Palau. Onde o crocodilo faz parte do turismo

Mala de viagem (134). Um retrato muito pessoal de Palau
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"Palau é o Éden do Pacífico!" Esta frase foi proferida pelo representante deste Estado insular na reunião da Nova Zelândia em que participei como especialista em turismo. Tal como para outros países da Oceânia, a ideia era sentir o pulsar de cada responsável para traçar um diagnóstico e linhas de atuação. No caso presente, a República de Palau é um pequeno país insular da Micronésia, entre os mares das Filipinas a oeste, a Indonésia e a Papua-Nova Guiné a sul e os Estados Federados da Micronésia a leste. Dizem que o território é deslumbrante, mas aquilo em que se distingue são as suas notáveis paisagens submarinas. Palau faz parte das ilhas Carolinas e consiste em oito ilhas principais e mais de 250 ilhotas e atóis, localizados a oeste dos Estados Federados da Micronésia. Ngerulmud é a capital administrativa, uma nova cidade construída na maior ilha do arquipélago, que substituiu Koror. Após a realização de um plebiscito em 1978, o país obteve sua autonomia, mas os Estados Unidos da América são responsáveis pela defesa e pela segurança nacional. O país possui pequenas ilhas rochosas, com formatos inusitados e forradas por matas incrivelmente verdes que parecem flutuar sobre o oceano, como constatei no filme apresentado. Foi transmitido que os seus habitantes se distinguem nas artes, como construtores de canoas, fabricantes de têxteis e criadores de esculturas. Naquele encontro, após a intervenção do responsável de Palau, tive uma surpresa ao almoço, por sinal oferecido por esse país, uma refeição com carne de crocodilo, bastante apreciada pelos habitantes daquela zona do mundo, recebida com diferentes sentimentos por parte dos presentes. Os crocodilos para uma refeição podem ter origem numa criação controlada em viveiro ou apanhados jovens no rio da selva de Ngchesar, nas águas plácidas e escuras, decoradas pela natureza com manguezais e outras plantas silvestres, nas quais surgem esses "objetos" em movimento, deslizando e enviando gotas para a água. Não se pense que não há crocodilos por ali só porque a água está calma, tal como visionámos no excelente documentário que nos foi apresentado sobre a zona de Ngchesar, também conhecido como Oldiais, que é um dos dezasseis Estados da nação de Palau. E comê-los talvez seja enfrentar os nossos limites. Costeletas de crocodilo jovem foram servidas em folhas de palmeira. A carne é previamente temperada com abundante azeite, sal e pimenta e acompanhada de algumas folhagens aromáticas daquelas ilhas, levadas para o encontro. Na minha presença, as partes do animal foram fritas em fogo alto por um curto período de tempo. "E agora há que deixar o crocodilo repousar por alguns minutos antes de servir", disse o cozinheiro que viajara na delegação. Curioso mandamento em relação a um crocodilo. Embora sejam répteis, a carne de crocodilo é surpreendentemente semelhante ao frango. Tal como os destinos turísticos insulares: parecem semelhantes uns aos outros, mas cada qual tem algo de especial. Por aquelas paragens, será necessário que nos aventuremos para além dos limites do conforto, sem deixar de provar aquela iguaria: "Há quem vá a Palau para comer crocodilo e acabe por conhecer os nossos outros produtos turísticos", disse o representante daquele Estado. Naquela circunstância, porém, o crocodilo de Palau foi visitar-nos à Nova Zelândia.

Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.

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