Para o Facebook, as caras humanas são máscaras surreais
Sterling Crispin estava preocupado e perturbado com a forma como os algoritmos e a crescente vigilância digital "mudam a identidade humana", e por isso criou o seu projeto artístico Data-Masks (máscaras de dados). O resultado? Máscaras fantasmagóricas, que são "sombras de seres humanos vistas pelo olho interior do organismo-máquina".
Quando uma foto é colocada no Facebook, um algoritmo, aperfeiçoado através do projeto de investigação DeepFace financiado pela rede social, identifica os rostos humanos presentes e desconstrói-os para criar modelos tridimensionais das suas feições, que usa para reconhecer a mesma cara noutras fotografias. E o algoritmo DeepFace já é capaz de dizer quem é a pessoa representada mais de 97 por cento das vezes.
Sterling Crispin, preocupado com "o sobredesenvolvimento agressivo da tecnologia de vigilância e como isso muda a identidade humana", conforme explica no site do projeto, quis reconstruir a forma como os algoritmos "veem" os rostos humanos.
Para fazer isso, usou o processo inverso àquele usado pelo Facebook, que parte de uma fotografia, para uma desconstrução, para uma fórmula, para uma identificação. Crispin pegou diretamente nas fórmulas de reconhecimento facial, introduziu-as no algoritmo do Facebook, e permitiu que este reconstruísse e gerasse um rosto.
Mesmo antes que o algoritmo conseguisse gerar o modelo 3D completo, Crispin interrompia o algoritmo, o que resultava em máscaras de dados cujas feições eram misturas de várias fotografias de pessoas. Embora os algoritmos de identificação facial reconhecessem estas imagens como rostos humanos 99 por cento das vezes, para uma pessoa parecem sombras, ou, como diz o artista à Medium, "é como olhar para um fantasma".
Crispin acredita que o seu projeto artístico pode ajudar a chamar a atenção para a crescente presença tecnológica na vida e identidade humana. Para o artista, quando as nossas identidades ficam entregues às máquinas, "a suavidade, a parte que é mesmo humana, perde-se em tudo isto". Crispin diz à Medium: quando se olha para os estranhos rostos nas Data-Masks, "não estás a olhar para algo externo, estrangeiro, abstrato que está fora de ti; estás a olhar para ti próprio".