Em 1864, Paris era a cidade maior e mais vibrante da Europa continental. Era o centro financeiro e do comércio. O centro da moda. O centro das artes. A fama de ser também a mais romântica fazia muito para suavizar a luz acinzentada ou os eventuais ângulos deselegantes da cidade, o que a punha naturalmente na primeira página do primeiro Diário de Notícias, lançado a 29 de dezembro (uma quinta-feira) com a promessa de ser "uma compilação cuidadosa de todas as notícias do dia, de todos os países e de todas as especialidades, um noticiário universal". Ah, Paris!.De lá saiu a Mocidade de Mirabeau, "delicada produção do ilustre autor dramático francês, o senhor Aylie Langlé", para ser representada com brilhante êxito no Teatro Scribe, de Turim, depois de muito aplaudida no Teatro do Vaudeville, Paris. A melhor sociedade daquela capital assistiu de camarote, noticiava a manchete do DN. "Os artistas foram muito vitoriados." Havia sempre coisas novas de Paris sobre as quais escrever, a sobreporem-se a outras não tão novas de que já se tinha falado.."Vai pôr-se à venda a melhor, a mais rica e a mais completa das galerias particulares de França - a célebre galeria Pourtalès", dava ainda conta o DN na sua página de estreia, fiel à missão de informar os leitores de todas as ocorrências interessantes, em estilo fácil e com a maior concisão. "Todos os objetos de arte da melhor curiosidade, todos os quadros antigos e modernos, tudo, até as medalhas, se vão pôr em hasta pública em razão de haver falecido o seu possuidor, o senhor Pourtalès-Gorgier." Esperava-se que o anúncio causasse sensação na Europa artística e chamasse à cidade a devida multidão de apreciadores. Havia sempre algo a acontecer em Paris.."Por mais difícil que a vida possa ser aqui, o ar francês limpa o cérebro e faz muitíssimo bem", garantia o pintor Vincent van Gogh numa carta ao seu irmão Theo. Deus sabe que, quando a primavera chega a Paris, o mais humilde dos mortais deve sentir-se no paraíso, confirmava o escritor americano Henry Miller. Existem apenas dois lugares no mundo onde se pode ser feliz: em casa e em Paris, acrescentava Ernest Hemingway, autor de Por Quem os Sinos Dobram..Não admira que por lá se tenha desenvolvido o sistema braille, o estetoscópio, o secador de cabelo. Outro invento famoso foi o pantelégrafo de Giovanni Caselli, um precursor do fax que concebeu em 1865 para uso comercial, capaz de emitir e receber imagens a longa distância através das linhas de telégrafo..A isso o DN estava já atento na página 4: "O aparelho telegráfico do senhor Caselli, que reproduz os despachos escritos, vai, segundo se diz, pôr-se à disposição do público. Parece que para tal efeito vai aparecer um projeto de decreto em França", lançava o jornalista. Quem relata o que pode sem olhar a quem, numa linguagem decente e urbana, a mais não é obrigado.