Papa: Timorense regressa a Fátima para agradecer a independência do país

Maria da Costa Valadares regressa este mês a Fátima numa longa peregrinação desde Timor-Leste, desta vez menos polémica que a viagem de 1994, quando foi acusada de estar conivente com a ocupação indonésia.
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Muitos anos antes da independência, Maria da Costa Valadares viajou numa delegação que incluía alguns líderes integracionistas que apoiavam a ocupação indonésia de Timor-Leste, entre os quais o então embaixador itinerante da Indonésia para assuntos timorenses, Francisco Lopes da Cruz.

O grupo foi acusado por muitos timorenses na diáspora de estar a fazer o jogo indonésio. Então, "houve alguma confusão, pela política. Mas os portugueses receberam-nos muito bem", contou à Lusa Maria Valadares em Díli, dias antes de, 23 anos depois, regressar a Fátima para poder "rezar com mais calma" e "agradecer a independência de Timor-Leste".

"Agora já estamos em paz. Já posso rezar com mais calma. Vou agradecer a Nossa Senhora pela independência e pela paz de Timor", explicou.

"É um momento muito especial para mim para ir a Portugal celebrar o centenário de Fátima. Naquela altura pertencíamos a Portugal, a nossa nacionalidade era portuguesa e por isso, quando Nossa Senhora apareceu em Fátima, em Timor também celebramos. E celebramos todos os anos a 13 de maio", disse Maria Valadares.

Viúva do antigo ministro da Saúde timorense - morto devido à explosão de uma mina indonésia na zona de Aileu em 1976 e que deu nome ao Hospital Nacional Guido Valadares, em Díli - Maria Valadares, 68 anos, está contente e entusiasmada por voltar a Fátima.

Com ela leva a filha, Sónia, de 45 anos, que vai realizar a sua primeira viagem a Fátima e a Portugal, numa viagem organizada pelo único seminário mariano de Timor-Leste, sedeado em Díli.

No grupo de peregrinos vai também o casal Gaspar Benevides, 57 anos, e a mulher Adelaide Alves, 51, que vão aproveitar a passagem por Lourdes, em França, para renovar os seus votos de casamento, 32 anos depois de se terem casado.

Declaram-se "católicos devotos" e explicam que querem fazer uma peregrinação a um lugar santo, mostrando-se satisfeitos por poder visitar Fátima e Portugal, um espaço "de grande devoção".

Se nos últimos anos muito mudou em Timor-Leste - país que em 1999 votou pela independência - a devoção a Fátima continua a ser tão forte como sempre.

Ainda são muitos os timorenses que pedem a quem vá a Fátima que lhes benza uma medalha, um terço ou outro objeto, que depois transportar consigo, dia-a-dia, para lhes abençoar a sorte.

O responsável pela visita deste ano é o padre Ângelo, reitor do Seminário Menor de Nossa Senhora de Fátima no bairro de Balide, a poucos metros da Escola Portuguesa de Díli.

Os 45 peregrinos partiram de Díli a 03 de maio - depois de uma celebração na residência do bispo de Díli, Virgílio do Carmo da Silva - e antes de Fátima passam por dois outros importantes santuários europeus, Lourdes (França) e Santiago de Compostela (Espanha).

A chegada a Fátima está prevista a 12 de maio e o regresso a Timor marcado para três dias depois.

"No ano passado celebramos 500 anos da presença de missionários e evangelização de Timor-Leste. O seminário menor é fruto dessa evangelização. Este ano celebramos os 64 anos de vida quer dizer que pouco mais de 30 anos depois da aparição Timor-Leste abriu o seu seminário", salientou Maria Valadares.

"Durante a guerra, a experiência dos timorenses, crianças, jovens velhos sempre tiveram uma experiência mais íntima com Nossa Senhora, no mato, onde estavam refugiados, em qualquer lugar, sempre acompanhados de Nossa Senhora, como proteção", contou.

Ângelo, que é reitor da instituição desde 2014, recordou à Lusa a história do único seminário mariano de Timor-Leste, criado em 1936 em Soibada e transferido para Díli em 1954.

Um centro educativo por onde passaram alguns dos líderes históricos de Timor-Leste, incluindo Xanana Gusmão, Nicolau Lobato e Francisco Xavier do Amaral, entre outros e que continua a ter mais candidatos que lugares.

"Os jovens querem entrar no seminário mas o nosso problema é que não temos espaço e formadores para os acompanhar. Anualmente temos 800 ou mil candidatos mas só temos 120 lugares", explicou.

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