Ouvidos e respiração

O ouvido e o seu sistema de tubos e caixas é revestido, em grande parte, de epitélio respiratório e contribui também para o processo de respirar. Toda a patologia do ouvido está muito relacionada com a respiração em geral. <br />
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Muita gente pensa que as otites «se apanham» por fora, ou seja, através da orelha e do canal auditivo externo, donde o receio das correntes de ar e do vento. Mas o mecanismo das otites não é esse, é bem diferente.
Chama-se correntemente «otite», ou mais correctamente «otite média aguda», à inflamação da área do ouvido que fica além do tímpano, na tal zona em forma de caixa à qual se chama o «ouvido médio». São extremamente frequentes – calcula-se que pelo menos duas em cada três crianças tenham um ou mais episódios até aos 3 anos, e até esta mesma idade, calcula-se que, em Portugal, haverá cerca de trezentos mil casos de otite por ano, os quais, só para os leitores terem uma ideia do impacte, causam perto de um milhão de dias de absentismo.

Eterna e dolorosa ameaça...
A maioria das otites são causadas por secreções que sobem pela trompa de Eustáquio (canal de arejamento do ouvido, entre o ouvido médio e a parte de trás do nariz) e invadem o ouvido médio. A trompa de Eustáquio nas crianças pequenas é mais larga, mais pequena e mais deitada do que nas crianças maiores. É por isso que as secreções, o leite bolçado ou vomitado, etc., podem mais facilmente chegar ao ouvido, infectando-se e dando uma otite. E como os orifícios das trompas de Eustáquio, ao nível da parte de trás do nariz, ficam mesmo ao pé das adenóides, estas contribuem para as entupir, por um lado, e para serem um meio de expansão de infecções, pelo outro. Quando a criança sente o «ranho lá atrás» e funga, está a auto-injectar-se de secreções enviando-as para o ouvido médio.
Os sintomas de otite variam muito conforme a idade da criança. Nos bebés pequenos podem ser apenas febre, choro (equivale à dor), mal-estar, recusa de mamar, diarreia e outros sinais inespecíficos. A criança maior, que já se queixa, refere dor e também tem febre. Esta situação enxerta-se geralmente numa constipação e obstrução nasal que começou nos dias anteriores. Aliás, a otite média aguda, antes de «rebentar» (tecnicamente diz-se supurar), funciona como um qualquer abcesso, ou seja, determina febre e dor. Quando abre, a dor desaparece, assim como a febre.
A princípio pode pôr-se gotas nos ouvidos, para diminuir a dor, e tratar da obstrução nasal (soro, nebulizadores de água-do-mar, vasoconstritores, etc.). Se a febre e as queixas persistem, então a criança deverá ser vista por um médico. A otoscopia confirmará o diagnóstico e o médico instituirá a terapêutica – diga-se que as evidências científicas apontam cada vez mais para um tratamento conservador das otites, havendo alguns estudos que, inclusivamente, não propõem o uso de antibióticos.

Será possível evitar as otites?
É difícil arranjar uma fórmula mágica que evite as otites. Relativamente ao temor dos pais e educadores quanto ao frio e ao vento, convém referir que as otites são do ouvido médio e só muito raramente do ouvido externo, ou seja, ficam para dentro do canal auditivo e do tímpano. Assim, a influência do vento ou do frio não é directa, pelo menos não é maior do que em relação a qualquer infecção. O mais importante é evitar a acumulação das secreções no nariz e nas adenóides e ensinar a criança, desde muito pequena, a assoar-se e não fungar. Também a amamentação é um factor protector, bem como administrar o biberão, se for caso disso, com o bebé em posição semivertical e não deitado.
Por outro lado, os poluentes respiratórios, entre os quais o tabaco passivo, funcionam como factores de risco e agravantes das otites. Claro que se houver um defeito estrutural naquela zona (faringe e ouvido) as otites poderão ser mais frequentes.

