"É verdade que a negociação provoca vergonha alheia." Foi desta forma que Pablo Echenique, negociador do Unidas Podemos nas conversações com o PSOE, descreveu, no canal La Sexta, o falhanço de um qualquer acordo entre as duas formações para governar em Espanha. Pedro Sánchez deu por terminadas as negociações, mas Pablo Iglesias exige um acordo de coligação, com pastas ministeriais para o Unidas Podemos, recusando, para já, uma solução à portuguesa, ou seja, viabilizar, só com apoios pontuais, um governo socialista minoritário..Mesmo coligados, os dois partidos não teriam maioria absoluta e, por isso, Sánchez prefere não se amarrar ao Unidas Podemos e, por exemplo, às suas posições sobre a Catalunha. Tendo em conta os resultados das legislativas de 28 de abril, as únicas fórmulas que dariam, facilmente, essa maioria seriam uma coligação entre PSOE e Ciudadanos ou entre PSOE e PP. Mas todos os líderes destes partidos recusam uma qualquer grande aliança de centro..Quem os ouve poderá pensar que não há qualquer hipótese de entendimento entre os partidos, de todo. Há, mas não a nível nacional. Só a nível local ou regional. Por toda a Espanha proliferam pactos de governo, em câmaras municipais ou em governos regionais, com as mais variadas combinações de partidos. Consoante o interesse do momento. Tal não é inédito e específico de Espanha. Também na Alemanha, por exemplo, é possível encontrar partidos rivais coligados em governos regionais. Mas ao contrário do que acontece na Alemanha, onde já houve vários tipos de coligações a nível federal, os partidos espanhóis parecem incapazes de transpor para o nível nacional qualquer uma dessas alianças que, por uma razão ou por outra, forjaram a nível local e regional..Onde PSOE e Podemos são aliados.Nas ilhas Baleares, nas autonómicas de 26 de maio, o PSOE conseguiu pela primeira vez na história da democracia espanhola mais votos do que a direita. A socialista Francina Armengol continuará a ser presidente da autonomia após um novo acordo de esquerda que inclui o PSOE, o Podemos, as formações Mès e Més en Menorca e um deputado do Gent per Formentera. Nas ilhas Canárias, o socialista Ángel Victor Torres presidirá à autonomia após um pacto com o Novas Canárias, o Sí Podemos e a Agrupación Socialista Gomera. Em Logroño, La Rioja, o socialista Hermoso de Mendoza pôs fim a oito anos de governo popular na autarquia, contando, para isso, com o apoio do Podemos e do Partido Riojano..Untitled infographic Infogram.Onde PSOE e Ciudadanos cooperam.Em Melilla, cidade autónoma espanhola no norte de África, Eduardo de Castro, do Ciudadanos, foi eleito para presidente do governo com o apoio da Coligação por Melilla e do PSOE. Castro derrotou Juan José Imbroda, do PP, que qualificara o Ciudadanos como um partido traidor. Em Jaén, na Andaluzia, o autarca é Julio Millán, do PSOE. O socialista conseguiu garantir a presidência da Câmara após fazer um pacto com o Ciudadanos..Em Burgos, Castela e Leão, o socialista Daniel de la Rosa conseguiu o apoio do Ciudadanos, depois de este, o PP e o Vox não terem conseguido entender-se para dominar a autarquia. Em Cáceres, graças à abstenção do Ciudadanos, o socialista Luis Salaya pôs fim a oito anos de governo do PP..Em Albacete, em Castela-La Mancha, Vicente Casañ, do Ciudadanos, ocupará durante dois anos a presidência da autarquia fruto de um acordo com o PSOE sobre a liderança dessa comunidade. Também a socialista Pilar Zamora será presidente da Câmara de Ciudad Real durante os primeiros dois anos, cedendo, em seguida, o lugar a Eva María Masías, do Ciudadanos. Um pacto entre o PSOE e o Ciudadanos estabelece a repartição da presidência das três grandes cidades da comunidade de Castela-La Mancha e de outra vintena de municípios da região. Guadalajara é a outra cidade grande visada pelo acordo entre socialistas e Ciudadanos..Onde PP e PSOE estão ligados (mas com nuances).Para evitar que o Vox chegasse ao poder na cidade autónoma de Ceuta, o voto em branco do PSOE deu o governo do enclave espanhol no norte de África a Juan Jesús Vivas. Os socialistas