Ostras de segunda geração criadas em águas do Sado

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Os ensaios feitos em 2002 revelaram resultados acima das expectativas. Em apenas oito meses as ostras angulatas de aquicultura banhadas pelo estuário do Sado atingiram o tamanho comercial. Em França, este processo demora dois anos. Melhor ainda: a casca era fina e o miolo bem mais avantajado do que as do meio natural, ali a poucos metros. A experiência, realizada pela bióloga Fernanda Pessoa da Universidade Nova de Lisboa, garantia a viabilidade da Sapalsado, nas antigas salinas do Faralhão, Setúbal.

Mesmo em dias de crise, o sucesso de Les Portugaises, como estão registadas, não pára. A empresa sadina encontrou um filão que pôs termo à decadência da ostra do Sado iniciada na década de 60 - quando cerca de quatro mil pessoas se dedicavam à sua produção - em consequência da poluição industrial. Os poucos exemplares que ainda vão surgindo têm uma casca muito grossa e um miolo minúsculo. São as defesas produzidas pelo organismo da ostra às agressões externas que motivaram o desinteresse comercial.

Hoje, a Sapalsado cria ostras bebés vindas de França (em Portugal ainda não existem maternidades desta espécie) que entram nos tanques da empresa com um tamanho inferior a uma unha, estando prontas a ir para a mesa do consumidor no prazo de seis a oito meses, consoante os nutrientes que o rio conduza às explorações e a temperatura da água. "Quanto menos fria melhor, porque crescem mais depressa", explica Paulo Anacleto, administrador da empresa, mostrando a entrada do Sado nos tanques da Sapalsado. "Aproveitamos a enchente porque é quando o caudal é maior e está menos poluído", diz, garantindo que aqui reside boa parte do êxito da produção de ostras, sendo necessário aguardar pela vazante para observar os sacos metálicos onde os bivalves crescem junto ao lodo, parte relevante neste processo porque ajuda a afastar os parasitas que se fixam na casca.

Já adultas, as ostras são encaminhadas para uma unidade de depuração, onde permanecem 48 horas mergulhadas em tanques esterilizados de água salgada até serem embaladas. Estão então prontas para seguir para o mercado. Grande parte da produção é canalizada para França, o maior consumidor de ostras, com uma média de 200 mil toneladas/ano.

Aliás, as ostras do Sado chamaram a atenção dos franceses após vários encontros dos dirigentes do Sapalsado naquele país, cujo ponto alto foi uma apresentação na própria UNESCO em Paris, onde Les Portugaises convenceram os maiores apreciadores destes moluscos que ajudaram a inverter a tendência nos viveiros da empresa que produz actualmente 800 quilos de ostras por mês, embora em Dezembro, com o efeito do Natal e Ano Novo, as vendas tivessem disparado para as duas toneladas.

O quilo de ostra pode ser adquirido na Sapalsado por seis euros, o que dá uma média de 14 unidades "bem cheias". Mas a empresa também faz distribuição ao domicílio, admitindo vir a atingir em breve uma produção da ordem das 50 toneladas.

Paulo Anacleto considera que "hoje é a única coisa que tem interesse comercial porque os tanques de peixe deixaram de ser rentáveis por causa da concorrência grega, que coloca dourada nos supermercados a três euros, quando o nosso custo de produção supera os quatro", diz, animado com a ideia de avançar com testes para produção de amêijoas e vieiras.

"A ideia é procurar os produtos de que há mais falta e que as pessoas apreciem, mas acreditamos que as amêijoas e as vieiras têm espaço no mercado se forem apresentadas com grande qualidade", resume o empresário, crítico face à "falta de apoio à aquicultura". "Há anos ouvimos o Governo dizer que este é um sector estratégico, mas temos sido muito maltratados.

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