Ir ao otorrino?
Para fazer o diagnóstico de otite, o médico-assistente seguramente se encontra capacitado. A observação com o otoscópio confirmará, embora nas crianças mais velhas (que já têm sintomas muito específicos) ou face a uma secreção purulenta no canal auditivo, a otite se mostre evidente. É um bom princípio, perante qualquer criança febril, fazer-se uma otoscopia.
Finalmente, uma questão que se coloca frequentemente aos pais, mesmo depois de o episódio ter sido tratado e a criança estar bem: deverão levar o filho ao otorrino? Na larga maioria dos casos não há necessidade. As otites fazem parte do crescimento e não são graves, mesmo que incómodas para a criança e para os pais. No entanto, se se tornarem crónicas ou extremamente repetitivas, ou resistentes ao tratamento, certamente o médico assistente indicará uma visita ao especialista. Finalmente, se existe uma situação condicionante, como as adenóides grandes, o caso poderá ter de ser encarado de outra forma.

ADOLESCENTES

Arte na adolescência

Provavelmente, para a maioria dos adolescentes, as artes – música, escultura, pintura, teatro, cinema e outras formas de expressão plástica e de criatividade – não preenchem na sua vida o espaço que deveriam.

A vida é mais vertiginosa do que era, o que não se compadece com o tempo e a latência necessários à reflexão inerente à actividade artística. Por outro lado, a televisão passou a ocupar um espaço muito grande no dia das pessoas e, dado o seu grande poder de atracção e o facilitismo que advém de ser uma actividade passiva, roubou muita da apetência dos adolescentes pelas outras artes.
Como se não bastasse, muitos pais ocupam as horas de lazer dos filhos com mais e mais actividades académicas estritas e aprendizagem de línguas, deixando pouco tempo (afinal de contas, subvalorizando) as artes.
Muitas escolas felizmente já começam a ter algumas actividades extracurriculares, para lá das aulas obrigatórias: clubes de pintura, grupos corais, de modelagem, etc. Mas quantos alunos as frequentam? Valerá a pena os pais inteirarem-se do que existe e debaterem com os filhos as possibilidades de eles frequentarem essas actividades, sem os obrigar a fazer o que não querem ou uma actividade para a qual não têm talento, mas sem por outro lado colaborar com uma certa preguiça natural ou rotulando à partida de «falta de jeito» o que pode ser apenas inexperiência e o ainda escasso desenvolvimento das capacidades pessoais.
Será também útil que os pais debatam com os professores a possibilidade de ter mais actividades deste tipo, com a própria colaboração das famílias e dos cidadãos em geral.
Em meios pequenos esta solução será sem dúvida mais fácil – até porque as pessoas se conhecem melhor e não existem tantos problemas de deslocações e de perdas de tempo. Haverá decerto pessoas na família do aluno que têm talento para determinadas artes – pintura, música, teatro, escultura. Porque não identificar essas pessoas e pedir a sua colaboração? Algumas delas estarão seguramente disponíveis. Muitas talvez já estejam reformadas e disponham de tempo livre.
A escola pode organizar concursos, exposições, animações que ponham os alunos mais em contacto com as artes e os faça desenvolver o gosto pela cultura e pela criatividade, discutindo com eles as melhores formas de utilizar os tempos de lazer e de organizar com a comunidade essas actividades. Será certamente interessante se os alunos dialogarem com pessoas de outras gerações, com experiências pessoais e com trabalhos que, infelizmente, estão remetidos e confinados às gavetas ou às paredes das casas de cada um, faltando o espaço para a sua partilha.
As competências sociais e artísticas são tão importantes como as competências meramente académicas e chegou a altura de darmos esse salto qualitativo ou qualquer dia os adolescentes portugueses serão meras máquinas de produzir notas para depois entrarem nesta ou naquela faculdade, neste ou naquele emprego, e passarem a vida a produzir outro tipo de «notas».

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