decidiram apoiar Vivas, que recusou o pacto prometido à extrema-direita pela direção nacional do PP, por uma questão de "sentido de responsabilidade" e de "maturidade"..Onde o PSOE tem outros aliados.O PSOE de Navarra fechou um acordo com o Geroa Bai, coligação formada por partidos regionais e nacionalistas bascos, mais o Podemos, mais a Esquerda Unida. Além disso conta com a abstenção da EH-Bildu, formação independentista basca, herdeira da Batasuna. O líder do PP chegou a oferecer a Pedro Sánchez os votos do Navarra Suma (UPN, PP e Ciudadanos) para que este recuse governar em Navarra com o apoio do EH-Bildu. Face a isto, muitos socialistas se questionaram porque não é Pablo Casado capaz de oferecer igual apoio a nível nacional..Na Cantábria, o Partido Regionalista de Cantábria superou, pela primeira vez, o PP. Miguel Ángel Revilla fez um pacto para governar em coligação com o PSOE em Cantábria. Também em Valência, o PSOE apoia o autarca Joan Ribó, do Compromís..Em Bilbau, no País Basco, Juan Mari Aburto, do Partido Nacionalista Basco (PNV), é presidente da câmara depois de um acordo entre o seu partido e os socialistas bascos. Na Corunha, a socialista Inés Rey será presidente da câmara após forjar um acordo com as formações Marea Atlántica e Bloco Nacionalista Galego. Em Valladolid, o PSOE tem o presidente da autarquia com o apoio do Valladolid Toma la Palabra..Onde PP e Ciudadanos colaboram.Apesar de Pablo Casado e Albert Rivera disputarem claramente a posição de líderes da oposição, o PP e o Ciudadanos governam em coligação em Castela e Leão. No que toca a autarquias, o PP de Francisco de la Torre conservou a presidência da Câmara de Málaga, mas com o apoio do Ciudadanos. Torre governa a autarquia desde 2000. Mas esta é a primeira vez que o faz coligado. Em Alicante, na Comunidade Valenciana, Luis Barcala, do PP, é o presidente da câmara, depois de os populares e o Ciudadanos terem feito uma aliança sem precisar do Vox..Onde PP e Ciudadanos estão aliados ao partido de extrema-direita Vox.PP e Ciudadanos governam, com o apoio do Vox, a Junta da Andaluzia. Dessa forma, o tripartido conseguiu pôr fim a mais de 30 anos de domínio socialista nesta região. A mesma combinação de partidos permitiu ao PP recuperar a Comunidade e a Câmara de Madrid após as autonómicas e as municipais de 26 de maio. Assim, Isabel Díaz Ayuso, do PP, será a nova presidente da Comunidade de Madrid. E José Luis Martínez-Almeida, também do PP, será o novo autarca da capital espanhola..Em Granada, a câmara será liderada por Luis Salvador, do Ciudadanos, após ter fechado um acordo com o PP e com o partido de extrema-direita liderado por Santiago Abascal. Em Saragoça, o popular Jorge Azcón é o chefe da autarquia com o apoio do Ciudadanos e do Vox. O mesmo acontece em Huesca, com Emma Buj, também do PP..Em Palência, em Castela e Leão, Juan Pablo Izquierdo, do Ciudadanos, chegou a presidente da câmara à luz do acordo que permite ao PP continuar à frente da Junta de Castela e Leão. Em Badajoz, na Andaluzia, Francisco Fragoso, do PP, conseguiu prolongar o seu mandato à frente da autarquia graças ao apoio do Ciudadanos e do Vox. Na Câmara de Santander, na Cantábria, a presidente será Gema Igual, com o apoio do Ciudadanos e do Vox..Onde outros governam em colaboração com os socialistas e o Ciudadanos (mas com nuances).Ada Colau, antiga ativista antidespejos, foi reeleita presidente da Câmara de Barcelona, mas para se manter no poder precisou do apoio dos socialistas catalães e do Ciudadanos. Caso contrário, teria sido o independentista Ernst Maragall, da Esquerda Republicana da Catalunha, a ficar com a autarquia da capital catalã nas mãos..Mas o apoio do Ciudadanos a Colau não foi bem um apoio do Ciudadanos. Ou seja, quem decidiu apoiar Colau foi o candidato do Ciudadanos por Barcelona, Manuel Valls, ex-primeiro-ministro francês que é natural daquela cidade catalã. E em França era do Partido Socialista. Albert Rivera, líder do Ciudadanos, não gostou, tendo, em seguida, rompido relações com o ex-chefe do governo de François Hollande.