Pagamentos eletrónicos. Estarão 1500 postos de trabalho em causa com o fim do "numerário"

Presidente da Associação das Empresas de Segurança diz que há uma estratégia "bem pensada" contra o dinheiro físico que ameaça o transporte de valores.
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Para o presidente da AES-Associação das Empresas de Segurança, a pandemia tem acabado por permitir um ataque à existência do dinheiro físico. Rogério Alves acusa a existência de uma "militância bem pensada e bem planeada" para pôr fim ao numerário, que levará à exclusão de grande parte dos consumidores e ameaçará o setor do transporte de valores. "Está-se sempre a fazer uma militância, um combate sem tréguas para atacar o numerário e à boleia da pandemia", disse Rogério Alves ao Dinheiro Vivo, considerando que "há aqui uma tentação de monopólio".

Segundo o presidente da AES, "se tiver sucesso este combate ao numerário, as empresas estarão em causa". "Se o numerário for afastado, então seguramente as empresas estarão em causa, os postos de trabalho estarão em causa e o bom serviço às pessoas estará em causa", avisou. "As pessoas ficarão dependentes do pagamento eletrónico que, pelos vistos, e de acordo com o Banco de Portugal, continua a ser um meio minoritário. Acabar com o numerário significa o governo de quem cobra comissões", frisou, criticando a estratégia defendida pelo Banco de Portugal.

A AES agrega as empresas de segurança privada e que prestam serviços de transporte de valores. Só este setor de transporte de valores emprega mais de 1500 trabalhadores e gera um volume de negócios anual superior a 60 milhões de euros.
O Banco de Portugal tem incentivado o uso de meios de pagamento eletrónicos. No final de 2020, o supervisor anunciou que prevê que, por exemplo, daqui a três anos todos os cartões de pagamento disponham da tecnologia contactless e vai incentivar o uso desta forma de pagamento em detrimento dos pagamentos com dinheiro nas compras de baixo valor.

A medida faz parte da "Estratégia Nacional para os Pagamentos de Retalho" para 2022, que foi divulgada recentemente pelo supervisor bancário. Atualmente, segundo o Banco de Portugal, cerca de 50% do parque de cartões no país têm esta tecnologia. E o supervisor prevê que daqui a três anos todos os cartões tenham a tecnologia contactless.

Mas Rogério Alves afirma que o numerário continua a ser o meio mais utilizado pelos consumidores no dia-a-dia, correspondente a "cerca de 70% das operações de pagamento em Portugal, segundo o Banco de Portugal".
Rogério Alves entende que atrás deste plano de extinguir o numerário há uma atitude "snob" e que interessa a quem quer "ganhar dinheiro com comissões". "O numerário é indiscutivelmente, não só o meio de pagamento mais utilizado, não é só o mais generalizado, não é só o mais acessível, não é só o mais democrático, é também o mais barato", sublinhou.

"Quem não gosta de meios de pagamento baratos, quem não se importa de tirar da circulação meios de pagamento acessíveis e democráticos para pôr os mais caros, que têm a capa da modernidade, faz este combate", disse. "Depois há argumentos que vêm enfeitar essa argumentação", como o branqueamento de capitais. "As empresas de transportes de valores controlam, escrutinam, inventariam, acompanham, tratam do dinheiro em conjugação com o BdP. Não é uma roda livre. Isto é um sistema altamente controlado", frisou. E sublinha que ainda que a extinção do numerário levará à exclusão de muitos portugueses do acesso a meios de pagamento. "Nós gostamos tanto da inclusão e aqui parece que há uma luta pela exclusão", avisou.

A AES tem em marcha uma campanha de valorização do numerário que está previsto prolongar-se nos próximos meses em que alerta para "os riscos da excessiva digitalização do dinheiro e do sistema bancário, que potenciam a discriminação da população idosa, das regiões do interior e fazem disparar os números da cibercriminalidade".

No total, o setor da Segurança Privada gerou receitas de 880 milhões de euros em 2019, segundo um estudo da DBK. O peso das empresas afiliadas da AES é de 409 milhões de euros, de acordo com dados referentes ao final de 2020.

Existem 58090 seguranças privados habilitados em Portugal, 45379 dos quais se encontravam em exercício de funções, segundo dados relativos ao final do ano passado. As associadas da AES empregam 20605 vigilantes.

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