Pandora aposta em comédia de costumes bem à portuguesa
Não é inédito, longe disso (a trilogia dos clássicos de Leonel Vieira não o desmente...), mas é sempre um caso no cinema português quando alguém decide produzir uma longa-metragem sem financiamento do Estado, ou seja, o dinheiro do ICA (o instituto que financia o cinema nacional). Pandora da Cunha Telles, jovem produtora da Ukbar Filmes, acreditou que A Mãe é Que Sabe tinha de ser feito. Fala em loucura: "Sim, é uma loucura! Neste ano decidi que iria fazer um filme autoproduzido, aliás vamos fazer um filme assim todos os anos!"
Esta comédia de costumes lusitana mudou também o destino do seu realizador, Nuno Rocha, realizador vindo da publicidade e de curtas-metragens de culto, como Vicky and Sam (2010) e 3X3 (2009). Se o filme não acontecesse, Nuno desistiria do cinema. A culpada dele continuar no cinema é Pandora: "isso é verdade. Se este filme não fosse feito ele dedicar-se-ia a outra atividade. Confesso que tive uma relação de longo namoro com ele... Um namoro de produtora a um realizador. Desde que vi 3x3 que fui ter com ele para lhe dizer que queria produzir uma longa - um namoro à moda antiga que durou seis anos. Mas sempre que íamos concorrer com o ICA nunca conseguíamos ganhar o subsídio. Eram projetos com um lado do fantástico. Até que este ano, num almoço em Lisboa, disse-lhe que queria que fosse ele a realizar este projeto do A Mãe é Que Sabe, um argumento que tinha encomendado há três anos ao Roberto Pereira e que fazia parte da lista dos nossos projetos que temos expectativa de grande público. Curiosamente, tinha-me dito que não valeria a pena manter-se mais como realizador porque não estava a fazer os filmes que queria. Achei surreal: como era possível uma das pessoas mais talentosas que conheço deixar de fazer cinema! Então disse: ou é agora ou nunca. Mal ele lê o guião no Porto, liga-me, e diz que gosta. Decidimos então seguir em frente!"
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Agora temos uma produtora orgulhosa do filme, plenamente convicta de que é uma história que pode chegar a públicos transversais. Está otimista com as possibilidades comerciais do filme, que além da RTP teve ainda a ajuda financeira de uma marca de automóveis que conseguiu um vistoso product placement e um apoio à finalização do ICA. Sobre a margem de lucro, garante já ter feito as contas, mas volta a lembrar de que foi uma loucura filmar estes noventa minutos em apenas três semanas e em regime de low-budget: "Não quero falar das contas pois pode agourar... Digamos que é um filme para ser trabalhado no mercado nacional e nos PALOP. O boca-a-boca pode funcionar! O que é incrível é que em junho ainda estávamos a filmar! Volto a dizer: é uma loucura - ninguém faz low-budget com efeitos digitais, tantos atores, banda sonora com orquestra e uma direção de arte como esta. A Mãe é que Sabe é um filme para deixar as pessoas felizes."
Para o ano, Pandora da Cunha Telles tentará também chegar ao grande público com o biopic Al Berto, realizado por Vicente Alves do Ó. Cada vez mais, o cordão umbilical com os Filmes do Fundo do seu pai, António da Cunha Telles, o nosso produtor mais veterano, está cortado: "ele diz-me para não fazer desta maneira, que perco dinheiro, pois já fez isso, mas era assim que ele fazia no cinema novo português quando financiou o cinema de António de Macedo ou Paulo Rocha..."
Juntamente com o sócio, Pablo Iraola, quer continuar a acreditar num cinema em que é o produtor quem encomenda o filme. Uma produtora "autora" que diz que o seu trunfo é convencer os outros: "sou boa a envolver as pessoas, mas quando me chateio é bom que saiam de baixo. Seja como for, consigo mesmo motivar quem trabalha comigo!"