Pais à beira de um "ataque de nervos" - Burnout Parental

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O Burnout Parental pode ser caracterizado pela sensação de exaustão emocional, distanciamento emocional em relação aos filhos e o sentir que não se tem capacidade para desempenhar as tarefas parentais. São muitos, os pais, que se sentem assim - num stress e cansaço (extremos) permanentes.

É um caminho que se vai percorrendo, muitas vezes, sem a consciência de que se está a caminhar para a exaustão - física e emocional. São muitas as famílias em que vemos que existe uma sobrecarga constante e falta de rede de apoio, existe a acumulação de diferentes papéis (familiares e profissionais), existe cada vez mais pressão social e porque temos expectativas muito elevadas em relação à parentalidade - não existem pais perfeitos.

Educar e acompanhar os filhos todos os dias, cansa. É um estar sempre a "correr uma maratona". E por mais que amemos os nossos filhos por vezes temos de parar, respirar e pedir ajuda. Todos são válidos, os amigos, os avós, os padrinhos, os tios, profissionais que ajudam famílias, psicólogos, médicos, grupos de pais - hoje fico com os teus, amanhã ficas com os meus. Por que não? A "tal aldeia inteira" que é necessária para educar uma criança.

Pela cultura e comunidade em que crescemos, em muitos lugares do mundo, o papel de cuidador principal dos filhos recai mais sobre as mães - e também por essa razão, são as mulheres que apresentam maiores índices de burnout e exaustão -, agravando-se para quem tem filhos menores de 5 anos.

Em muitas famílias, ainda hoje, assistimos a uma dinâmica familiar onde é a mulher (mesmo trabalhando) que cuida dos filhos e gere a casa. Por exemplo, em muitas famílias está "numa pessoa só" dar banho, fazer as refeições, tudo o que envolve a escola e as atividades, tratar da roupa, fazer marmitas e refeições, arrumar, limpar, organizar (etc.) - é como gerir um pequeno empreendimento - e se as estas tarefas recaem quase que em exclusivo sobre as mães, urge uma reorganização familiar porque esta família "pode adoecer". E os filhos serão influenciados por este contexto vivencial. Não existem crianças felizes e "equilibradas" em famílias tristes e exaustas.

Alguns dos sinais de alerta são a sensação crónica de cansaço; perda de energia; não ter paciência; ansiedade, alterações do sono e apetite; irritabilidade; sentir incapacidade ou perda de eficácia para "estar" com os filhos; quando se sente que é no trabalho que se descansa; tristeza; isolamento; quando "só se quer adormecer os filhos" para ter paz; quando já não se vai à praia porque a logística disso tudo é "demais"; sentimentos de culpa e vergonha; quando já não "quero ouvir nada, nem ninguém"; quando já não quero voltar para casa depois de um dia de trabalho...

É muito importante que se mantenha um diálogo aberto sobre estas questões, é importante reduzir o estigma, aumentar a consciencialização - temos pais que estão sempre "à beira dum ataque de nervos" e por isso precisam de apoio e não de julgamento. Estes pais querem fazer o seu melhor, no entanto, esgotaram os seus recursos, estão tristes, perderam a sua autoconfiança, a sua autoestima, estão desmotivados e sentem culpa - e por vezes, nem percebem como podem fazer diferente.

É importante analisar a relação que tem com os seus filhos, simplifique as tarefas diárias, crie rotinas mais saudáveis e mais simples. As famílias mais felizes funcionam como uma verdadeira equipa, não existem pais perfeitos - é necessário desconstruir esta ideia, peça ajuda. E reserve um tempo para si, para fazer o que gosta, o que lhe dá prazer, sem os filhos.

Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde

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