Osborne sob fogo por ameaçar aumentar impostos e cortar despesas

Ministro das Finanças enfrenta rebelião de 65 deputados conservadores que prometem votar contra orçamento retificativo que governo diz ter de implementar caso britânicos optem por sair da UE
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A mensagem do ministro das Finanças britânico, George Osborne, era só uma: votar brexit é votar na austeridade. Tudo porque um voto para o Reino Unido sair da União Europeia obrigará, avisou, a aumentar os impostos e cortar nas despesas públicas, para um ajuste fiscal no valor de 30 mil milhões de libras (38 mil milhões de euros). Mas as contas foram rapidamente contestadas pelos deputados conservadores eurocéticos, com pelo menos 65 a dizer que votarão contra esse orçamento retificativo - que alguns apelidaram de "punitivo". E, de repente, aquele que era apontado por muitos como eventual sucessor do primeiro-ministro David Cameron vê-se debaixo de fogo.

"Pela primeira vez, temos um ministro das Finanças conservador e um ex-ministro das Finanças trabalhista a concordar na escala das decisões que seria preciso tomar para consertar as finanças públicas se deixarmos a UE. Teria que haver um aumento dos impostos e cortes nos gastos públicos para preencher o buraco negro", disse Osborne ao programa Today da BBC Radio 4, referindo-se a Alistair Darling, que surgiu ao seu lado na apresentação das propostas. Ministro das Finanças quando começou a crise de 2008, o trabalhista disse estar mais preocupado com o cenário atual do que com o que existia nessa altura.

Entre as medidas previstas por Osborne está um aumento de 15 mil milhões de libras nos impostos - incluindo uma subida de dois pontos na taxa básica para os 22% e de três pontos na mais alta, para os 43%, mas também de 5% nos impostos sobre o álcool e o petróleo. Além disso será também preciso cortar nos gastos públicos, nomeadamente 2% na saúde (equivalente a mais de três mil milhões de euros), defesa (1,5 mil milhões de euros) e educação (1,4 mil milhões de euros). E cortes de 5% em policiamento, transportes e nos orçamentos dos governos locais. O ministro explicou que votar pelo brexit no referendo e 23 de junho seria equivalente a "uma austeridade autoimposta durante muitos anos".

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Mas apesar do apoio do antecessor trabalhista (e não do atual ministro sombra das Finanças, John McDonnell, que disse que o Labour nunca aprovaria mais austeridade) Osborne enfrenta a rebelião dentro do próprio partido, com pelo menos 65 deputados conservadores a ameaçar bloquear esse seu orçamento de emergência. "Eles perderam todos os grande argumentos e agora tentam apavorar os britânicos. Eles acham que somos parvos", disse o ex-ministro do Ambiente, Owen Paterson, um dos que considera que a proposta equivale a um "orçamento punitivo".

O Vote Leave, a campanha oficial do brexit, respondeu em comunicado: "É absurdo dizer que se as pessoas votarem para recuperar o controlo face à União Europeia teremos que as punir desta forma. Se ele quisesse continuar com estas propostas, a posição do ministro seria insustentável." E consideram "incrível" que Osborne "ameace renegar tantas promessas eleitorais do manifesto conservador".

David Cameron, que faz campanha pela continuação do Reino Unido na União Europeia, já disse que independentemente do resultado do referendo quer continuar à frente dos destinos do país e negociaria com Bruxelas a saída. Contudo, está a ser cada vez mais contestado entre os conservadores pela forma como tem feito campanha e, mesmo se não deixar a liderança do partido (e consequentemente do governo), a revolta contra Osborne poderá fazê-lo cair. "Ele será levado por homens de bata branca antes de ter a hipótese de fazer estas propostas ridículas", disse um veterano conservador à BBC, sob anonimato.

Plano pós-brexit

A campanha a favor da saída do Reino Unido da União Europeia divulgou ontem as cinco prioridades legislativas para implementar após o referendo, de forma a começar a cortar as ligações a Bruxelas. "Depois de votar no brexit, os eleitores precisam de ver que existe uma ação imediata para recuperar o controlo da UE", disse Chris Grayling, líder da Câmara dos Comuns, na apresentação das propostas.

Uma das prioridades passa por uma nova lei das Finanças que permita abolir a taxa de IVA de 5% sobre as contas energéticas dos lares britânicos. Segundo o Vote Leave, a perda orçamental seria coberta pela poupança que representa deixar de pagar as contribuições para o orçamento europeu - uma das polémicas da campanha é que os defensores do brexit alegam que estar na UE custa semanalmente a Londres 350 milhões de libras.

Outra prioridade dos legisladores após a vitória do brexit seria uma "transfusão" de fundos para o Serviço Nacional de Saúde, no valor de cem milhões de libras por semana (mais uma vez dinheiro que viria de deixar de pagar a Bruxelas). Em relação à questão da imigração, a campanha defende "acabar com o direito automático de todos os cidadãos europeus a entrarem no Reino Unido". No tema do comércio, teria que ser imediatamente introduzida uma nova lei para deixar a política comercial dos 28 e "restaurar o poder do governo britânico de controlar a sua própria política comercial".

Finalmente, a campanha do brexit defende acabar com a "supremacia da lei europeia no Reino Unido" e o fim da jurisdição dos tribunais europeus" sobre o país, permitindo, por exemplo, recuperar o "controlo sobre a segurança nacional e deportar criminosos da UE". Os que defendem a continuação da ligação a Bruxelas lembram que não são os apoiantes do brexit que estão no poder - "apesar de começarem a soar cada vez mais como se houvesse um governo alternativo do brexit à espera", disse o editor de política da BBC, Norman Smith. Boris Johnson, o ex-presidente da câmara de Londres e principal rosto do brexit, é apontado como adversário de Osborne na sucessão a Cameron.

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