Palavra de Ordem: ativemo-nos!

Uma vida ativa em qualquer idade é essencial para o equilíbrio psicológico. Manter rotinas e horários e experimentar coisas novas é aconselhado pela Ordem dos Psicólogos.
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Em tempo de restrições sociais devido à pandemia, um número quase sem fim de atividades foram suspensas. Os danos na economia, por seu lado, atiraram mais pessoas para o desemprego ou para a reforma antecipada, e parte dos empregados ficou a trabalhar em casa. Os mais velhos ficaram mais por casa. Nada disto é novo, mas é o ponto de partida a ter em conta sobre a manutenção de uma vida ativa.

A psicóloga clínica Isabel Trindade começa por destrinçar atividade física de vida ativa, que é um conceito mais lato. "A nível psicológico, o que interessa mesmo é que nós nos ativemos, tenhamos um propósito, objetivos definidos para nos ajudar a superar muito do stress vivido durante a pandemia", diz.

"Tudo o que é imprevisível para o ser humano gera stress, causa medo. Na verdade, nada é previsível. Se pensarmos, antes da pandemia também não sabíamos o que ia acontecer no dia seguinte, mas achávamos que sabíamos. No dia-a-dia, para nos protegermos, e ainda bem, parece que conseguimos gerir tudo e sabemos perfeitamente o que vai acontecer", explica. Daí a importância da vida ativa: "Ajuda-nos a tentarmos ser mais previsíveis, mesmo durante a pandemia vamos criar objetivos."

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Para a vice-presidente da Ordem dos Psicólogos, essas metas tanto podem passar por uma caminhada ou por exercícios em casa, mas não devem ficar limitadas à atividade física e devem incluir atividade cerebral. "É muito importante que pensemos e façamos coisas que não fazíamos. É se calhar boa altura para as pessoas que estão mais em casa fazerem formações diversas naquilo que lhes apetecer, seja em informática ou em arranjos florais", exemplifica.

"Para a nossa agilidade cognitiva é muito bom termos desafios novos. Termos várias atividades dá-nos um controlo, ou pelo menos uma sensação de controlo, muito grande sobre a nossa vida, o que nos ajuda na nossa saúde mental e a baixar os níveis de ansiedade", conclui.

E quem, pelas mais diversas razões, não está motivado para o fazer? Isabel Trindade destaca o papel transformador da rede das pessoas próximas. "Um bom apoio social sentido pelo próprio é uma das variáveis melhores para a saúde mental." Nessas situações, em que se nota um amigo, colega ou familiar "fechado na sua concha", menos ativo ou com menos vontade, é tempo de ação. "É altura de nós o desafiarmos, puxarmos pela língua, deixá-lo falar, por mais que nos custe."

É desaconselhado que se reaja com um "não penses nisso". Do ponto de vista psicológico "é a pior coisa que se pode fazer porque estamos a confrontar o outro com as suas frustrações" e a menosprezá-las. Se, porém, esta primeira abordagem não traz efeitos positivos, há que tentar que essa pessoa procure ajuda psicológica.

Outra questão levantada por Isabel Trindade relaciona-se com as pessoas que durante a pandemia se concentraram no trabalho para compensar a ausência de vida social, a qual, sublinha, pode ser concretizada na mesma de forma virtual. "Com o teletrabalho e o computador à distância de um braço acabamos por descurar outras coisas. A vida ativa vai impor novamente rotinas. Podem não ser as mesmas, são outras, mas são rotinas e nós precisamos delas."

Quanto às pessoas mais idosas, em especial aquelas que levavam um quotidiano bastante preenchido, desde as universidades de terceira idade ao apoio aos netos, a psicóloga clínica aconselha que cada um reflita sobre o que fazia para se relacionar com outras pessoas, quais eram as rotinas e os objetivos para que estes sejam adaptados à nova realidade. "De certeza que cada um, à sua maneira, vai arranjar rotinas para se levantar de manhã à mesma hora, não ficar em pijama todo o dia. Temos de nos esforçar e ajudar os outros a esforçarem-se por fazerem como faziam quando iam para a rua."

O ideal é manter um horário durante a semana, para a vida "continuar a girar organizada", e, muito importante para todas as idades, manter os horários de sono.

Isabel Trindade deixa ainda uma palavra em particular para as mulheres, quer para as mais novas, que estão em teletrabalho e a sentir "mais peso devido aos muitos papéis" que desempenham, quer para as mais velhas, que perderam algumas das atividades que faziam "para os outros". As mulheres têm de dedicar mais tempo para pensar em si próprias.

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