Papa volta de Lesbos com 12 refugiados. Itália teme nova "invasão"

Papa visita ilha grega e diz a migrantes: "Não estão sozinhos." Fecho da rota dos Balcãs volta a tornar Mediterrâneo apetecível.
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Nas menos de cinco horas que passou na ilha grega de Lesbos, o Papa Francisco apertou centenas de mãos, garantiu aos refugiados que ali se amontoam que "não estão sozinhos", lançou flores ao mar em homenagem aos milhares de pessoas que ali morreram a tentar atravessar da Turquia em busca do sonho europeu. No final da sua visita-relâmpago, o chefe da Igreja Católica regressou ao Vaticano, mas levou com ele três famílias de sírios - seis adultos e seis crianças -, num gesto simbólico, num momento em que o recente acordo entre União Europeia e Turquia fechou a chamada rota dos Balcãs, deixando milhares de pessoas encurraladas na Grécia.

Uma situação que está a preocupar Itália, já confrontada com o aumento das chegadas de refugiados vindos do Norte de África. E que teme que, confrontados com a falta de alternativas, também os sírios voltem a trocar uma arriscada travessia do Egeu por uma não menos arriscada travessia do Mediterrâneo para chegar à Europa. Com a Áustria a ameaçar fechar a fronteira entre os dois países por o fluxo de migrantes se tornar "extremo", o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, já veio acalmar os receios de uma nova "invasão". O chefe do governo de Roma sublinhou que até meados de abril o país registou neste ano 24 mil chegadas de refugiados, "pouco mais" do que em 2014, pico do fluxo de migrantes em Itália.

Homenagens e recados

"Não percam a esperança!", lançou o Papa Francisco diante de algumas das três mil pessoas que vivem no campo de refugiados de Moria, em Lesbos. Muitas delas estão em risco de serem deportadas para a Turquia, ao abrigo do acordo assinado entre Ancara e Bruxelas que prevê a devolução às autoridades turcas dos refugiados cujos pedidos de asilo não cumpram os requisitos. Por cada sírio devolvido, os países da UE comprometem-se a ir buscar outro à Turquia.

Recebido na ilha grega pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras, foi acompanhado pelo patriarca Bartolomeu I de Constantinopla, líder espiritual dos cristãos ortodoxos, e pelo arcebispo de Atenas, Hieronymus II, que Francisco percorreu as íngremes encostas de Lesbos. O chefe da Igreja Católica e os líderes ortodoxos lançaram depois coroas de flores ao mar, em homenagem aos milhares de pessoas que ali perderam a vida a tentar chegar à Europa. Em 2015, chegaram ao continente mais de um milhão de refugiados, 80% dos quais atravessando da Turquia para a Grécia.

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A crise dos refugiados veio colocar um novo desafio a uma Grécia já sujeita a três resgates financeiros. Ontem, o Papa elogiou o povo grego por ter "mantido abertos o seu coração e a sua porta". Os líderes religiosos foram menos brandos com os políticos europeus, sublinhando numa declaração conjunta: "Todos serão julgados pelos seus atos" - uma citação do Evangelho segundo São Mateus.

Nova vida em Roma

As três famílias sírias - duas oriundas de Damasco e uma delas de Deir Azzor, cidade sob controlo do Estado Islâmico - que o Papa levou com ele para Roma chegaram a Lesbos antes da assinatura do acordo entre UE e Turquia, não estando por isso abrangidas pelas regras deste. Abrigadas até agora num dos vários campos de migrantes da ilha grega, os 12 sírios - todos muçulmanos - vão agora ficar aos cuidados da comunidade cristã de Sant"Egídio, na capital italiana. "É uma forma de [o Papa] mostrar ao mundo que temos de aceitar os refugiados", explicou à Reuters Petros Vasiliadis, académico grego e professor de Teologia na reforma.

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Desde que foi eleito, em 2013, que Francisco mostra preocupação pelos refugiados. A sua primeira visita fora do Vaticano foi à ilha de Lampedusa, então a braços com chegadas de migrantes em massa.

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