País feio
As escolas de Arquitetura estão cheias de alunos mesmo que o setor esteja moribundo
É hipócrita nestes dias não falar da falência do sistema financeiro porque, quando leio o jornal ou vejo a televisão, fico apreensivo com o que acontece na banca. Poderia acontecer uma vez com o BPN, agora quando se repete com o BES e agora com o BANIF, são recaídas inexplicáveis. Os responsáveis devem uma explicação ao país e não podem justificar-se com um "não sei", independentemente da ideologia que está a governar.
Quanto à situação nacional, não sendo dos mais queixosos pois tenho uma profissão e trabalho, mesmo que seja num setor como o da construção civil. Que já não está em crise, antes moribundo. No entanto, preocupa-me que em Portugal, não sendo um país industrializado nem agrícola, algumas grandes empresas de construção civil se encontrem na situação noticiada de crise e de despedimentos. Até porque a construção civil é um comboio muito pesado, que não pode parar ou reiniciar da forma como parecem pensar.
A não ser com incentivos públicos, 2016 não será de alteração nesta área. Os privados veem o Estado parado e têm receio em investir. Existe bastante por fazer, designadamente muito trabalho de reconstrução que exige complementaridade de equipas técnicas e um macroplano. Afinal, o país está muito mal desenhado. É um país feio. Mal construído após o 25 de Abril, no qual será mais barato demolir os prédios de habitação social do que reabilitá-los. Trabalho de reconstrução não faltará.
Demorou muito a que os arquitetos tivessem direito a fazer arquitetura. Contudo, as escolas estão cheias de estudantes e os estagiários estão bem formados; há 22 mil profissionais nesta área, o que para dez milhões de habitantes é demasiado. E os jovens continuam a escolher este curso, não se convencendo de que o mercado não irá mudar assim tanto nos próximos tempos.