Para combater Lula e Bolsonaro procura-se um Macron brasileiro

Principais meios de comunicação do Brasil apelam a opção de centro para contrariar favoritismo de antigo sindicalista e militar de extrema-direita, em primeiro e segundo nas sondagens. Candidatura de Huck ganha forma.
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Numa semana, o Ibope, mais relevante instituto de sondagens do Brasil, confirma o antigo presidente Lula da Silva à frente em todos os cenários para as eleições presidenciais de 2018, com resultados em torno dos 35 pontos, e o militar na reserva Jair Bolsonaro em segundo, com percentagens à volta dos 15. Na outra, o maior jornal do país, Folha de S. Paulo, a revista com mais circulação, Veja, e o editor do influente Financial Times apelam em editorial, reportagem de capa e coluna de opinião a um nome do centro. Fala-se em encontrar alguém com o perfil do presidente francês Emmanuel Macron.

"Lula, condenado por corrupção, lidera as sondagens mas pode ser impedido de se candidatar. O segundo colocado é Jair Bolsonaro, um direitista perto do qual Donald Trump serviria de exemplo de moderação e autocontrole, nenhum deles seria capaz de promover as reformas de que o Brasil precisa agora", escreve Martin Wolf, no Financial Times, antes de constatar que falta ao país encontrar a sua própria versão de Macron.

Em editorial sob o título "Falta o Centro", a Folha indica que "certamente, um amplo contingente dos que rejeitam os desmandos e delinquências do lulismo não estaria disposto a seguir os lemas de quem, como Bolsonaro, defende a memória dos torturadores, faz brincadeiras com o crime de estupro ou insulta homossexuais".

A Veja nomeia mesmo Luciano Huck, o apresentador da TV Globo que ainda não assumiu a candidatura, como uma eventual terceira via moderada. Inclui em extensa reportagem uma entrevista a Guillaume Liegey, um dos responsáveis publicitários pela vitoriosa campanha de Macron na corrida ao Palácio do Eliseu, que diz ser possível "começar alguma coisa do zero no Brasil". Liegey vai reunir-se nos próximos dias com o Agora!, movimento cívico de que Huck é membro.

O mesmo Huck que vem publicando artigos nos jornais onde sublinha ser de centro: "Esquerda ou direita, isso deveria importar menos - precisamos das duas pernas. Temos que ser curadores das boas ideias, de gente competente que queira se dedicar, de facto, à gestão pública, a servir".

Na quinta-feira, o colunista da Folha Vinícius Torres Freire escreveu que "em março, Huck era um rumor de festas e jantares de ricos, em meados do ano tornou-se um balão de ensaio, que subiu quando a bola de João Doria [prefeito de São Paulo e eventual candidato] murchou um pouco, mas agora, ele e seus adeptos, fazem o plano de negócios da candidatura..." No mesmo dia, o jornal O Globo noticiou que o apresentador do programa "O Caldeirão do Huck" encomendou uma sondagem e já se reuniu com pelo menos seis partidos. Outros jornais, sites e blogues tratam-no como "o incrível Huck".

Uma alternativa ao centro, caso o comunicador recue, é o atual ministro das finanças Henrique Meirelles, que disse ser "presidenciável" e estar preparado "para enfrentar os discursos populistas, o maior desafio de um candidato de centro".

Lula perdoa golpistas

Entretanto, no campo de Lula há indignação com o rótulo de radical colado a um presidente que de 2003 a 2010 provou ser adepto do diálogo - afinal, uma vez no poder, aliou-se a lideranças que antes execrava, como José Sarney, Collor de Mello ou Paulo Maluf, e governou de braço dado com a alta finança e com conservadores evangélicos, saindo do Palácio do Planalto com 80% de aprovação.

Para provar o seu proverbial pragmatismo, Lula disse num dos discursos finais do seu périplo pelo estado de Minas Gerais que "está na hora de perdoar os golpistas", numa referência a eventuais alianças com os partidos que derrubaram a sua colega de partido Dilma Rousseff, de forma a criar governabilidade, caso eleito.

A campanha de Bolsonaro, por sua vez, também tenta limitar o discurso radical a questões ligadas ao comportamento. Em carta aberta aos brasileiros, apresenta-se como contrário a totalitarismos e, em O Estado de S. Paulo, o seu conselheiro para a área da economia, Adolfo Sachsida, disse que o candidato "defenderá agenda económica liberal".

São Paulo

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