Papa peregrino será sempre uma estrela

O Papa Francisco aterrará na Base Aérea de Monte Real a 12 de maio e regressa a 13. Uma viagem que anuncia como peregrino e circunscrita ao Santuário de Fátima mas com recuperações internacionais numa Europa em mudança
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O momento, o contexto e a personalidade Jorge Bergoglio fazem que a visita do Papa Francisco a Fátima tenha repercussões internacionais e seja um acontecimento mediático, por mais que a Igreja diga que a vinda é puramente religiosa, como se de um peregrino se tratasse. Como se tal fosse possível. O Papa chega no dia 12 de maio a Monte Real, dorme em Fátima, na Casa Nossa Senhora do Carmo, e regressa a Roma a 13.

"Vem na altura certa", assegura Miguel Monjardino, do Instituto de Estudos Políticos e de Geopolítica e Geoestratégia da Universidade Católica. "O contexto político e histórico é muito especial, porque 2017 é o ano em que ficará claro que estamos num momento de transição para um novo ciclo político na Europa. E que acontece por razões de natureza tecnológica, do evoluir da globalização e das suas consequências para a ordem regional europeia. O Papa virá numa época de mudança, que se verificará internamente mas que tem forte pressão externa." Juntam-se as características de Francisco, que "tem demonstrado uma enorme capacidade de estabelecer uma relação emocional com as pessoas e de chamar a atenção para o papel da Igreja Católica nas sociedades". Apoiar os desfavorecidos, logo seguido do papel diplomático, importante na negociação de acordos. "A arte diplomática é discreta, e se há coisa que o Vaticano tem, é uma grande diplomacia", sublinha o professor de geopolítica. Embora o Papa seja uma figura de Estado, esta não é uma visita de Estado, o que estará relacionado com a sua falta de agenda, explicou ao DN a assessoria da Presidência da República. Apesar do convite de Marcelo Rebelo de Sousa, que o entregou pessoalmente na primeira viagem ao estrangeiro enquanto Presidente da República. O mesmo desejo tinha manifestado em Roma o bispo de Leiria-Fátima, António Marto. Mas foi Belém que anunciou a confirmação oficial da viagem, mais um indicador de que esta não ficará pela religião.

É a terceira vez que um Papa visita Portugal sem sair do distrito de Leiria. O primeiro foi Paulo VI, em 1967, que o fez por motivos políticos dado o regime de então, e ali esteve apenas algumas horas. O segundo foi João Paulo II, em 1991, mas esta foi na segunda das três visitas que este pontífice fez ao país. E embora haja quem considere a atitude de Francisco uma descortesia diplomática, assim não o entende a Presidência.

Cabe ao reitor do Santuário de Fátima, Carlos Cabecinhas, coordenar a visita, tendo viajado até Roma na semana passada para as primeiras reuniões de preparação. Explica que "as visitas do Papa têm-se centrado essencialmente em dois objetivos: periferias e diálogo antirreligioso, com um enfoque especial no ecumenismo. A Europa tem estado, por isso, fora do roteiro", mas recorda "que o Papa esteve no Parlamento Europeu em Estrasburgo, no dia 25 de novembro de 2014. Aliás, foi o primeiro Papa a discursar para os líderes europeus depois de João Paulo II, 26 anos depois". O reitor sublinha que a vinda a Portugal deve-se essencialmente ao desejo de se fazer peregrino de Fátima: "Quando da sua eleição, o Papa Francisco consagrou-se a Nossa Senhora e pediu que a sua imagem, venerada na Capelinha das Aparições, se deslocasse ao Vaticano para a Jornada Mariana do Ano da Fé. A ligação do Papa Francisco a Fátima, como de todos os papas da modernidade, é muito grande. Vir a Fátima, fazer-se peregrino, rezar diante da imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima é um motivo suficientemente forte para que o Papa nos visite. E isso deixa-nos muito felizes."

O padre Peter Stilwell, reitor da Universidade de São José, em Macau e que, foi responsável pelo diálogo inter-religioso no Patriarcado, também realça a importância de Fátima para o mundo católico e como extravasa o próprio país, "que é maior do que a sua dimensão geográfica". Transmite uma mensagem de paz num mundo em guerra, "que continua relevante" e que, muito provavelmente, "o Papa irá lembrar para falar dos conflitos mundiais".

Otávio Carmo, da Agência Ecclesia, é um dos jornalistas vaticanistas. "Só o anúncio da visita teve bastante repercussão na imprensa internacional", diz, o que é motivado pela importância de Fátima e pela personalidade do Papa Francisco, com quem as pessoas estabelecem grande empatia. Até quando sai à rua para comprar sapatos, como aconteceu na semana passada.

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