Palestinianos cruzam a fronteira para ir à praia em Israel. Militares fecham os olhos
Desde que Israel ocupou a Cisjordânia, durante a guerra de 1967, que os palestinianos que vivem neste território não têm acesso ao mar Mediterrâneo (que no ponto mais próximo fica a apenas 15 quilómetros de distância), tendo de ter uma autorização para cruzar a fronteira. Mas desde a semana passada que milhares estarão a entrar ilegalmente para ir a banhos, sob o olhar dos militares israelitas, que nada têm feito para impedir a situação.
"Os soldados não se importam. Podiam parar a situação a qualquer momento", disse um palestiniano ao jornal israelita Haaretz, que escreveu sobre esta peregrinação às praias. Isto apesar de estarmos em plena pandemia de coronavírus e de, noutras alturas, estas entradas ilegais poderem ser vistas como uma ameaça para a segurança de Israel.
De acordo com o jornal, depois de as primeiras tentativas dos palestinianos entrarem por estes buracos na fronteira não terem sido travadas por Israel, na semana passada, no final do festival Eid al-Adha, a palavra espalhou-se pela Cisjordânia e neste fim de semana o número daqueles que fizeram a viagem foi muito maior. De tal forma que autocarros com motoristas árabes israelitas começaram a ir buscar as famílias à fronteira e a levá-las para as praias, cobrando entre cinco e nove euros pelo serviço.
"Os soldados veem que são famílias com bolas de praia e comida, não com granadas", disse Aref Shaaban, que organizou o transporte e espalhou a palavra através das redes sociais. Outra testemunha disse ao mesmo jornal que os militares chegaram mesmo a ajudar as famílias a atravessar de volta para a Cisjordânia, apontando os faróis dos jipes militares para as aberturas na vedação que marca a fronteira quando já era de noite.
Se a Faixa de Gaza está junto ao mar, a Cisjordânia está cortada do Mediterrâneo por Israel - tendo apenas acesso ao mar Morto (que tem 50 km por 15 km). Para muitos, é a primeira vez que veem o mar aberto. "Os meus filhos nunca tinham visto o mar - para eles, era como se estivessem a vir para a mais importante atração do mundo", contou Siham, de 45 anos, que tem cinco filhos e esteve na praia em Jaffa. "Tocar na água salgada e brinca na areia era o entretenimento de sonho e menos caro que podia oferecer aos meus filhos", acrescentou.
O Haaretz questiona se o gesto de os palestinianos irem à praia em Israel não era um protesto contra a própria Autoridade Palestiniana (que gere os territórios ocupados), que por causa da luta contra o coronavírus está a tentar restringir os movimentos. Ainda vigora o estado de emergência no território, com a proibição de ajuntamentos públicos, estando todas as empresas fechadas às sextas e aos sábados por causa da pandemia. Em Ramallah, nenhum dos parques, piscinas ou até o zoo estão abertos.
No passado já houve ocasiões em que Israel concedeu autorizações especiais para as famílias palestinianas da Cisjordânia poderem ir à praia, mas desde maio que a Autoridade Palestiniana pôs um ponto final a qualquer colaboração com Israel - incluindo a coordenação das autorizações de visita - em protesto por causa do plano dos israelitas de anexar parte da Cisjordânia (que ainda não se chegou a concretizar).