Papa reabre beatificação do arcebispo de San Salvador
Romero, muito popular na América Latina e apelidado de "a voz dos sem voz", pela dedicação aos mais desfavorecidos, foi morto a 24 de março de 1980 na sua catedral por um comando de extrema-direita, no início da guerra civil em El Salvador.
O anúncio foi feito, inicialmente, durante a missa de domingo em Molfetta, na região da Apúlia (sul), pelo arcebispo italiano Vincenzo Paglia, presidente do Conselho Pontifício da Família e membro da comunidade de Sant'Egídio: "a causa da beatificação de monsenhor Romero foi desbloqueada".
A informação foi confirmada hoje à agência de informação sobre o Vaticano I.Media por um responsável do conselho pontifício.
Romero era um bispo moderado, que não era especialmente próximo das correntes mais à esquerda da teologia da libertação, mas o assassínio transformou-o num ícone entre os meios progressistas.
O arcebispo de San Salvador tinha denunciado que agricultores salvadorenhos, autorizados a tomar posse de terras pela lei da reforma agrária, tiveram de enfrentar pessoas armadas. Romero pôs à disposição dos agricultores a rádio da diocese.
Católicos contestários, como o bispo francês Jacques Gaillot e o teólogo suíço Hans Kueng, lamentavam há anos que o processo de beatificação, iniciado em 1996, estivesse, como afirmaram, bloqueado.
João Paulo II e o papa emérito Bento XVI sempre desaprovaram os excessos da teologia da libertação, uma deriva perigosa - na opinião dos dois - do cristianismo para a luta de classes definida pelo marxismo.
Antes de morrer, Romero terá perdido o apoio de João Paulo II, afirmou em 2011 o teólogo italiano Giovanni Franzoni.
A "luz verde" dada pelo papa Francisco, eleito papa a 13 de março, é um forte sinal para todo o clero latino-americano que, sem estar envolvido nas lutas mais radicais e sem recorrer às armas, defendeu os mais pobres, correndo grandes riscos.