Bento XVI voltou ontem a defender os "valores cristãos" da Europa, insistiu no aprofundamento do diálogo com os cristãos ortodoxos e protagonizou novo gesto de aproximação ao islão, ao rezar voltado para Meca na principal mesquita de Istambul..No terceiro dia da sua viagem à Turquia, o Papa assistiu de manhã a uma missa ortodoxa, celebrada na igreja de São Jorge pelo patriarca ecuménico Bartolomeu I..Após a missa, Bento XVI defendeu que "todas as comunidades cristãs" - católicos e restantes denominações - se devem empenhar na preservação "das raízes, tradições e valores cristãos da Europa"; outro dos pontos fortes da declaração papal foi o apelo lançado aos "dirigentes mundiais" para "respeitarem a liberdade religiosa como direito humano fundamental". Esta é uma das traves-mestras da estratégia de "reciprocidade" defendida pelo Vaticano, que propõe uma maior abertura e respeito pelos muçulmanos no Ocidente em troca de igual tolerância e respeito pelos cristãos nos Estados islâmicos.. Bento XVI não participou na liturgia devido às divergências, maioritariamente de carácter canónico, entre as duas igrejas. Estas divergências são uma das razões centrais da deslocação do Papa à Turquia, tendo este emitido uma declaração comum como Patriarca ortodoxo, em que ambos se comprometem a apoiar os trabalhos da comissão para o diálogo teológico, instituída em 1979 na sequência do encontro de João Paulo II com o predecessor de Bartolomeu I, também em Istambul..A tarde foi consagrada a duas visitas de carácter simbólico. O Papa visitou primeiro a catedral de Hagia Sophia (Santa Sofia), construída há 15 séculos e convertida em mesquita após a queda de Constantinopla, em 1453; é um museu desde as reformas seculares de Kemal Ataturk..Bento XVI esteve depois no mais importante templo do islão em Istambul, a Mesquita Azul, situada defronte de Santa Sofia. Com esta visita, Bento XVI tornou-se o segundo papa a visitar um local muçulmano de oração, após a presença de João Paulo II, em 2001, numa mesquita síria. Na Mesquita Azul, a convite do líder muçulmano da cidade, recolheu-se em oração voltado para Meca, num gesto entendido como novo sinal de apaziguamento para os muçulmanos, devido às suas declarações sobre as relações entre islão e violência, em Setembro passado.