candidatos. A começar por Moon Jae-in, advogado especializado em direitos humanos e líder até janeiro do partido da oposição Minjoo. Moon surgia em segundo lugar na sondagem já citada, à frente de Ahn Cheol-soo, empresário e fundador do Partido do Povo.