Óscares
São apenas 83 os membros votantes da Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, que entrega anualmente os Globos de Ouro, contra cerca de seis mil da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Mas não é o tamanho que impede esta organização jornalística de atribuir os segundos prémios de cinema mais importantes dos Estados Unidos (bem como galardões de televisão, após os Emmy) a seguir aos Óscares, com a consequente mobilização mediática e de estrelas no esplendor do glamour. Nem de gozar, junto da comunidade cinematográfica americana, bem como em certas zonas do cinema europeu, de tanta ou mais simpatia do que a institucional e "quadrada" Academia - e ainda de uma propensão para ser muito mais permeável do que aquela à lisonja e à influência dos grandes estúdios.
Estrategicamente atribuídos cerca de um mês antes das estatuetas de Hollywood, e poucos dias adiante das respectivas nomeações (este ano, no próximo dia 25), os Globos de Ouro são geralmente considerados como apontadores credíveis para os Óscares - se bem que por algumas vezes as contas lhes tenham saído furadas -, aumentando ainda a cotação de favoritismo para as estatuetas,
os vencedores. A julgar pelos Globos de Ouro referentes a 2004, que foram atribuídos no domingo, em Los Angeles, numa cerimónia descontraída, animada e cheia de luxos, com transmissão directa pela NBC (um contrato de 10 anos que rende milhões à Associação), ficaram já definidos com bastante clareza que três filmes poderão dominar a cerimónia dos Óscares, no dia 27 de Fevereiro.
São eles The Aviator, a biografia de Howard Hughes por Martin Scorsese, que venceu os Globos de Filme Dramático, Actor Dramático (Leonardo DiCaprio) e Banda Sonora; Million Dollar Baby, sobre uma pugilista-prodígio e o seu velho treinador, que arrebatou os prémios de Realizador (Clint Eastwood) e Actriz Dramática (Hilary Swank); e a modesta comédia Sideways, de Alexander Payne, distinguida em Melhor Filme Musical/Comédia e Argumento, onde dois amigos vão fazer o circuito dos vinhos na Califórnia antes do casamento de um deles, e descobrem que entraram na crise da meia-idade e são um par de falhados.
O Globo de Ouro do Filme Estrangeiro para Mar Adentro, de Alejandro Amenábar (Espanha), veio, por seu lado, confirmar a profunda impressão que tem causado esta fita nos EUA, a história verídica de um pescador galego que esteve tetraplégico anos a fio, e acabou por cometer eutanásia. (Mar Adentro já vinha coberto de prémios do Festival de Veneza e de Goyas espanhóis.)
Há ainda que considerar como potenciais favoritos aos Óscares nomes como Jamie Foxx, que foi Melhor Actor em Comédia/Musical pela sua personificação de Ray Charles em Ray, e Annette Bening, que venceu na categoria feminina respectiva, pela sua diva do teatro "bettedavisiana" em Being Julia. Isto porque os Globos contemplam categorias dramáticas e de musical e comédia, o que contribui também bastante para a sua popularidade em Hollywood.
A cerimónia. Rezam as agências e as crónicas que a cerimónia de entrega dos Globos de Ouro proporcionou o habitual espectáculo de congratulação mútua e agradecimentos em todas as direcções.
Jamie Foxx choramingou e agradeceu ao espírito de Ray Charles e ao seu "realizador branco", Taylor Hackford; Natalie Portman (Actriz Secundária por Closer) elogiou o realizador Mike Nichols, chamando-lhe, entre outros, "papá" e "estrela de rock"; Hilary Swank disse que por detrás da imagem de "duro" de Clint Eastwood está um homem de "enorme coração"; DiCaprio esvaziou o saco dos encómios em Martin Scorsese.
Quanto a Mick Jagger e Dave Stewart, vencedores na categoria de Melhor Canção pela do filme Alfie, confessaram-se "algo atordoados pela vitória". Razão "É que o nosso negócio não é este".