Parada Gay reúne milhões em São Paulo contra a homofobia

Uma multidão ocupou hoje a avenida Paulista, via mais famosa de São Paulo, no Brasil, para a 15ª Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e trangéneros), que figura entre as maiores do mundo.
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A expectativa dos organizadores era de que o evento reunisse o mesmo número de pessoas do ano passado, quando mais de 3 milhões foram para as ruas para festejar e chamar à atenção para as bandeiras do movimento homossexual.

Nem o frio e a chuva que surpreenderam a cidade na tarde de hoje pareceram desanimar os participantes, que dançavam pelas ruas ao som da música electrónica que vinha dos carros de som. No público estavam pessoas de várias idades, classes sociais e opções sexuais.

Na sua primeira edição, há quinze anos, o evento reuniu poucas centenas de participantes. Hoje, ganhou importância política e económica.

Com a duração de apenas um dia, a Parada Gay de São Paulo atraiu à cidade 400 mil turistas e terá gerado uma receita de 175 milhões de reais (77,3 milhões de euros), segundo dados da São Paulo Turismo (SPTuris).

Na abertura do evento, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, disse que prevalece na cidade o respeito pela diversidade. "Esperamos mostrar essa característica para o mundo por meio (através) da parada", declarou.

O presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT), Toni Reis, ressaltou que a parada não é apenas um "carnaval fora de época" e que o movimento vem para as ruas para "reivindicar direitos".

A 15ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo teve como tema "Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia".

O lema faz uma alusão directa ao que representantes dos homossexuais chamam de "fundamentalismo cristão".

Hoje, os grupos evangélicos no Parlamento brasileiro são apontados como o principal entrave à adopção de políticas públicas para os homossexuais.

"O Congresso Nacional não acompanha a sociedade civil por causa do aumento das bancadas religiosas", disse à Agência Lusa a vice-presidente do Senado, Marta Suplicy.

Apesar das críticas pesadas que faz ao Congresso, Marta considerou que o país avançou muito nos últimos anos no reconhecimento dos direitos dos homossexuais ao nível das mais diversas esferas do governo.

A responsável sublinhou a importância do papel da Justiça que, neste mês, reconheceu o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apesar de os legisladores não terem criado uma lei específica para regulamentar o tema.

Na edição deste ano, a parada recebeu o reforço da Frente Religiosa contra a Homofobia, que reúne fiéis de diversas religiões que não concordam com os discursos de seus líderes em relação aos homossexuais.

"Queremos mostrar que as igrejas estão divididas. Os discursos preconceituosos de algumas lideranças não condizem com a opinião de muitos fiéis", disse Anivaldo Padilha, representante da organização.

Para Padilha, num Estado laico as igrejas "não podem impor seus conceitos de pecado e de luta contra o pecado às políticas públicas".

O casal lésbico Suzane Borges, 42 anos, e Noemi Miranda, 50 anos, compareceu na parada com o intuito de catequizar o público. Distribuíram cerca de 10 mil panfletos da Igreja da Comunidade Metropolitana, que não só aceita os homossexuais como realizou nesta semana a primeira cerimónia para celebrar a união entre pessoas do mesmo sexo.

"Nós acreditamos que Deus não faz acepção de pessoas", disse Suzane.

Uma das principais reivindicações do movimento gay brasileiro é a criação de uma lei que torne crime a homofobia.

Segundo o deputado federal Jean Wyllys, primeiro gay assumido a ocupar uma cadeira no Parlamento brasileiro, a intolerância contra os homossexuais motivou 260 assassinatos no país no ano passado.

Este ano, São Paulo registou o espancamento de homossexuais na mesma avenida Paulista onde, hoje, casais gays expressavam abertamente as suas opções. Os actos de violência física são atribuídos a grupos neonazis, como os skinheads.

Apesar do avanço neonazi e da falta de leis para garantir os direitos, o Brasil ainda é considerado acolhedor pelo público homossexual.

"O mais importante do Brasil para mim é a abertura que há aqui", afirmou o espanhol Alberto Del Río, que vive há dois anos em São Paulo e participou da Parada Gay.

Funcionário da União Europeia que actua em projectos relacionados os direitos humanos, o belga Gaeton Smet considerou importante observar como o Brasil avança no reconhecimento dos direitos dos homossexuais.

"Na Europa, fizemos essa luta nos anos 80 e espero que um dia ela se espalhe por todo o mundo. Aqui [no Brasil] já está a acontecer", disse Smet, que vive em Brasília, mas hoje juntou-se aos brasileiros na festa contra a homofobia.

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