Palácio Belmonte regressa à família

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Num recanto dos deuses, onde o pôr do Sol parece um incêndio que ilumina Capri e a costa Amalfitana, onde o vento suave e fresco leva para longe os barulhos da praia, dá vontade de envelhecer nesta cidade de mar, Santa Maria Castellabate. As casas senhoriais, com as buganvílias violetas, encarnadas, laranja, amarelas, quase escondem o Palácio Belmonte, onde vive o seu senhor e príncipe, Angelo di Belmonte. Aqui encontra respostas nos silêncios dos passeios à beira da água. De Inverno e de Verão.

Descendente da Família Belmonte, Lombardos, que aqui chegaram no ano 1000, quando invadiram a cidade de Salerno, o príncipe de Belmonte, com doze títulos de nobreza, mais de 500 hectares de propriedade, é o último descendente masculino de uma família com origens italianas e espanholas, que, nos séculos passados, possuía grandes terras na Apúlia, numerosos castelos, além de 12 mil hectares perto de Barcelona. Foi na cidade catalã que um dos seus antepassados foi alcaide. Desde 1300 até ao início deste século, os prín- cipes de Belmonte eram donos e viviam no Castelo "Do Abade", em Castellabate, construído por São Costabile, o monge beneditino que fundou a Abadia de Cava, no alto da colina, para se defender dos piratas sarracenos que invadiam a costa do Cilento.

O príncipe Joaquim II, bisavô de Angelo di Belmonte, 30 anos deputado durante o reino de Itália, convenceu-se de que o castelo estava amaldiçoado e vendeu-o em 1930, passando habitar o actual Palácio Belmonte, até então pavilhão de caça. A família que comprou o castelo foi vítima de mortes horríveis e violentas, o que ajudou à sua fama. O espaço, hoje propriedade municipal e desabitado, será em breve tornado museu.

O azeite e o vinho produzidos nas propriedades de Punta Licosa, recentemente retornada às mãos do príncipe Belmonte, depois de ilegalmente ocupada durante 30 anos, eram transportados por navio a Nápoles, onde a família Belmonte vivia num palácio com mais de 50 quartos. O vinho tinto da região, que ainda hoje é um dos melhores, passou a ser transportado para a Corte espanhola, quando Carlos III, rei de Nápoles, se tornou rei de Espanha.

Ao longo dos séculos a família Belmonte teve sempre um lugar importante na vida política, social e religiosa de Nápoles e no Sul de Itália, mas estendeu a sua influência até ao Vaticano. O embaixador Antonio Pignatelli assinou o tratado de paz entre o rei bourbónico, das Duas Sicílias, Napoleão, o Papa Inocêncio XII (1691/ /1700) e um dos antepassados da família, o tio Gennaro Pignatelli di Belmonte, cardeal camarlengo de 1908 a 1948. Morreu no Palácio, onde era levado, nos últimos tempos, até à capela para dizer missa e onde hoje se celebram casamentos católicos, jurando na capela do cardeal e no palácio do príncipe amor eterno.

Reconstruído em 1931, o Palácio Belmonte é habitado desde 1982 pelo príncipe Angelo, que deixou uma carreira brilhante na Bolsa de Valores de Milão para reapropriar-se do imóvel, hoje transformado parte num hotel refinado, com suites principescas, mobiladas com peças de antiguidade, mas que respondem ao luxo do conforto moderno, com jacuzzi no terraço, sobre a praia privada. Defendendo a privacidade dos clientes, na maioria da nobreza europeia, do mundo político e da cultura, o príncipe não revela quem são os seus convidados. O DN sabe que são visita do palácio a filha da princesa Ana de Inglaterra, a filha dos condes de Paris, os príncipes italianos Boncompagni.

Separado da mulher inglesa, o príncipe ocupa duas alas do palácio. Percorre todas as noites os corredores longuíssimos, decorados com colunas e bustos de mármore dos seus antepassados. E como este é um palácio que se preza, em certas noites e diante de convidados não apreciados, o "fantasma" do seu bisavô faz partidas e prega sustos... |

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