Ao longo dos tempos, em particular após a 2.ª Guerra Mundial, houve países que cresceram muito rapidamente, como os designados Tigres Asiáticos - entre eles Taiwan, Coreia do Sul, Singapura, etc. - a par de muitíssimos outros que tiveram uma trajetória muito irregular, mantendo-se com níveis de crescimento médio irrisórios, como todos os países da América Latina, da África e muitos da Ásia. Estes viram-se assediados pela falta de honestidade e pela corrupção a generalizar-se em variados níveis da sociedade, facto que os paralisou, justamente quando deviam organizar-se para crescer, utilizando ao máximo as forças disponíveis..Será que estes, os países estagnados, ainda podem aspirar a crescer depressa, criando mais riqueza e desenvolvendo níveis de conhecimentos que acelerem o seu sucesso?.A Cidade-Estado de Singapura, que ao tempo da sua formação, em meados dos Anos 1960, estava com níveis de pobreza de qualquer outro país colonizado que acabava de ganhar a sua independência, teve uma progressão muito rápida. É hoje dos países mais ricos e, sobretudo, com um nível de conhecimentos aplicados dos mais relevantes. É onde outros países, de grandes dimensões, vão buscar apoio e saber na gestão dos portos, na instalação de aeroportos e na sua exploração, na criação e gestão de fundos de investimento, entre outros..Kishore Mahbubani, Dean durante 13 anos da Lee Kuan Yew School of Public Policy, da National University of Singapore, e presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, explica de um modo simples, as razões porque Singapura teve a sua progressão, sem hesitações. Mahbubani falou disso a cada um dos seus alunos da School of Public Policy, para que lhes ficasse gravado e, querendo, levassem à prática um dia mais tarde..As razões que ele via para a grande ascensão de Singapura resumiu-as a um acrónimo de três letras, MPH, com o seguinte significado: M de Meritocracia; P de Pragmatismo; e H da Honestidade. Como interpretava cada um desses conceitos?.- Meritocracia, para chamar os melhores para uma função ou posto de responsabilidade. "Não os irmãos ou primos ou familiares, que podem não ter nenhuma competência". Lee Kuan Yew, primeiro-ministro de Singapura, foi ele próprio brilhante com estudante..- Pragmatismo, uma palavra ou conceito inglês de que Deng Xiao Ping explica o sentido. "Que importa que o gato seja branco ou preto, desde que cace ratos?" Isto levou Singapura a não perder tempo a discutir ideologias, pois aceitou tudo quanto "funcionava", havendo na sua política alguns aspetos mais socialistas e outros de economia liberal..- Honestidade para fazer o que é correto. Numa dada altura, conta Mahbubani que um ministro-adjunto aceitou ir passar férias com um empresário, que lhe pagou todas as despesas. Quando o ministro regressou, foi preso (?) e foi-lhe explicado que aceitar férias pagas era corrupção. Como estava nas altas esferas, isso deu brado e todos ficaram em alerta... De facto, a melhor forma de limpar a corrupção é começar do topo. Quando o exemplo vem de cima, todos os outros se hão de ater aos seus princípios..Para Kishore M. estes princípios foram os que levaram Singapura a ser o que é hoje: um modelo para todos os países que querem trabalhar com seriedade e desenvolver-se depressa..Naturalmente, as pessoas do comando ou do vértice da governação de um país são determinantes na criação de um modelo de pensar, coerente e simples, com procedimentos que impulsionem formas de ação eficazes, envolvendo toda a população para reforçar o crescimento..Muitos países cheios de recursos naturais, humanos, técnicos, vegetam na mediocridade e não saem da pobreza. Parecem acomodados na paralisia de todo o sistema que se encontra minado pelas dezenas ou centenas de corruptos que sugam pelo caminho; eles não deixam que a riqueza se crie de modo fluido e abundante para que todos possam beneficiar dela..Quando a meritocracia predomina, os melhores são chamados para um cargo ou função. Há exigência para que tudo funcione bem, os problemas são rapidamente resolvidos, as autorizações pedidas não demoram mais do que o tempo necessário e o país todo usufrui com a rapidez e eficiência..Nomeações de favor promovem os menos indicados, que por sua vez elevam os seus amigos de pouco valor. E toda a organização e a sociedade enfermam e param. Em muitos países corruptos os despachos e autorizações dos responsáveis esperam, sem nenhuma razão, até que apareçam impulsos monetários indevidos para os dar a conhecer..Há, por vezes, o peso das ideologias, com absurdas teorizações, em lugar de se ser pragmático e ver o que funciona, para que os pobres saiam da sua pobreza. A Índia esteve encalhada de 1947 a 1991 num modelo económico de corte soviético, apenas pela convicção de uns políticos com poder de que esse sistema era bom para a Índia, para acabar com a pobreza e fazer o país ganhar nova estatura política. Foi um período demasiado longo e estéril!.Não criou riqueza, nem trabalho, que eram necessários; matou a competitividade e a inovação. Apesar de a pobreza grassar a resposta dos governantes foi de arrogância: tornar o sistema financeiro ainda mais controlado, levando a aumentar mais a pobreza em toda a Índia. Não quiseram ver a pobreza a alastrar-se, pois não eram eles quem tinham fome....É experiência corrente que a profusão de autorizações exigidas para qualquer empreendimento, com controlos estritos, origina uma requintada burocracia e, pelo caminho, os que querem andar depressa tentam perverter o sistema oferecendo gorjetas para acelerar os processos. Toda a economia e a sociedade se ressentem com essa perversão e o sistema acaba por aceitar como normal as pequenas ou grandes corruptelas, com prejuízos desmedidos para toda a sociedade, especialmente para os mais pobres..Daí que a luta contra a corrupção deva ser uma grande prioridade, com ação bem ordenada, incidindo sobre as pessoas situadas nos postos de topo, para serem um exemplo visível para todos, como foi o prender o ministro que aceitou férias pagas de um empresário, "por isso ser corrupção"... É quando a mensagem fica clara para todos e é eficaz, chegando a embeber, como numa cascata, todos os níveis de responsabilidade para baixo..Professor da AESE - Business School, autor de O Despertar da Índia.