Papa quer mais missionários na Amazónia, não padres casados

Bispos da Amazónia tinham pedido para casar, com o objetivo de remediar a escassez de sacerdotes.
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O papa Francisco pediu esta quarta-feira justiça e respeito ambiental na bacia da Amazónia, mas não recomendou a ideia de padres casados, rejeitando assim uma proposta feita pelos bispos em outubro para permitir a ordenação de homens casados em áreas remotas com o objetivo de remediar a escassez de sacerdotes.

A decisão foi tornada pública esta quarta-feira pelo Vaticano, numa carta papal, e surpreendeu muitos, que esperavam uma mudança revolucionária, tendo em conta a sua abertura sobre questões do celibato sacerdotal em "lugares distantes" e o seu desejo de uma igreja mais colegial e aberta a discutir discussões que antes eram tabus e menos burocrática.

Os conselheiros mais próximos de Jorge Bergoglio já reconheceram que o impacto do papa a nível global, especialmente em questões como imigração e meio ambiente, diminuiu.

Ainda assim, esta recusa do papa poderá satisfazer os mais conservadores, que viam no pontífice numa igreja mais pastoral e inclusiva como uma grave ameaça às regras, ortodoxia e tradições da fé.

No documento final sobre o Sínodo na Amazónia, realizado em outubro de 2019, com o título "Querida Amazónia", Francisco não se refere às recomendações dos bispos para considerar a ordenação de homens e mulheres diáconos casados, tendo exortado os bispos a orarem por mais vocações sacerdotais e a enviarem missionários para a região, onde os fiéis que vivem em comunidades remotas podem passar meses ou até anos sem missa.

Na exortação era esperada uma decisão do pontífice argentino sobre a proposta aprovada durante a Assembleia dos Bispos de ordenação sacerdotal de diáconos casados, tendo em vista a celebração dominical da eucaristia nas regiões "mais remotas" da Amazónia.

O documento agora publicado é uma carta de amor à floresta amazónica e aos seus povos indígenas, escrita pelo primeiro papa latino-americano da história, que há muito se preocupa com as questões ambientais e com a crucial importância da Amazónia para o ecossistema global.

Em julho do ano passado, porém, num documento de trabalho para o Sínodo Especial dos Bispos para a Amazónia, o Vaticano abriu a porta à ordenação de homens casados na Amazónia, referindo-se a homens preferencialmente indígenas", mas esta abertura foi vista como algo que acabaria por se estender a toda a Igreja e que poderia levar, posteriormente, ao fim do celibato.

"Afirmando que o celibato é um dom para a Igreja, solicita-se que, para as áreas mais remotas da região seja estudada a possibilidade de ordenação sacerdotal para anciãos, preferencialmente indígenas, respeitados e aceites pela sua comunidade, mesmo que já tenham família constituída e estável, a fim de garantir os sacramentos que acompanham e sustentam a vida cristã", podia ler-se no texto.

Também em julho do ano passado, o padre Anselmo Borges lembrou a propósito, em declarações ao DN, que só se começou a falar em celibato no século XI, quando o Papa Gregório VII quis impô-lo, só tendo sido imposto no Concílio de Trento, no século XVI.

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